sexta-feira, dezembro 02, 2005

Apontamentos sobre o Amanhã - Rafael Reinehr


Rateei. Nasci homem!

Esse bem que poderia ser o começo de um conto ou romance, não é mesmo?

Somente nesta frase já temos muito espaço para reflexão.

Vamos fazer o que nossa tão prestigiada Ciência ordena: fracionar o todo em partes e analisar a sentença.

Rateei. Vacilei. Pisei na bola. Perdi o rumo. Errei. Falhei. Me enganei. Deixei passar. Não fui eficaz. Dormi no ponto.

Um simples palavra que consegue trazer dentro de si a potência de várias outras palavras e expressões.

Assim somos nós, icebergs flutuando na imensidão de nossas relações deixando perceber, ao olhar comum, somente a ponta. Entre as multidões, são raros aqueles que vão a fundo e se preocupam em captar nossa essência. Há uma infinitude de Ser embaixo da superfície, em um grito afogado, lutando para ser percebida. Ponto para os sensíveis, perspicazes e observadores.

Nasci. Vim a termo. Me deram à luz. Surgi. Apareci. Tomei vida. Brotei. Me fiz presente. Cheguei à Terra.

Sinônimos são diferentes que querem dizer a mesma coisa.

Assim somos nós, indivíduos singulares singrando mares e conhecendo povos distantes feitos da mesma carne. Aparências discrepantes falando línguas que – fazemos de conta – não podemos entender. Se jogarmos a âncora e nos fixarmos no plácido reflexo das águas calmas, podemos perceber que nosso objetivo é comum: felicidade.

Causamos sofrimento e, quer queira quer não, nos arrependemos, causando sofrimento.

Homem. Humano. Animal. Racional. Irracional. Criador. Criatura. Espécie. Gênero. Força. Fraqueza. Certeza. Dúvida. Homem. Mulher.

Assim somos nós, inteiro fragmentados, pedaços em continuum que vão do bem ao mal em frações infinitas do que convencionamos chamar de tempo. Somos a Cura mas também podemos ser a Doença. Somos o Céu mas também podemos ser o Inferno. Na dança incessante do fluir vital, somos a Ferramenta que constrói (ou destrói) o porvir e, não menos do que ao mesmo tempo, o Objeto Sensível que irá desfrutar, gerações com horizonte tão distante que imperceptível, do produto que a Ferramenta criar.

Somos a Guerra, mas também podemos ser a Paz e a Esperança. É o que os que ainda não estão aqui desejam.

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