Sujeito na cama com a mulher, assistindo a uma reportagem na TV falando de doenças cardíacas. Entram os comerciais. Ele começa:
— Tava aqui pensando...
— No quê?
— Meu avô morreu mais novo do que eu sou hoje.
— E?
— Meu pai tem um sopro no coração.
— Ele e muita gente.
— Isso não é perigoso?
— Tomando certos cuidados, não.
— E eu fico vendo esses programas falando de doença, fico aqui pensando nas veias se entupindo, entupindo... Começo logo a sentir umas coisas.
— Que coisas?
— Coisas. Agora, por exemplo, estou com dor no peito. Será que uma veia entupiu?
— Você é muito influenciável...
— Você acha?
— Acho.
— Assim, tipo... hipocondríaco?
— Não chega a tanto. Só influenciável.
— Então por que você não está me influenciando, e a dor no peito continua?
— Essa dor deve ser outra coisa.
— Deve ser?
— Deve ser.
— Não é certeza, né?
— Não, não é certeza. Mas deve ser outra coisa.
— Por exemplo?
— A posição em que você está sentado, todo torto. Ou gases.
— Gases?
— É. Gases. Aparece gente na emergência do hospital achando que está tendo um ataque cardíaco, com dor no braço esquerdo, angina, a pressão lá em cima, pra gente descobrir depois do elétro que a culpa é da feijoada que o cara comeu no almoço.
— Que coisa...
— Pois é.
Silêncio. Agora é ela que continua.
— Ainda dói?
— Dói. É pra eu ficar com medo?
— Não. Devem ser gases.
Ele continua olhando os comerciais na TV. Concentra-se. Aperta os olhos. Sorri. Ela sai da cama depressa, xingando.
— Credo, Álvaro, que horror!
Ele, sozinho na cama, para si:
— Eram gases. — abana as cobertas — Será que é isso que os médicos chamam de sopro — ajeita-se na cama — Deve ser isso. Passou.
— Tava aqui pensando...
— No quê?
— Meu avô morreu mais novo do que eu sou hoje.
— E?
— Meu pai tem um sopro no coração.
— Ele e muita gente.
— Isso não é perigoso?
— Tomando certos cuidados, não.
— E eu fico vendo esses programas falando de doença, fico aqui pensando nas veias se entupindo, entupindo... Começo logo a sentir umas coisas.
— Que coisas?
— Coisas. Agora, por exemplo, estou com dor no peito. Será que uma veia entupiu?
— Você é muito influenciável...
— Você acha?
— Acho.
— Assim, tipo... hipocondríaco?
— Não chega a tanto. Só influenciável.
— Então por que você não está me influenciando, e a dor no peito continua?
— Essa dor deve ser outra coisa.
— Deve ser?
— Deve ser.
— Não é certeza, né?
— Não, não é certeza. Mas deve ser outra coisa.
— Por exemplo?
— A posição em que você está sentado, todo torto. Ou gases.
— Gases?
— É. Gases. Aparece gente na emergência do hospital achando que está tendo um ataque cardíaco, com dor no braço esquerdo, angina, a pressão lá em cima, pra gente descobrir depois do elétro que a culpa é da feijoada que o cara comeu no almoço.
— Que coisa...
— Pois é.
Silêncio. Agora é ela que continua.
— Ainda dói?
— Dói. É pra eu ficar com medo?
— Não. Devem ser gases.
Ele continua olhando os comerciais na TV. Concentra-se. Aperta os olhos. Sorri. Ela sai da cama depressa, xingando.
— Credo, Álvaro, que horror!
Ele, sozinho na cama, para si:
— Eram gases. — abana as cobertas — Será que é isso que os médicos chamam de sopro — ajeita-se na cama — Deve ser isso. Passou.
Um comentário:
Opa! E esse tá aqui também! E não precisou ser adaptado. Bacana.
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