quinta-feira, junho 28, 2007

Pereio estréia programa de entrevistas do Canal Brasil - Xico Sá

"Não há mais, a essa altura, como zelar pela reputação... Agora eu tenho é que zerar minha reputação".


Marlon Brando morreu, mas Paulo César Pereio, 64 anos exageradamente bem vividos, passa muito bem, obrigado.

Um tanto quanto sereno e tomado por uma certa leseira brechtiana --o homem sacaneando o mito cafajeste do ator e da obra--, Pereio estréia, depois de amanhã, o "Sem Frescura", programa de entrevistas do Canal Brasil.

O embate-homenagem com o Brando de "O Último Tango em Paris" é coisa da grande comunidade "pereioística" no Orkut --o novo centro de discussões da internet. Um desnecessário exercício de macheza comparada. Polêmica que o Doutor Ailton, um dos filiados mais ativos da sociedade virtual do ator gaúcho, parece ter liquidado: "Com todo respeito ao M.B., mas o cara nunca foi assim nenhum Pereio", mandou.

Ser um Pereio é não amaciar a língua, é não "amanteigar" jamais as declarações, mesmo na sua fase "Pereiozinho paz & amor", como declara sobre o recreio sossegado que vive. Logo no primeiro "Sem Frescura", sapecou contra as moças de outro televisivo, o "Saia Justa" (do canal GNT).

"Aquele programa de merda que as quatro fazem...", manda ao ar, enquanto tenta lembrar o nome do programa. "Quatro mulheres chatas...", tenta ganhar tempo ainda com a sua falta de jeito para o padrão "talk show". O alvo para valer seria apenas uma das criaturas do quarteto: Marisa Orth.

A atriz havia dito, em uma das edições do "Saia Justa", que Cissa Guimarães, ex-mulher de Pereio, tinha "comido o pão que o diabo amassou" durante o casamento com ele. Declarou também que o ator era viciado em drogas.

"Disse que eu era dependente químico, como se fosse chique delatar um colega de profissão", responde Pereio logo no primeiro "Sem Frescura". Resposta besuntada de algum deboche, mas sem a dicção da ira. Pereio está tranqüilo. Tamanho família.

Na estréia, a convidada é justamente a atriz e ex-mulher Cissa. A direção do programa é da filha Lara Velho, o roteiro é de Neila Tavares, mãe de Lara. A produção é da Macaya, firma também ligada à família, em sociedade com a Globosat. "Logo, logo os parentes vão acabar", avisa o novo apresentador, sacaneando a lista do nepotismo escancarado.

A conversa com Cissa Guimarães é muito cordial e reveladora da grande paixão da mocinha que caiu nas "garras do canalha" ainda na menoridade. Ele caminhava para os 40, ela tinha 17. "Como você se sentia comigo?", indaga a atriz. "Ah, me sentia um pedófilo", responde.

Pereio está tranqüilo, camisa aberta, bermudão, chinelo, animal dos trópicos. O cenário é um jardim, duas cadeiras. O ator coça a perna em algumas ocasiões. Não se trata de um tique à moda Actor's Studio, nada das invencionices de Brando. Apenas a falta de jeito para a nova atividade.

"Virou cult", diz Cissa, a ex-mulher que teria comido o pão que o diabo amassou. "Comi outras coisas mais gostosas", agora quem responde é a própria ex-mulher. Pereio mordisca o lábio, sem a delicadeza dos trejeitos de Brando.

Por causa de falta de pagamento de pensão alimentícia, a ex-mulher levou o ex-marido à prisão, no início dos 90. De tão batido, o tema não foi tocado na entrevista. Falaram muito dos dois filhos que tiveram, João e Tomás, meninos de 20 e poucos anos. "Pelo menos não tem nenhum veado", diz no programa de estréia, mais uma vez rindo da imagem de "cafa" que colou à sua biografia.

Pereio não é cult e celebrado por acaso. São peças a perder a conta, como diz, e 60 filmes. O seu "porra" é um clássico de final de frase nos diálogos. Na sua comunidade no Orkut, os admiradores também falam assim. A cada final de período, tacam lá a velha exclamação, "porra!".

A vida e obra de Pereio vai virar um documentário, já em fase adiantada de produção, chamado "Pereio Eu te Odeio", dirigido por Allan Sieber, autor de quadrinhos, cartunista e animador. É também de Sieber a abertura de "Sem Frescura", uma animação carregada de testosterona.

Por ter construído --à revelia ou não-- uma carreira em tons malditos, Pereio, aparentemente mais sossegado, agora se vê diante de uma pergunta provocativa feita tanto por quem o ama como por quem o odeia: seria hoje um careta?

Embora tenha largado um pouco o caminho do excesso, aquele que, segundo o poeta William Blake, conduz ao palácio da sabedoria, o ator se diz mais calmo, menos desleixado com a saúde, mas com a mesma tormenta interior. Cissa Guimarães provoca, familiar: "O Pereio está careta, ele não falta mais", diz, referindo-se a algumas confusões que envolveram diretores de teatro e cinema e o ex-marido.

Como disse o próprio ator outro dia, em uma mesa do Jobi, botequim da boemia do Baixo Leblon, é hora do grau zero da sua imagem: "Não há mais, a essa altura, como zelar pela reputação... Agora eu tenho é que zerar minha reputação".
Entrevista na playboy:




Perfect Day - Lou Reed

Just a perfect day
drink sangria in the park
And then later when it gets dark
we go home

Just a perfect day
feed animals in the zoo
Then later a movie too
and then home

Oh, it's such a perfect day
I'm glad I spent it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
you just keep me hanging on

Just a perfect day
problems all left alone
Weekenders on our own
it's such fun

Just a perfect day
you made me forget myself
I thought I was someone else
someone good

Oh, it's such a perfect day
I'm glad I spent it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
you just keep me hanging on

You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
(tradução)

Quando Vier A Primavera - Alberto Caeiro (F.P.)


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

quarta-feira, junho 27, 2007

Esta Vida - Guilherme de Almeida

Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos : eis a vida

Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado
.
Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.


terça-feira, junho 26, 2007

Motel - Luiz Fernando Veríssimo

Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:
- Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos.
ficou assim, uma estátua de espanto,durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu.
- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou por quê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel.
- Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir.
- Discretíssimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minha amigas esperam que eu faça.
Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
-Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
-Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou!
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas,o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema - disse.
- Era o Dico.
- O que ele queria?
-Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- O quê?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
O quê???
- Vou ter que te dar uma surra...


CONCLUSÃO:
DEVEMOS CUIDAR APENAS DA NOSSA SAÚDE, POIS DA NOSSA VIDA, TODO MUNDO CUIDA...

Felicidade Realista - Mário Quintana

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser
magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:
queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos
conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar
pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente
apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes
inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos
sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você
pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um
parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente
quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo,
usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o
suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado E se a gente tem
pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que
saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de
criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o
estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,
instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está
alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não
se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la
e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e
não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso
coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.