sexta-feira, dezembro 02, 2005

Amarelo, branco, vermelho, preto (não negro) - Bruno Lemes

Amarelo.
Branco.
Vermelho.
Negro.
Negro? Por que não preto? É preconceituoso? Muito pelo contrário.
Incrível, há algum tempo me veio uma grande luz na mente. Finalmente, depois de muito tempo pensando de maneira errada, entendi como é racista a palavra "negro", finalmente vejo como é sim certo dizer "preto".
A começar pelo sentido original da palavra "negro": tudo o que é de pior, mais obscuro, mais sujo em algo ou alguém - magia negra, humor negro, lado negro, lista negra etc... Nunca representa coisas boas. Ah, mesmo nos dicionários mais atuais você também encontra essa definição: "Homem que trabalha muito"! Um dicionário, definindo "NEGRO" dessa forma?! Meu Deus, racismo banalizado!
"Preto é cor, negro é raça". Sempre escutei isso e, como tudo o que é implantado na nossa cabeça desde pequeno, sempre defendi essa frase. Sempre nos foi ensinado que dizer "preto" é feio, racista, e que "negro" ou "de cor" é o jeito certo de se chamar pessoas de pele escura. Aprende-se isto desde o tempo dos colonizadores, que obviamente viam os africanos como seres inferiores, essencialmente serviçais.
Já me contestaram até dizendo que se fosse definir pela cor mesmo, afro-descendentes deveriam ser chamados de "marrons", pois pretos eles não são. Ora, seguindo essa linha de raciocínio, brancos teriam que ser chamados de "rosinhas" ou "beges-claro", porque brancos cor-de-mármore eles não são. Só que no que se refere à raça pegam-se cores básicas, então nem rosa nem marrom, mas sim as cores branca, amarela, vermelha e PRETA.
Dizendo "negro" estamos cometendo dois erros condenáveis - fazendo referência de uma cor de pele a algo ruim; fazendo parecer que eles são um tipo diferente de raça (para não dizer tipo inferior de raça), que precisa ser denominada de outra forma, não através de uma cor mas sim com uma palavra de significado originalmente ruim. Mas convencer a todos de que o correto é dizer "preto" é uma tarefa difícil, são séculos e séculos de uma educação tradicionalmente racista. Hoje em dia os próprios sociólogos são contra a utilização de "negro". Infelizmente esse tipo de discussão é pouco divulgado, pois vivemos num país/mundo hipócrita, onde se prega a tal da igualdade racial. Se ela existisse realmente, não existiriam cotas para negros [ entre outros ] nas universidades. Essas cotas não são oportunidades, mas sim trancos, esmolas. Cotas socio-economicas é até "aceitável" a curtíssimo prazo, mas cota racial? Aposto que a maioria dos pretos conscientes se sentiram humilhados com essa discriminação.
Ainda sinto muito receio em dizer preto - com certeza pensarão que sou racista, afinal, sou um típico "alemão", branquelo e loiro - e também fico constrangido quando ouço outro branco dizendo "preto", ainda também me soa muito preconceituoso (e a maioria de fato é), mas aos poucos vou me livrando desse estigma. Bem aos poucos. Bem lentamente. A começar, vou me reaproximar dos meus amigos pretos - que aliás faz tempo que não vejo - e usar o termo "preto" perto deles. Daí vou perdendo o medo de parecer racista. É preciso conscientizar o país inteiro. Os pretos precisam aprender a se respeitar, somos todos racistas. Mesmo não querendo [ e talvez até não sabendo ] temos atitudes e denominações muito preconceituosas. É um vício alimentado de geração em geração.
Chega de "moreninho", "de cor", "bem moreno", "negrinho", "neguinho" e "negro".
Agora é só "preto" e, carinhosamente, "negão"!
Amarelo.
Branco.
Vermelho.
Preto.
(1º passo rumo à igualdade entre as etnias)

E aí? Preto ou negro?

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