quinta-feira, março 31, 2005

Outside the Wall

All alone, or in twos
The ones who really love you
Walk up and down outside the wall
Some hand in hand
Some gathering together in bands
The bleeding hearts and the artists
Make their stand
And when they've given you their all
Some stagger and fall after all it's not easy
banging your heart against some mad buggers Wall

by Roger Water

Prêmio Stella Awards - incrível!

O Stella Awards é um prêmio conferido anualmente aos casos mais bizarros de processos judiciais nos Estados Unidos. O prêmio tem este nome em homenagem a Stella Liebeck, que derrubou café quente no colo e processou, com sucesso, o McDonald's, recebendo quase 3 milhões de dólares de indenização. Desde então, o Stella Awards existe como uma instituição independente, publicando - e "premiando" - os casos de maior abuso do já folclórico sistema legal norte-americano. Este ano, os vencedores foram:
5º. Lugar (empatado): Kathleen Robertson, de Austin, Texas, recebeu 780.000,00 US$ de indenização de uma loja de móveis, por ter tropeçado numa criancinha que corria solta pela loja e quebrado o tornozelo. Até aí, quase compreensível, se a criança descontrolada em questão não fosse o próprio filho da Sra. Robertson.
5º. Lugar (empatado): Terrence Dickinson, de Bristol, Pennsylvania, estava saindo pela garagem de uma casa que tinha acabado de roubar. Ele não conseguiu abrir a porta da garagem, porque a automação estava com defeito. Não conseguiu entrar de volta na casa porque a porta já tinha fechado por dentro. A família estava de férias e o Sr. Dickinson ficou trancado na garagem por oito dias, comendo ração de cachorro e bebendo pepsi de um engradado que encontrou por ali. Ele processou o proprietário da casa, alegando que a situação lhe causou profunda angústia mental. Recebeu 500.000,00 US$.
4º. Lugar: Jerry Williams, de Little Rock, Arkansas, foi indenizado com 14.500,00 US$, mais despesas médicas, depois de ter sido mordido na bunda pelo beagle do vizinho. O cachorro estava na coleira, do outro lado da cerca, mas ainda assim reagiu com violência quando o Sr. Williams pulou cerca e atirou repetidamente contra ele com uma espingardinha de chumbo.
3º. Lugar: Um restaurante na Filadélfia foi condenado a pagar 113.500,00 US$ de indenização a Amber Carson, de Lancaster, Pennsylvania, após ela ter escorregado e quebrado o cóccix. O chão estava molhado porque, segundos antes, a própria Amber Carson havia atirado um copo de refrigerante no seu namorado, durante uma discussão.
2º. Lugar: Kara Walton, de Claymont, Delaware, processou o proprietário de uma casa noturna da cidade vizinha, por ter caído da janela do banheiro e quebrado os dois dentes da frente. Ela estava tentando escapar do bar sem ter que pagar o couvert (de 3,50 US$). Recebeu 12.000,00 US$, mais despesas dentárias.
1º. lugar: o grande vencedor do ano foi o Sr. Merv Grazinski, de Oklahoma City, Oklahoma. O Sr. Grazinski havia recém comprado um Motorhome Winnebago Automático e estava voltando sozinho de um jogo de futebol, realizado em outra cidade. Na estrada, ele marcou o piloto automático do carro para 100 km/h, abandonou o banco do motorista e foi para a traseira do veículo preparar um café. Quase como era de se esperar, o veículo saiu da estrada, bateu e capotou. O Sr. Grazinski processou a Winnebago por não explicar no manual que o piloto automático não permitia que o motorista abandonasse a direção. O júri concedeu uma indenização de 1.750.000,00 US$, mais um novo Motorhome Winnebago . A companhia mudou todos os manuais de proprietário a partir deste processo, para o caso de algum outro retardado mental comprar seus carros.

quarta-feira, março 30, 2005

CRÔNICA DE UM HOMEM

"Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia.
Quando tinha 16 anos tive uma namorada, mas não tinha paixão. Então
percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de viver.
Na faculdade saí com uma mulher apaixonada, mas era emocional demais. Tudo
era terrível, era a rainha dos problemas, chorava o tempo todo e ameaçava
de se suicidar. Então percebi que precisava uma mulher estável.
Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estável, mas chata. Era
totalmente previsível e nunca nada a excitava. A vida tornou-se tão
monótona que decidi que precisava uma mulher mais emocionante.
Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas não consegui acompanhá-la. Ia de
um lado para o outro em se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas
e paquerava qualquer um que aparecesse na frente. Me fez sentir tão
miserável como feliz. No começo foi divertido e eletrizante, mas sem
futuro.
Então decidi buscar uma mulher com alguma ambição.
Quando cheguei nos 31, encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa e com os
pés no chão. Decidi me casar com ela. Era tão ambiciosa que pediu o
divórcio e ficou com tudo o que eu tinha.
Hoje, com 40 anos, gosto de mulheres com peitos e bunda grandes. E só."

terça-feira, março 29, 2005

Sobreviventes... por Luis Fernando Veríssimo

"Pensando bem, é difícil acreditar que estejamos vivos até hoje! Quando éramos pequenos, viajávamos de carro, sem cintos de segurança,sem ABS e sem air-bag!Os vidros de remédio ou as garrafas de refrigerantes não tinham nenhum tipo de tampinha especial... Nem data de validade... E tinham também aquelas bolinhas de gude... Que vinham embaladas sem instrução de uso. A gente bebia água da chuva, da torneira e nem conhecia água engarrafada! Que horror! A gente andava de bicicleta sem usar nenhum tipo de proteção... E passávamos nossas tardes construindo nossas pipas ou nossos carrinhos de rolimã... A gente se jogava nas ladeiras e esquecia que não tinha freios até que não déssemos de cara com a calçada ou com uma árvore... E depois de muitos acidentes de percurso, aprendíamos a resolver o
problema... SOZINHOS! Nas férias, saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo; nossos pais às vezes não sabiam exatamente onde estávamos, mas sabiam que não estávamos em perigo. Não existiam os celulares! Incrível! A gente procurava encrenca. Quantos machucados, ossos quebrados e dentes moles dos tombos! Ninguém denunciava ninguém... Eram só "acidentes" de moleques: na verdade nunca encontrávamos um culpado. Você lembra destes incidentes: janelas quebradas, jardins destruídos, as bolas que caíam no terreno do vizinho...??? Existiam as brigas e, às vezes, muitos pontos roxos... E mesmo que nos machucássemos e, tantas vezes, chorássemos, passava rápido; na maioria das vezes, nem mesmo nossos pais vinham a
descobrir... A gente comia muito doce, pão com muita manteiga... Mas ninguém era obeso... No máximo, um gordinho saudável... Nem se falava em colesterol... A gente dividia uma garrafa de suco, refrigerante ou até uma cerveja escondida, em três ou quatro moleques, e ninguém morreu por causa de vermes! Não existia o Playstation, nem o Nintendo... Não tinha TV à cabo, nem videocassete, nem Computador, nem Internet... Tínhamos, simplesmente, amigos! A gente andava de bicicleta ou à pé. Íamos à casa dos amigos, tocávamos a campainha, entrávamos e conversávamos... Sozinhos, num mundo frio e cruel... Sem nenhum controle! Como sobrevivemos?Inventávamos jogos com pedras, feijões ou cartas... Brincávamos com pequenos monstros: lesmas, caramujos, e outros animaizinhos, mesmo se nossos pais nos dissessem para não fazer isso! Os nossos estômagos nunca se encheram de bichos estranhos! No máximo, tomamos algum tipo de xarope contra vermes e outros monstros
destruidores... Aquele cara com um peixe nas costas... (um tal de óleo de rícino). Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros, e tiveram que refazer a segunda série... Que horror! Não se mudavam as notas e ninguém passava de ano, mesmo não passando. As professoras eram insuportáveis! Não davam moleza... Os maiores problemas na escola eram: chegar atrasado, mastigar chicletes na classe ou mandar bilhetinhos falando mal da professora, correr demais no recreio ou matar aula só pra ficar jogando bola no campinho... As nossas iniciativas eram "nossas", mas as conseqüências também! Ninguém se escondia atrás do outro... Os nossos pais eram sempre do lado da Lei quando transgredíamos as regras! Se nos comportávamos mal, nossos pais nos colocavam de castigo e, incrivelmente, nenhum deles foi preso por isso! Sabíamos que quando os pais diziam "NÃO", era "N Ã O". A gente ganhava brinquedos no Natal ou no aniversário, não todas às vezes que ia ao supermercado... Nossos pais nos davam presentes por amor, nunca por culpa... Por incrível que pareça, nossas vidas não se arruinaram porque não ganhamos tudo o que gostaríamos, que queríamos... Esta geração produziu muitos inventores, artistas, amantes do risco e ótimos "solucionadores" de problemas... Nos últimos 50 anos, houve uma desmedida explosão de inovações, tendências... Tínhamos liberdade, sucessos, algumas vezes problemas e desilusões, mas tínhamos muita responsabilidade... E não é que aprendemos a resolver tudo!!! E sozinhos... Se você é um destes sobreviventes...

"PARABÉNS!!! VOCÊ CURTIU OS ANOS MAIS FELIZES DE SUA VIDA..."

segunda-feira, março 28, 2005

A semana foi santa, mas a carne foi herege!




O que rolava quando você nasceu!

(Clique no título e saiba de tudo que se passava quando você nasceu)

quarta-feira, março 23, 2005

Trecho do livro "UM CADÁVER DE POETA" de Alvarez de Azevedo

I

De tanta inspiração e tanta vida
Que os nervos convulsivos inflamava
E ardia sem conforto.. .
O que resta? uma sombra esvaecida,
Um triste que sem mãe agonizava . .
Resta um poeta morto!

Morrer! e resvalar na sepultura.
Frias na fronte as ilusões—no peito
Quebrado o coração!
Nem saudades levar da vida impura
Onde arquejou de fome . . sem um leito!
Em treva e solidão!

Tu foste como o sol; tu parecias
Ter na aurora da vida a eternidade
Na larga fronte escrita. . .
Porém não voltarás como surgias!
Apagou?se teu sol da mocidade
Numa treva maldita!

Tua estrela mentiu. E do fadário
De tua vida a página primeira
Na tumba se rasgou...
Pobre gênio de Deus, nem um sudário!
Nem túmulo nem cruz! como a caveira
Que um lobo devorou!. . .

Levem ao túmulo aquele que parece um cadáver! Tu não pesaste sobre a ferra: a terra te seja leve!

terça-feira, março 22, 2005

Último Romance - Los Hermanos

"Eu encontrei
quando não quis
mais procurar
o meu amor
E quanto levou
foi pr'eu merecer
antes um mês
e eu já não sei...
E até quem me vê
lendo o jornal
na fila do pão
sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá
que é tarde de mais
que é tão diferente assim
Do nosso amor
a gente é que sabe...
(ahhh vaaai)
Me diz o que é o sufoco
que eu te mostro alguém
a fim de te acompanhar
E se o caso for de ira à praia
eu levo essa casa numa sacola!
Eu encontrei
e quis duvidar
tanto clichê
deve não ser
Você me falou
pr'eu não me não me preocupar
ter fé e ver
coragem no amor
E só de te ver
eu penso em trocar
a minha TV
num jeito de te levar...
A qualquer lugar
que você queira
e ir onde o vento for
que pra nós dois
sair de casa já é se aventurar
(ahhhhhhh vaaaai)
Me diz o que é sossego
que eu te mostro alguém
a fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
eu sigo essa hora
e pego carona...
Pra te acompanhar!"

ps: Isso mesmo, sem idéias...

segunda-feira, março 21, 2005

O homem veio do Repolho

Renuncio meus ancestrais: um macaco comeu meu dedo!

How could I know (Como eu poderia saber)- Raul

Reformulation, rearrange the game you're inReformulação, rearranja o jogo que você está dentro

Let us start from the begin
Vamos começar do começo

With confidence you'll winCom confiança você vai ganhar

That's the reason you were born
Essa é a razão que você nasceu

Cause Jesus Christ, man, won't be coming
Porque Jesus Cristo, cara, não estará vindo

Back no more
De volta nunca mais

He set up his proper laws
Ele estabeleceu suas leis apropriadas

And you know well that he did just what
E você sabe bem que ele fez justamente o que

He should have done
Ele deveria ter feito

As I was growing and my hair was getting longer
Enquanto eu estava crescendo e meu cabelo ficando comprido

I was feeling so much stronger
Eu estava me sentindo tão mais forte

I could carry my guitar, and I knew
Eu podia carregar meu violão, e eu sabia

That I could sing!
Que eu podia cantar!

But hey, how could I know?
Mas hei, como eu poderia saber?

The wind would blow with the rain
O vento poderia assoprar com a chuva

Hey, how could I see
Hei, como eu poderia ver

What would they make out of me?
O que eles poderiam fazer sem mim?

When I was little, used to dream I was a king
Quando eu era pequeno, costumava sonhar que eu era um rei

Now they taught me how to sing
Agora eles me ensinaram como cantar

Think I've got most everything
Acho que eu tenho quase tudo

I could ever ask for
Eu poderia sempre perguntar

You've got your pencil, your guitar,
Você tem seu lápis, seu violão,

Your amplifier
Seu amplificador

Searching for the lousy liars
Procurando pelos mentirosos nojentos

You will set this world on fire
Você vai colocar este mundo no fogo

Like Nero did to Rome!! Yeah!
Como Nero fez com Roma!! Sim!

But hey, how could I know
Mas hei, como eu poderia saber

My eyes could see in the dark?
Meus olhos poderiam ver no escuro?

Hey, don't press on me
Hei, não me pressione

I'm not to blame can't you see?
Eu não vou culpar, não consegue ver?

It's been so long now
Tem sido assim por muito tempo até agora

Since the latest "red" has gone
Desde que o último “vermelho” foi embora

Who knows you'll be the next
Quem sabe você vai ser o próximo

To go down in history.
Para ir pra baixo na história.

sexta-feira, março 18, 2005

Gótamim Xataréa? (ps: língua Tupi)

"Quando eu vim para esse mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela ê meus camaradas
Eu nasci assim eu cresci assim e sou mesmo assim
Vou ser sempre assim Gabriela, sempre Gabriela
Quem me batizou quem me nomeou
Pouco me importou é assim que eu sou
Gabriela sempre Gabriela
Eu sou sempre igual não desejo o mal
Amo o natural etc e tal
Gabriela sempre Gabriela"


Gal Costa

E se quiser é assim...

Matar, matar, matar: eis a questão!

(Clique no título e meta bala)

quinta-feira, março 17, 2005

Germano @ Las Lenhas (17.01.05)

Set gravado ao vivo na edição de aniversário da Las Lenhas. Germano entrou logo depois do Patrick DSP e a pista respondeu muito bem! (Clique no link e faça o download da música)

Canto para Minha Morte R.Seixas

"Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeco de uma pessoa pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela ultima vez. A morte, surda, caminha ao meu lado e eu nao sei em que esquina ela vai me beijar. Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque
Na musica que eu deixei para compor amanha? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, e que está em algum lugar me esperando. Embora eu ainda nao a conheca? Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só por mim. E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e nao desejo, mas tenho que encontrar.
Vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo morte, morte, morte. Que talvez seja o segredo desta vida. Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida. Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida? Existem tantas... um acidente de carro. O coracao que se recusa a bater no proximo minuto. A anestesia mal aplicada. A vida mal vivida, a ferida malcurada, a dor já envelhecida. O cancer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe
Um escorregao idiota, num dia de sol, a cabeca no meio-fio...
Oh morte, tu que es tao forte, que matas o gato, o rato e o homem. Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar. Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva. E que a erva alimente outro homem como eu porque eu continuarei neste homem. Nos meus filhos, na palavra rude que eu disse para alguem que nao gostava. E até no uisque que eu nao terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só por mim. E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e nao desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo morte, morte, morte . Que talvez seja o segredo desta vida. Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida..."

quarta-feira, março 16, 2005

Mentira - Mano Chao

Mentira lo que dice
Mentira lo que dá
Mentira lo que hace
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Mentira lo que cuece
Bajo la oscuridad
Mentira el amor
Mentira el sabor
Mentira la que manda
Mentira comanda
Mentira la tristeza
Cuando empieza
Mentira no se va
Mentira, Mentira
La Mentira...
Mentira no se borra
Mentira no se olvida
Mentira, la mentira
Mentira cuando llega
Mentira nunca se va
Mentira la mentira
Mentira la verdad
Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?


¿Por qué será?

terça-feira, março 15, 2005

As vantagens da debilidade - Cioran

O indivíduo que não ultrapassa sua qualidade de belo exemplar, de modelo acabado, e cuja existência confunde-se com seu destino vital, coloca-se fora do espírito. A masculinidade ideal – obstáculo à percepção das nuanças – comporta uma insensibilidade em relação ao sobrenatural cotidiano, de onde a arte extrai sua substância. Quanto mais natureza se é, menos se é artista. O vigor homogêneo, não diferenciado, opaco, foi idolatrado pelo mundo das lendas, pelas fantasias da mitologia. Quando os gregos entregaram-se à especulação, o culto ao efebo anêmico substituiu o dos gigantes; e os próprios heróis, tolos sublimes no tempo de Homero, tornaram-se, graças à tragédia, portadores de tormentos e de dúvidas incompatíveis com sua rude natureza.
A riqueza interior resulta dos conflitos que se tem consigo mesmo; mas a vitalidade que dispõe plenamente de si mesma só conhece o combate exterior, a animosidade com o objeto. No macho, a quem uma dose de feminilidade debilita, afrontam-se duas tendências: por sua faceta passiva, capta todo um mundo de abandonos; por sua faceta imperiosa, converte sua vontade em lei. Enquanto seus instintos permanecem inalterados, só interessa à espécie; quando uma insatisfação secreta insinua-se neles, transforma-se em conquistador. O espírito o justifica, o explica e o desculpa e, situando-o na categoria dos tolos superiores, abandona-o à curiosidade da História – investigação da estupidez em marcha...
Aquele para quem a existência não constitui um mal ao mesmo tempo vigoroso e vago, jamais saberá instalar-se no âmago dos problemas nem conhecer seus perigos. A condição propícia à busca da verdade acha-se a meio caminho entre o homem e a mulher: as lacunas da “virilidade” são a sede do espírito... Se a fêmea pura, da qual não se poderia suspeitar nenhuma anomalia sexual ou psíquica, está mais vazia interiormente que um animal, o macho intacto esgota a definição do “cretino”. Considere qualquer pessoa que tenha prendido sua atenção ou excitado seu fervor: em seu mecanismo algo se desarranjou em seu proveito. Desprezamos, com razão, os que não aproveitaram seus defeitos, os que não exploraram suas carências, e não se enriqueceram com suas perdas, como desprezamos todo homem que não sofra por ser homem ou simplesmente por ser. Não se poderia infligir a alguém ofensa mais grave do que chamá-lo de “feliz”, nem lisonjeá-lo mais do que atribuindo-lhe um “fundo de tristeza”... É que a alegria não está ligada a nenhum ato importante e que, salvo os loucos, ninguém ri quando está só.
A “vida interior” é patrimônio dos delicados, desses abortos trêmulos, submetidos a uma epilepsia sem quedas nem baba. O ser biologicamente íntegro desconfia de sua “profundidade”, é incapaz dela, a vê como uma dimensão suspeita que prejudica a espontaneidade de seus atos. Não se engana: com a concentração sobre si mesmo começa o drama do indivíduo – sua glória e seu declínio; isolando-se do fluxo anônimo, do transcorrer utilitário da vida, emancipa-se dos fins objetivos. Uma civilização está “afetada” quando os delicados lhe dão o tom; mas, graças a eles, triunfou definitivamente sobre a natureza e desmorona. Um exemplar extremo de refinamento reúne em si o exaltado e o sofista: não adere mais a seus impulsos, cultiva-os sem crer neles; é a debilidade onisciente das épocas crepusculares, prefiguração de eclipse do homem. Os delicados nos deixam entrever o momento em que as porteiras serão perturbadas por escrúpulos de estetas; em que os camponeses, sobrecarregados pelas dúvidas, não terão mais vigor para empunhar o arado; em que todos os seres, corroídos pela clarividência e vazios de instintos, se extinguirão sem forças para ter saudades na noite próspera de suas ilusões...

As loucuras de Blake







As mulheres de Dali




segunda-feira, março 14, 2005


para não dizer que eu não falei de flores...


Três filmes e um livro

Filme
1. "Mestre dos mares". Após ser atacado por um navio inimigo mais poderoso, um capitão se vê dividido entre tentar capturar seu inimigo ou retornar para tratar dos feridos de sua tripulação. Dirigido por Peter Weir (O Show de Truman) e com Russell Crowe no elenco. Vencedor de 2 Oscars. Tudo sobre em http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/mestre-dos-mares/mestre-dos-mares.htm. Nota: 8.2
2. "Rei Arthur". Arthur decide permanecer na Bretanha, na intenção de liderar a ilha contra ameaças externas e para uma nova era de glórias. Dirigido por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) e com Clive Owen, Keira Knightley e Stellan Skarsgard no elenco. Tudo sobre em http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/rei-arthur/rei-arthur.htm. Nota: 8.5
3. "Piratas do Caribe". Após ter seu navio furtado por piratas, que também sequestraram a filha do governador, um pirata e um amigo da jovem decidem partir em seu resgate. Porém o que eles não sabem é que uma terrível maldição recaiu sobre o navio-pirata procurado. Dirigido por Gore Verbinski (O Chamado) e com Johnny Depp, Orlando Bloom, Geoffrey Rush e Jonathan Pryce no elenco. Recebeu 5 indicações ao Oscar. Tudo sobre em http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/piratas-do-caribe/piratas-do-caribe.htm. Nota: 6.5

Livro
1. "O Nariz" - Nicolai Vassilievitch Gogol. É a história de um barbeiro que, no café da manhã, acha um nariz dentro do pão. Uma história surrealista onde se vê o dono do nariz atrás do próprio nariz e do barbeiro tentando livrar-se do achado. Nota: 6.7

ps: Clique no título e faça o download de "Taras Bulba" de Gogol

sábado, março 12, 2005

Sim! O homem é carne e água



Parabéns ao dia das mulheres. 08.03.05

quinta-feira, março 10, 2005

"Davi" de David Bernini


" Não existirá nunca uma pessoa que possua
algo mais que seus próprios pensamentos.
Nem as pessoas, nem os lugares, nem as
coisas poderão ser possuídas por muito tempo.
Percorremos um trecho do caminho
com eles mas, cedo ou tarde,
todos teremos que nos apoderar de nossas
verdadeiras posses, o que aprendemos,
o que pensamos e seguir
pelas curvas solitárias do caminho."

Richard Bach

quarta-feira, março 09, 2005

Goya


Manejando a través del infierno - Charles Bukowski



la gente está exhausta, infeliz y frustrada, la gente es
amarga y vengativa, la gente está engañada y temerosa,
la gente es iracunda y mediocre
y yo manejo entre ellos en la autopista y ellos
proyectan lo que les han dejado de sí mismos
en su manera de manejar.
algunos más odiosos, algunos más disimulados
que otros.
a algunos no les gusta que los pasen, e intentan
evitar que otros los hagan.
algunos intentan bloquear los cambios de carril.
algunos odian los autos más nuevos, más caros.
otros en esos autos odian los autos más viejos.

la autopista es un circo de emociones
chiquitas y baratas, es
la humanidad en movimiento, la mayoría
viniendo de un lugar que
odia
y yendo a otro lugar que odia todavía
más.
las autopistas nos enseñan en qué
nos hemos convertido y
muchos de los choques y muertes son la colisión
entre seres incompletos, entre vidas penosas
y dementes.

cuando manejo por las autopistas veo el alma de
mi ciudad y es fea, fea, fea: los vivos han
estrangulado
su corazón.

A Bicicleta

Animação muito engraçada sobre um menininho bastante revoltado com autoridades. (clique no título e veja a animação)

"Hasta la vista, baby Jesus"

Uma ótima sátira do Filme "Exterminador do Futuro", em que ele foi enviado ao passado para proteger Jesus. (Clique no título e veja o filme)

Discurso de um Pastor

Filmagem feita secretamente durante um discurso em que um pastor ensina como manipular “o povo”. Procedência desconhecida. (clique no título e veja o charlatanismo)

T. Todorov

"Nada é mais perigoso que a certeza de ter razão. É preciso idolatrar a dúvida."

Crítico francês de origem búlgara. Estudou na Universidade de Sofía. Desde 1982 se consagrou em estudos de fenômenos históricos e aspectos da filosofia moral.
(Clique no título e veja a interpretação de Antônio Abujamra)

terça-feira, março 08, 2005

Tudo por Sexo

O que há em comum no desejo de ganhar um salário maior ou de escrever uma poesia? Para Geoffrey Miller, especialista em psicologia evolutiva e autor do livro A Mente Seletiva, a resposta está no sexo. Isso mesmo. A necessidade de tornar-se mais atrativo sexualmente seria a chave para compreender até o surgimento da sofisticada cultura humana.
Partindo do princípio básico de que a reprodução é o instinto básico em todos os seres, Miller acredita que a mente desenvolveu, durante a evolução, diferentes “estratégias reprodutivas”. Se os homens pré-históricos precisavam caçar animais para atrair suas parceiras, os modernos Homo sapiens compram iates ou escrevem sinfonias. A evolução também explicaria, por exemplo, por que os homens seriam mais promíscuos que as mulheres quanto ao sexo. “São diferentes estratégias reprodutivas”, diz Miller, “enquanto as mulheres normalmente estão mais interessadas na qualidade de seus parceiros (segundo ele, pela necessidade de criar seus filhos), os homens geralmente são menos exigentes na escolha de quem levar para a cama.” Antes de ser acusado de usar a ciência em prol do machismo, ele diz que essa situação muda quando o homem escolhe a mãe de seus filhos. “Aí ele se torna tão exigente quanto as mulheres”, diz Miller, que conversou com a Super sobre seu trabalho.

O que é a psicologia evolutiva?

Ela tenta entender a natureza humana perguntando como nossos ancestrais sobreviveram e se reproduziram. Quanto melhor nós entendermos nossa evolução, melhor nós entenderemos nossos cérebros, nossas mentes e o comportamento moderno. A psicologia evolutiva procura compreender, por exemplo, por que buscamos status, achamos alguém sexualmente atraente, fazemos amigos, fofocamos e outras respostas para perguntas que tradicionalmente foram negligenciadas pela psicologia. O que estamos compreendendo agora é que boa parte do nosso comportamento é produzido por circuitos do cérebro que evoluíram, originalmente, para que os nossos ancestrais se tornassem sexualmente atrativos.

Ou seja, tudo tem uma base sexual?

Os comportamentos humanos evoluíram, sim, devido ao sexo. Mas isso não significa que hoje eles tenham uma conotação sexual. Os pássaros não cantam apenas para o acasalamento, mesmo porque essa habilidade tenha tido originalmente essa função. Não deve ser à toa que nos interessamos por música, dança e humor depois da puberdade, no momento exato em que começamos a estar predispostos a atrair parceiros sexuais. Em seu livro A Mente Seletiva, o senhor também trata das diferenças entre homens e mulheres quanto ao comportamento sexual.

Enfoco as semelhanças entre homens e mulheres, enquanto outros psicólogos evolucionistas normalmente prestam atenção nas diferenças. As diferenças são importantes, mas podem ser exageradas. Homens podem potencialmente ter muitos filhos com muitas mulheres. Mulheres podem somente ter, no máximo, cerca de uma dezena de filhos. Isso faria, portanto, que elas sejam mais interessadas na qualidade dos seus parceiros que na quantidade. Mas apesar de os homens, em geral, serem menos exigentes na escolha de suas parceiras, isso muda quando ele tem que escolher alguém com quem viver por muito tempo. Tornam-se quase tão exigentes quanto as mulheres. Isso não é comum na natureza, onde apenas a fêmea costuma ser exigente e o macho acasala com todas as fêmeas que pode conseguir.

O que torna uma pessoa interessante ou sexualmente atrativa?


Quando se trata de apaixonar-se, há muitas evidências de que nós nos importamos muito com a inteligência, a amabilidade, a criatividade e o senso de humor. Enquanto os animais focam basicamente a aparência física e um ritual de cortejo simples, estamos interessados também nos pensamentos e sentimentos do nosso parceiro. É por isso que a seleção sexual gerou os pensamentos e sentimentos humanos. Preocupa-nos muito, por exemplo, se alguém é interessante para conversar. A maioria do cortejo humano é verbal, e eu calculo que os amantes trocam, em média, cerca de 1 milhão de palavras antes de manter relações sexuais que acabem em gravidez. Isso deu à seleção sexual enorme poder para formar a linguagem humana e qualquer outro meio para expressar emoções.

Além da linguagem, “seleção sexual” também teria importante papel no desenvolvimento das artes plásticas, da música e da literatura?

Foi por isso que escrevi A Mente Seletiva. Acho que é importante reconhecer que todas essas manifestações do comportamento são relacionadas com exibir-se, como formas de conquistar status social e de atrair parceiros. Daí meu argumento de que tudo isso evoluiu, em parte, por conta da seleção sexual. Isso parece razoável porque a maioria das características mais bonitas e impressionantes dos seres vivos – as flores, a cauda do pavão, o som dos rouxinóis – é também fruto da seleção sexual. A teoria da seleção sexual diz que somos atraídos pelos trabalhos artísticos mais difíceis e custosos de fazer, em termos de tempo, energia e capacidade. Acredito que isso define boa parte das nossas preferências estéticas. Nosso senso de belo na arte evoluiu para que pudéssemos escolher os artistas mais talentosos como parceiros sexuais. Há exemplos disso acontecendo em outras espécies. Há pássaros na Austrália que constroem ninhos com pedras e conchas. As fêmeas passam, fazem uma inspeção de cada ninho e acasalam com o macho que construiu o ninho mais bonito. Assim, os genes para construir ninhos bonitos espalharam-se através dessa espécie de pássaros. Meu livro tenta entender como algumas das aptidões que mais valorizamos, como arte, surgirem de maneira similar

O que, no comportamento humano, poderia ser determinado pela seleção sexual?

A seleção sexual determinou nossa necessidade de status, prestígio e respeito social. Status não é tão útil para a sobrevivência, mas é muito importante para a reprodução. Quando competimos no local de trabalho, nós estamos buscando status do mesmo jeito que nossos ancestrais tentaram alcançar status sendo bons caçadores ou contadores de histórias. Ou seja: estamos sempre atuando para impressionar e atrair parceiros sexuais. Nossa cultura não está separada da nossa evolução biológica.

O senhor acredita que sua teoria poderia ajudar outras ciências humanas. Para a economia, por exemplo, qual seria a contribuição dela?

Muitos aspectos importantes da economia não são explicados muito bem pelos economistas. Eles não conseguiram explicar, por exemplo, por que compramos artigos de luxo ou por que trabalhamos para ganhar mais do que precisamos para sobreviver. Todos esses fenômenos são resultado da seleção sexual. Em economias modernas, nós não adquirimos status caçando animais ou alegando ter poderes espirituais, mas por meio da ascensão profissional. Isso explica, também, por que os homens são mais ambiciosos financeiramente do que as mulheres – afinal, eles são propensos a ter mais parceiras. Nós não somos conscientes de tudo isso, claro, mas a maioria de nós se comporta exatamente de acordo com a teoria de Darwin.

Se sua teoria baseia-se no instinto de reprodução, como o senhor explicaria a homossexualidade?

Eu não tenho uma explicação para a homossexualidade. Ela ainda é um mistério do ponto de vista evolutivo e, até onde eu sei, ninguém tem uma explicação satisfatória.


Sobre Geoffrey Miller: Professor Assistente de Psicologia Evolutiva da Universidade do Novo México, em Albuquerque, Estados Unidos. Tem 37 anos, é autor do livro A Mente Seletiva, em que propõe que a cultura humana surgiu da necessidade que temos de atrair parceiros sexuais. Quando não está ensinando, gosta de pintar, esquiar e andar de bicicleta.

Seja crítico, não crédulo

“Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e estabelecidas.” Feuerbach

segunda-feira, março 07, 2005

Não tenho livre-arbítrio, e isso é ótimo.

É meu cérebro que controla meu comportamento. Ele é, como toda matéria, constituído inteiramente de elementos químicos. Ele é extraordinariamente complexo, com muitos componentes, todos interconectados em um padrão confuso e ainda pouco compreendido. Não obstante quão complicado algo seja, permanece o fato de que em um dado momento, este algo estará em um dado estado de organização. Os elementos químicos estão ligados em combinações particulares, e a energia e a matéria estão movendo-se em direções particulares.
Algum estímulo chega a mim vindo do ambiente. Este é captado pelos meus sentidos e o sinal é enviado ao meu cérebro. O sinal interage com meu cérebro, alterando seu estado físico e químico, tendo como resultado alguma reação de minha parte. Meu corpo, então, segue as instruções dadas pelo cérebro a respeito do que fazer. Houve algum livre-arbítrio nisso? Não, nenhum.
Alguém conta uma piada. Ouço-a. As vibrações sonoras da piada chegam ao meu cérebro através de meus ouvidos e são traduzidas em atividade eletroquímica. As regiões do meu cérebro responsáveis pela linguagem reconhecem o significado das palavras. A piada, que diz “Estas mulheres, como as concebo, são-me aprazíveis”, baseia-se na compreensão da ambigüidade do som cacofônico destas palavras, que podem significar “como as considero” ou “como-as com sebo”. Percebendo que a ambigüidade sonora é jocosa, sou capaz de entender a piada. Meu cérebro registra a hilaridade da piada, e então rio. Mas não decido rir conscientemente. O estímulo da piada teve como resposta meu riso.
Poucos minutos depois, ouço a mesma pessoa contar a mesma piada a outrem. Desta vez, não rio; não rio porque já ouvi esta piada anteriormente. Meu cérebro foi quimicamente alterado na primeira vez em que a ouvi, e agora o som da piada está interagindo com um cérebro que já não é mais o mesmo.
Apesar disso, às vezes tenho a sensação de que realmente tomo decisões. Estou numa loja tentado a comprar um par de óculos de sol, mas não consigo decidir se realmente valem o preço que preciso pagar por eles. Fico ruminando e remoendo sobre a decisão, e então deixo a loja sem comprá-los. Volto para casa pensando o tempo todo se fiz a coisa certa. Ainda assim, não há livre-arbítrio envolvido, mas apenas a ilusão de um.
Era certo que não iria comprá-los. Meu cérebro estava em um estado químico particular quando a oportunidade de comprar os óculos chegou, e dada a combinação particular de circunstâncias – o humor em que estava, a iluminação da loja, o conhecimento de meu estado financeiro –, era certo que decidiria contra o investimento. Minha mente consciente, entretanto, não sabia qual seria a decisão final, e aquilo que senti conscientemente foi apenas a agonia da decisão. Tais decisões difíceis são muito raras.
Algumas pessoas revoltam-se contra a conclusão de que não temos livre-arbítrio. Alegam que isso é deprimente, por algum motivo. Nunca me explicaram, apesar de eu ter perguntado muitas vezes, por que deveria me sentir deprimido ao descobrir que não tenho livre-arbítrio. A idéia de que não temos livre-arbítrio é uma conclusão lógica que pode ser inferida a partir do simples fato de que o cérebro é feito de matéria, e que este interage com o mundo através dos sentidos.
Vejo o mundo em que vivo como um lugar grande e complexo. Conseqüentemente – apesar de este possuir um certo e confortante grau de previsibilidade – nunca saberei ao certo qual será o próximo estímulo que irei experimentar. Ademais, não tenho acesso a tudo que meu cérebro está fazendo; deste modo, mesmo se pudesse prever os acontecimentos, ainda não poderia prever qual seria minha reação a eles. A vida é uma interessante experiência tridimensional, com visões, sons, cheiros, sabores e sentimentos. Por que deveria reclamar por não ter livre-arbítrio se possuo a perfeita ilusão de tê-lo, e o mundo é tão encantador? De que modo ter livre-arbítrio poderia me tornar mais feliz?
As pessoas falam sobre quão maravilhoso é o fato de termos evoluído um livre-arbítrio. Algumas consideram o livre-arbítrio algo tão estupendo que as convence de que um deus deve ter criado os seres humanos, e que o livre-arbítrio é alguma mágica especial que os homens possuem. Na verdade, não evoluímos um livre-arbítrio absolutamente; em vez disso, evoluímos a consciência e a ilusão de um livre-arbítrio. Freqüentemente, para nós, de fato parece que poderíamos ter decidido agir de um modo diferente do qual agimos.
Então por que evoluímos a ilusão de um livre-arbítrio? Parcialmente, isso está relacionado ao fenômeno da consciência, mas também ao auto-engano. Se conseguir enganar a mim mesmo, pensando que sou uma boa pessoa, então terei muito mais êxito em enganar os outros e fazê-los pensar o mesmo. Na realidade, no fundo, todos os nossos instintos atuam em função da auto-satisfação. Apenas sou uma boa pessoa porque, em longo prazo, sê-lo me é conveniente. Se me convencer profundamente de que sou uma pessoa boa, então não irei ceder à tentação de ser mau em troca de uma vantagem de curto prazo. Serei uma pessoa boa de modo consistente, e os benefícios da bondade são muito maiores àqueles que agem assim. A ilusão do livre-arbítrio faz sentir que estou escolhendo ser bom, e, se estou escolhendo ser bom, tendo a escolha de ser mau, então devo ser realmente uma pessoa boa, certo?
Pessoas que foram hipnotizadas para gritar “Golaço!” com toda a força todas vezes que alguém usasse a palavra “Chute” darão motivos totalmente espúrios se forem questionadas sobre o motivo de terem gritado. Elas fazem o que fazem apesar de não saberem o porquê. A ilusão do livre-arbítrio nos protege de nossos verdadeiros motivos. A psicologia evolutiva é em grande parte o estudo de nossos motivos subconscientes. Aqueles que a estudam constatam repetidamente que nossos motivos simplesmente acontecem de coincidir com a estratégia que maximizaria o número de genes que poderão ser repassados. Homens não escolhem pensar que mulheres de vinte anos são mais atraentes que as de oitenta anos – simplesmente pensam assim. E simplesmente acontece que homens que pensam assim podem transmitir mais genes, pois mulheres de oitenta anos não podem engravidar. Isso não é coincidência. Similarmente, pessoas que foram enganadas por irmãos têm muito mais chances de conceder perdão do que aquelas que foram enganadas por indivíduos sem parentesco. O perdoador potencial compartilha genes com seus irmãos, e por isso há um interesse genético compartilhado. A pessoa que foi enganada pode sentir que tem a opção de não perdoar seu irmão, mas perdoar seu amigo, contudo não tem. A ilusão do livre-arbítrio evita que o indivíduo perceba a verdade, e assim aja mais eficientemente em função de seus genes. Se o indivíduo soubesse a verdade, poderia começar a agir contrariamente aos interesses de seus genes. Talvez algumas pessoas no passado tenham feito isso, mas provavelmente não se tornaram nossos ancestrais (mas, ainda assim, não tinham livre-arbítrio).
Bem, então não tenho livre-arbítrio. Posso sentar-me e aproveitar esta viagem de montanha-russa que é a vida. Nem mesmo sei o que farei daqui a pouco. Interessante, não?
Nikolas Lloyd - Filósofo

domingo, março 06, 2005

Despair


Rave: Ritual tribal contemporâneo


Rituais tribais existem desde os primórdios da humanidade. As sociedades tribais arcaicas utilizavam os rituais como forma sagrada de conexão com a natureza e seus deuses. Através de danças coletivas, música repetitiva, ervas para abertura da percepção, entre outros ritos, os povos tribais celebravam e se conectavam com os aspectos transcendentais da vida. A vida pulsando em Gaia.

Quando o ponto de conexão e sociabilidade entre os seres humanos se dá através da ressonância de afetos, da similaridade do modo de experimentar e vivenciar a vida, estamos diante de uma tribo; na medida em que a intenção da convivência é genuína e não imposta por alguma lei.

A história da civilização, a formação dos estados, a industrialização, e todas as leis e instituições hierárquicas – religiosa, política, econômica - aos poucos foram eliminando os aspectos tribais das relações, através da domesticação, catequização, e imposição de valores e verdades a fim de beneficiar as instâncias de poder e comando.

De selvagens, tribais e guerreiros, os habitantes de Gaia transformaram-se em um grande e maciço rebanho de ovelhas. Vidas foram sugadas através das leis, instituições e a imposição de um tempo artificial, a fim de homogeneizar as vidas do rebanho e conseqüentemente facilitar o controle do poder.

A natureza foi perdendo sua soberania, os próprios humanos que antes a veneravam começaram a destruí-la e explorá-la. Os rituais deixaram de ser tribais e pagãos, dando origem a celebrações religiosas institucionalizadas de caráter transcendental, nas quais a desvalorização do corpo e da vida telúrica transformaram-se em realidade. O rebanho agora não celebra a vida, e sim, a “vida além da vida”. Com o fim dos rituais e celebrações tribais, deu-se início a era das celebrações mórbidas conduzidas por ideais acéticos.

Final do século XX, a humanidade chegando ao seu limite de artificialidade - através do desenvolvimento tecnológico, da ausência de relação com a natureza de Gaia, do rebanho/homem sendo conduzido por valores competitivos e progressistas - dá um “salto quântico em ondas espirais”, com o surgimento no final da década de 80 na Inglaterra das primeiras raves.

Com grande semelhança às cerimônias indígenas religiosas dos índios norte americanos Pow wows, tem-se início o retorno do sentido tribal e transcendental através da música eletrônica e a sua estrutura repetitiva – remetendo aos sons tribais produzidos durantes os rituais – o DJ como um xamã, conduzindo o êxtase e a vibração. A volta do paganismo e seu aspecto hedonista, na medida em que as relações entre os freqüentadores estão além de controles e comandos institucionais.

O ciberespaço como superfície de afeto e trocas de informações entre os ravers, Gaia pulsando com os fluxos de informações e conexões de seus habitantes.

Este ritual contemporâneo evidencia a transformação sem precedentes que vivenciamos, pois se trata de um ritual tribal planetário gerado somente e através da tecnologia, possuindo características idênticas em qualquer região de Gaia. Cidades nômades são formadas - em lugares onde há predominância da natureza - por alguns dias e vidas compartilhadas durante este ritual. Estamos diante de um forma de zona autônoma temporária (TAZ), evidenciando o aspecto anárquico e caótico que as raves apresentam, por tratarem de encontros e trocas de afetos sem controles e leis.

Eis a tecnologia proporcionando um retorno ao arcaico. Habitantes de Gaia retornam às suas condições de selvagens, assim como a natureza recupera seu aspecto soberano. Embora em lugares naturais e selvagens, as raves possuem a artificialidade em sua essência, visto que é a tecnologia o elemento que viabiliza este ritual.

É através do ciberespaço que as trocas de informações, como detalhes de horas e locais são realizados. A música é eletrônica, produzida através de softwares, as imagens projetadas são criadas também através de softwares, a importância da estética do corpo, a droga (MDMA) para estímulo e abertura da percepção é sintética e produzida em laboratórios, tudo isso gerando um ritual pós-moderno de alguns dias, onde os habitantes de Gaia dançam e celebram coletivamente. O retorno do arcaico, na medida em que os principais aspectos dos rituais tribais ficam evidenciados.

Consumo excessivo de drogas, apropriação da rave como produto de consumo e alienação, coexistem com o movimento refletindo a atual sociedade que habita Gaia. Assim como os rituais tribais arcaicos refletiam cada tribo, a rave sendo o ritual tribal contemporâneo vai refletir a atual sociedade planetária. Impossível falar da atual sociedade sem falar de excesso de consumismo.

Rave como levante, zona autônoma temporária de sociabilidade humana, linha de fuga, subversão, anarquismo caótico, nomadismo, tribo, coletividade, festejo, celebração, paganismo, xamanismo, desterritorialidade, ritual. A era pós-moderna de Gaia e o surgimento do neo tribalismo.

"A TAZ envolve um crescimento do manso para o selvagem, um retorno que é, igualmente, um passo a frente. Uma lógica do caos, um projeto de elevados ordenamentos de consciência ou simplicidade de vida que se aproxima em um surfar nas ondas dianteiras do caos, de um complexo dinamismo. A TAZ é uma arte de vida em contínuo surgimento, selvagem, mas gentil...” Hakim Bey

sexta-feira, março 04, 2005

Todo mundo nasce um dia

Clique no título e veja o fim de mundo que é Alto Paraguai - MT, onde um dia eu nasci.

My Immortal - Evanescence

i'm so tired of being here
(Estou tão cansada de estar aqui)
suppressed by all of my childish fears
(Reprimida por todos os meus medos infantis)
and if you have to leave
(E se você tiver que ir)
i wish that you would just leave
(Eu desejo que você vá)
because your presence still lingers here
(Porque a sua presença ainda persiste aqui)
and it won't leave me alone
(E isso não vai me deixar sozinha)

these wounds won't seem to heal
(Essas feridas não vão cicatrizar)
this pain is just too real
(Essa dor é bem real)
there's just too much that time cannot erase
(Há muita coisa que o tempo não pode apagar)

when you cried i'd wipe away all of your tears
(Quando você chorasse eu ia limpar todas as suas lágrimas)
when you'd scream i'd fight away all of your fears
(Quando você gritasse eu lutaria contra todos os seus medos)
and i've held your hand through all of these years
(Eu seguraria a sua mão durante todos esses anos)
but you still have all of me
(Mas você ainda tem tudo de mim)

you used to captivate me
(Você me cativou)
by your resonating light
(Com sua vida ressonante)
but now i'm bound by the life you left behind
(Agora eu estou destinada à vida que você deixou para trás)
your face it haunts my once pleasant dreams
(Seu rosto freqüenta meus sonhos alegres)
your voice it chased away all the sanity in me
(Sua voz persegue toda a sanidade em mim)

these wounds won't seem to heal
(Essas feridas não vão cicatrizar)
this pain is just too real
(Essa dor é bem real)
there's just too much that time cannot erase
(Há muita coisa que o tempo não pode apagar)

when you cried i'd wipe away all of your tears
(Quando você chorasse eu ia limpar todas as suas lágrimas)
when you'd scream i'd fight away all of your fears
(Quando você gritasse eu lutaria contra todos os seus medos)
and i've held your hand through all of these years
(Eu seguraria a sua mão durante todos esses anos)
but you still have all of me
(Mas você ainda tem tudo de mim)


i've tried so hard to tell myself that you're gone
(Eu tenho tentado me conformar de que você não está mais aqui)
and though you're still with me
(Mas penso que você ainda está comigo)
i've been alone all along
(Eu tenho estado sozinha todo esse tempo)

quinta-feira, março 03, 2005


quarta-feira, março 02, 2005

Indiscutivelmente: Deusas existem!



O que seria a beleza? Há um Belo em-si? Na Grécia antiga e mais presisamente em Platão havia. Começava pela adoração do belo, das pequenas coisas belas da vida que nos causavam essa sensação de beleza sem explicação: o pôr do sol, o seu nascer, o luar, uma arquitetura ou apenas uma simples flor. Depois dessas pequenas admirações passávamos a admirar os belos corpos e tudo de belo em que há neles: os olhos de uma mulher, sua boca, seus longos cabelos castanhos... Enfim, a perfeição que é todo o conjunto de uma mulher. E por último poderíamos amar e adorar o Belo em-si. A Idéia de Belo. Esse seria o que nas coisas nos faz soltar os olhos, a participação da Beleza nas coisas. Platão explicava isso através do Mundo das Idéias. Local onde estivemos antes de vir a terra. Lá convivemos com todas as idéias que aqui estão. O Belo em-si, o Justo em-si, o Bem em-si. Contudo, quando nascemos caímos desse mundo dentro desse cárcere que é o corpo (isso mesmo, os cristãos não são nada originais) e, por causa dessa queda, nos esquecemos de tudo o que havíamos presenciado. Portanto aqui era o local de aprender, na verdade de re-aprender, de re-lembrar do que é Belo, Justo ou Bom. Por isso temos uma noção porque um dia as presenciamos cara-a-cara. E para isso nossa vida era delineada a atingir a aretéia, a virtude de re-lembrar de tudo que presenciamos um dia. Assim nos tornamos pessoas virtuosas. Eu só me lembro de uma coisa, ter visto Nicole por lá...

The Scientist - Coldplay

Come up to meet you,
Vim pra lhe encontrar,
Tell you I'm sorry,
Dizer que sinto muito,
You don't know how lovely you are.
Você não sabe o quão amável você é.

I had to find you,
Tive que lhe achar,
Tell you I need you,
Dizer que preciso de você,
Tell you I set you apart.
Dizer que lhe deixei de lado.

Tell me your secrets
Conte-me seus segredos
And ask me your questions.
Faça-me suas perguntas.
Oh, let's go back to the start.
Oh, vamos voltar pro começo.

Running in circles,
Correndo em círculos,
Coming up tails,
Surgindo as caudas,
Heads on a silence apart.
Cabeças num separado silêncio.

Nobody said it was easy,
Ninguém disse que era fácil,
It's such a shame for us to part.
É tão vergonhoso pra nós nos separarmos.
Nobody said it was easy,
Ninguém disse que era fácil,
No one ever said it would be this hard.
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim.
Oh, take me back to the start...
Oh, me leve de volta pro começo...

I was just guessing
Eu só estava pensando
At numbers and figures,
Em números e figuras,
Pulling your puzzles apart.
Rejeitando seus quebra-cabeças.

Questions of science,
Questões da ciência,
Science and progress
Ciência e progresso
Do not speak as loud as my heart.
Não falam tão alto quanto meu coração.

Tell me you love me,
Diga-me que me ama,
Come back and haunt me.
Volte e me assombre.
Oh, and I rush to the start.
Oh, e eu corro pro começo.

Running in circles,
Correndo em círculos,
Chasing our tails,
Perseguindo nossas caudas
Come back as we are.
Voltemos como éramos.

Nobody said it was easy,
Ninguém disse que era fácil,
It's such a shame for us to part.
É tão vergonhoso pra nós nos separarmos.
Nobody said it was easy,
Ninguém disse que era fácil,
No one ever said it would be so hard.
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim.
Oh, I'm going back to the start...
Oh, estou voltando pro começo...

terça-feira, março 01, 2005

De volta ao Mundo das Idéias



"Zeus e Tetis" - Shummansk


"Sibyl" - Michelangelo


"A morte de Sócrates" - Rafael Sanzio

Porta-café: quem teve essa idéia?