quinta-feira, março 29, 2007

Os presentes de Alice - Cláudio Parreira

Alice. Mulherão essa Alice. E vivia querendo coisas:
- Compra um apartamento pra mim, bem?
Eu comprava. Porque ela, sorrindo, isso não tinha preço.

Alice era dada a excentricidades. Poucas, mas ainda assim:
- Compra a lua pra mim, bem?
Eu comprava. E colocava um punhado de estrelas no papel de presente.

Vez ou outra ela emburrava. Não de ficar burra, que ela nunca foi assim, mas emburrar de entristecer, vocês me entendem. Eu fazia caretas, alugava elefantes, tudo pra ela melhorar. Mas ela só melhorava daquele jeito:
- Compra o charme da Gisele Bündchen pra mim?
Eu comprava. Um exagero, concordo, Alice era charmosa o suficiente, mas fazer o quê?

* * *

Alice também era uma mulher de muito bom gosto. Sabia apreciar as coisas boas da vida, as belas coisas:
- Compra um Picasso, um Van Gogh e um Warhol pra mim, bem?
Eclética, como vocês puderam perceber. E eu, é claro, comprava.

* * *

Um dia Alice foi ao cinema e viu uma sereia no filme. Voltou da sessão radiante. E pediu:
- Eu quero uma sereia, bem!
Parti no dia seguinte numa expedição em busca da tal sereia. Fui encontrá-la 30 dias depois no mar gelado da Finlândia.
Quando entreguei o presente a Alice, ela desatou a chorar. Eu perguntei:
- Não é a sereia que você quer?
- É a sereia que eu queria - ela disse. - Mas agora não quero mais.
- O que é que você quer agora?
Alice enxugou as lágrimas e um sorriso brotou no seu rostinho lindo:
- Agora eu quero uma caravela, bem! Uma caravelinha!
Uma caravelinha. Como as caravelas deixaram de ser fabricadas há muito tempo, mandei fazer. Ficou uma beleza. Mas Alice só desembrulhou o presente. Havia um brilho estranho em seus olhos.
- E agora, o que é que você quer? - eu perguntei. - Pede.
- Eu não quero nada, bem. Não quero nada.

* * *

Mas a quietude durou pouco. Logo Alice estava pedindo de novo. E eu, pronto a atender. Quer dizer, mais ou menos.
- Bem, diz que me ama!
Esquisitice. Bem típico de uma mulher como ela. Não que o seu pedido fosse caro demais, longe disso. Não iria me custar um tostão. Mas eu senti que precisava manter a integridade:
- Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano!
- Mitômano?
- É.
Ela me olhou com aquele olhar inteligente que só ela tem. E pediu:
- Me compra um dicionário, bem?

***

Depois disso Alice passou quatro anos deprimida, largadona, engordando no sofá francês do século XIX. Sem pedir nada.
Até que, numa bela manhã de carnaval, ela se levantou, emagreceu e pediu:
- Bem, eu quero amor!
Eu caminhei em direção a ela, dei-lhe um demorado beijo na testa e saí para a rua. Não voltei nunca mais. Seria muito doloroso explicar que tem coisas que o dinheiro não compra.

link: http://www.revistapiaui.com.br/2007/mar/concurso_vencedor.htm

Os falsos mendigos - Airton Monte

Não sei, na verdade não tenho a menor idéia se as demais pessoas vêm observando, em nosso perverso cenário citadino, um fato que para mim é inegável, pois se desenrola diante de meus olhos no aparentemente banal cotidiano. A cada dia que passa, torna-se cada vez mais numerosa e variegada a ruma de gente de todas as idades suplicando uma esmolinha pelo amor de Deus nas ruas da cidade. Sem falar naqueles que batem à porta de nossas casas, hora do almoço ou do jantar, dia útil ou feriado, a pedir um adjutório para os mais diversos fins.
Uns pedem um prato de comida. Outros uma ajudinha em dinheiro para enterrar um parente, comprar remédio, inteirar uma passagem de ônibus. Claro está que dentre essa desesperada legião de deserdados da vida, muitos há que estendem humilhantemente a mão sôfrega à caridade pública pela mais premente necessidade de sobrevivência. E não se deve esquecer que todo homem tem o sagrado direito à vida. Outrossim, também coexistem, de mistura com o bagaço humano da implacável moenda social, os indefectíveis espertalhões da mendicância.
São malandros profissionais que se fingem de esmoler para ganhar a vida na maciota, faturar uns bons trocados na moleza. Tais mendigos de araque tornaram-se exímios especialistas em usar e abusar da chantagem sentimental, espicaçando nosso complexo de culpa, tentando amolecer o coração dos transeuntes. Eu não consigo resistir ao impulso de meter a mão no bolso caçando níqueis ao me deparar com um olhar tristonho de uma criança de colo toda esmulambuda, rastejando pelo chão imundo ou crucificada por entre os braços esqueléticos da mãe.
E por saberem o quanto nos comove a miséria infantil exposta degradantemente na vitrine suja das calçadas, é que muitos sabidões ou sabidonas costumam usar os próprios filhos ou rebentos de aluguel como se fossem iscas vivas pra fisgar a suposta caridade dos passantes. Faça chuva ou sol, lá estão os pescadores com seus anzóis humanos nos cruzamentos mais movimentados. E todos nós, feito um cardume de peixes afogados num mar de remorsos, findamos por ser pescados. Que triste país o nosso, em que as crianças de rua só nos despertam dois únicos sentimentos: o medo e a piedade.

link: http://www.opovo.com.br/opovo/colunas/airtonmonte/

terça-feira, março 20, 2007

Deus existe? - Steve Martin


Deus existe? Essa velha pergunta simplesmente não quer sair de cena. Desde o início da história da humanidade, toda vez que alguém acha que tem a resposta, um outro vem logo contestá-lo. A questão persiste e agora repousa no éter, à espreita, para atacar estudantes universitários e, mais tarde, com os 30 anos de idade, bater em retirada, para emergir em festinhas de papo cabeça, e voltar de novo com força total nos “anos filosóficos”. Mas, antes de discutirmos essa questão complexa, permitam que eu me apresente. Sou Toby, o cavalo falante.

Ser um cavalo falante me deixa com tempo de sobra para ponderar acerca desses grandes temas. Ninguém me monta, porque simplesmente digo logo para descer. Assim, tenho muito tempo livre. Às vezes, à noite, para passar as horas, eu canto; às vezes, paquero a beldade que anda no pasto vizinho, a Lily. Às vezes, exercito meus poderes, o que é divertido. Neste preciso momento, de fato, você não lê isto. Apenas pensa que lê. Na verdade, você está ligando para o serviço telefônico do seu banco e transferindo todo o dinheiro para a minha conta.

Na maior parte do tempo, no entanto, assim como fazem muitos outros cavalos, tento fazer anagramas de cabeça. Quando você vê um cavalo parado num pasto, olhando para você, na realidade ele está tentando recombinar letras na cabeça: “amor, ramo, roma...” É coisa natural nos cavalos. A primeira coisa que faço com um problema grande como este, portanto, é repassá-lo em minha cabeça e recombinar as letras. “Deus...” Não sai muita coisa dessas letras, assim como do infecundo “existe”. Vencido o obstáculo desse pequeno exercício neurótico, estou apto a dar o passo seguinte.

Pergunte a si mesmo: preciso de fato saber a resposta para essa questão? Creio que, se for honesto consigo mesmo, você vai perceber que uma resposta do tipo sim-ou-não não iria, na verdade, mudar grande coisa na sua vida. Se bem que um não pode liberar um bocado de tempo, hoje despendido em cultos. Com efeito, não imagino que Deus seja de fato um entusiasta dos cultos. Você pode tomar por base este que lhe fala, Toby, o cavalo falante – ele é tão humilde quanto qualquer deus, e um simples obrigado é tudo o que espera.

Se me perguntar o que veio primeiro, a questão ou a crença, eu diria que a crença precedeu a questão. A questão não leva à crença; a questão leva à descrença. Por outro lado, a crença existe em quase todas as culturas humanas, se bem que às vezes a gente encontra uns povos que rezam para bonecos feitos de esterco. A crença não surge tão naturalmente em animais – o que faz de mim, um cavalo, um perfeito moderador objetivo.

Estabelecerei uma regra básica. Nada de discutir. Discutir é o que vivem fazendo na televisão, e o quê isso traz de bom? Uma grande risada de cavalo para a idéia humana de que a razão alguma vez mudou a mente de alguém. Eu poderia, se quisesse, defender a tese de que o céu é verde. E ganharia a discussão. Por quê? Porque pude estudar o bastante para deixar você encurralado a cada proposição, porque adquiri uma grande velocidade mental na controvérsia-do-céu-verde. Poderia fazer sua cabeça rodopiar com as voltas e as guinadas que eu lançaria sobre você. E sou um cavalo. Mesmo assim, poderia fazer isso. Imagine o que seria capaz de fazer um bem adestrado fornecedor de sabedoria religiosa.

Outra regra básica. Nada de definições. Nós poderíamos ficar aqui sentados até as vacas voltarem do pasto, o que no meu mundo não é uma metáfora, discutindo definições de palavras importantes. Mas, permita que eu lhe diga, não vamos chegar a parte alguma. Seria fácil reduzir a questão da existência de Deus a um problema de semântica. Mas já ultrapassamos essa fase. Estou feliz por meu nome ser Toby, pois isso prova a minha tese. Sou minha própria definição. Não sou “Estrela”, ou “Brasa”, ou “Corisco”, ou nenhum outro nome. Deixemos que, assim como eu, Deus seja a sua própria definição.

Tenho de lhe dizer uma coisa a respeito de Lily. Ela tem uma crina amarela. Estava justamente pensando nela.

Outra coisa: por favor, não use a expressão “religião organizada”. Já sei onde você quer chegar, e esse argumento só serve para universitários que querem ter alguma coisa para falar quando fumam maconha. Já deixamos essa discussão para trás há muito tempo.

Talvez você não tenha meios de compreender como é linda uma crina amarela. Bem, em Lily, isso é lindo. Às vezes, de noite, ela se esgueira rente à cerca, vem para perto de mim e suspira seu hálito quente no meu nariz. Esfrego minha cabeça na sua crina amarela, e o cheiro fica grudado em mim até de manhã. Ela tem também um cu fantástico. Ah, esqueci. Você é um ser humano e acha isso vulgar. Lily é a coisa mais parecida com Deus que já vi. Ela é corpórea e espiritual, e olha para mim, encosta-se em mim, balança a sua crina de modo que fica roçando em mim e, embora ela não saiba falar, nesses momentos é como se dissesse: “Toby”.

Lily... Toby... Toby... Lily...

Há certas pessoas que parecem saber que a resposta para a nossa questão é afirmativa. Isso as leva a querer envergar mantos, capas, túnicas e uns chapéus especiais, ou usar maquiagem bem pesada e pentear o cabelo muito alto. Outras pessoas parecem acreditar no contrário. Algumas pessoas se sentem bem com isso, mas outras podem ficar bem abatidas. Para tais pessoas, existe uma palavra especial, estrangeira, de uma vogal e várias consoantes nervosas: angst. Da qual também não saem anagramas.

Na certa você está pensando que, se não podemos usar lógica, se não podemos argumentar, se não podemos definir, como é que vamos chegar a uma resposta? Bem, se você fosse eu, não ficaria preocupado. Mas você tem receio das duas pernas que lhe faltam para ser como eu. Sugiro, pois, que faça o que eu faço: numa determinada noite, masque demoradamente um bom fardo de feno e um punhado de aveia. Retire seus antolhos e se deixe ficar num grande descampado, incline a cabeça para trás e contemple as estrelas. Você vai saber que existe um Deus.

Depois, um dia, quando as coisas não estiverem correndo muito bem para o seu lado, pare e reflita sobre a questão. Vai saber que não existe Deus nenhum. Para um cavalo, duas idéias contraditórias podem ser ambas verdadeiras, ao mesmo tempo. É isso o que me separa de você. É por isso que o cavalo não inventou o computador, mas inventou – e pouca gente sabe disso – o sofá. Uma vez que você permita que idéias incompatíveis coexistam em seu cérebro, estará no rumo certo para virar uma boa besta de carga. Aqui está uma pitada de juízo de cavalo, saído de minha própria cocheira: qualquer resposta que escolher, a qualquer momento, será a resposta correta. E se algum sabidinho elegante, de lábios contraídos, de cabelinho raspado rente, vier contestá-lo, é só dizer que aprendeu isso com Toby, o cavalo falante.

fonte: http://www.revistapiaui.com.br/

No escuro, todos são iguais - Silvia Curiati

Inácio não enxergava quase nada, sofria desde os 10 anos de idade com 16 graus de miopia.

Para as lentes dos óculos não ficarem tão grandes e desproporcionais sobre seu nariz aquilino, ele balanceava: parte dos graus em lentes de contato, e a outra parte no vidro anti-reflexo. Portanto, para Inácio, não havia nada mais comum que encontro às escuras.

Fez isso a vida toda – tirava os óculos, ia só de lente para não fazer feio. Ou melhor, não ficar feio.

Gelza sofria de cegueira noturna. Durante o dia vivia como um ser humano qualquer, comentando sobre os mosquitos que sobrevoavam sua mesa no escritório e as formiguinhas que insistiam em fazer fila indiana na pia de sua cozinha, todo ano, na primavera. Já à noite, era um desastre. A conta de luz vinha quilométrica devido à energia que gastava em sua casa para que tudo se mantivesse como se ainda fossem três da tarde.

Inácio era amigo de Lúcio, primo de Gelza.

Lúcio comentou com Inácio que tinha uma prima boazuda e solteira, não nesta ordem, nem nestes termos.

Inácio comentou com Lúcio que estava no queijão*, assim, nestes termos mesmo.

Provavelmente antes de Lúcio falar de Gelza.

Lúcio, que adorava provocar situações constrangedoras entre as pessoas, colocou Inácio e Gelza na sua janela do Messenger, para um bate-papo informal.

O casal de desconhecidos adicionou-se mutuamente e, dois dias depois, marcaram de sair para formalizar a pretensa amizade. Um jantar.

Inácio escolheu estrategicamente um restaurante romântico, à luz de velas. Com o ambiente escurecido sentia-se mais confortável e protegido, já que suas lentes espessas deixavam seus olhos levemente esbugalhados.

Gelza, quando entrou no lugar, surtou. Internamente, claro. Não queria aparentar esquizofrenia, além de seu outro defeito congênito.

O fato é: foi um legítimo encontro às escuras. Um desastre completo. Obviamente, depois de uns beijos e amassos, nunca mais nem se falaram.


*termo que denota a ausência de atividade sexual por um longo período. Apenas desconfia-se da razão de o nome ser o mesmo de algo que é praticamente leite podre, mas nada é comprovado cientificamente.

terça-feira, março 13, 2007

Aos que virão depois de nós - Bertolt Brecht

I

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.


Eu queria ser um sábio.

Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II

Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.

III

Vocês, que vão emergir das ondas
em que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.

Nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta.

Nós sabemos:
o ódio contra a baixeza
também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a
amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão.

Sessão da Tarde e cavalos falantes - Silvia Curiati

Incorpore um sotaque caipira forte, daquele que puxa os Rs com vontade. Agora diga em voz alta “éR, déRdi, rícher”.

Era exatamente o que eu ouvia quando o locutor, após a apresentação de um filme, concluía: “Versão brasileira, Herbert Richards”. Normalmente, estes eram os mais legais. Aqueles cuja versão brasileira era Álamo, com uma voz de mesmo timbre daquela do locutor que anunciava no SBT “Ghandiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii”, com aquele “i” grave e eterno, eram meio toscos.

Tenho um problema com alguns roteiros.

Não entendo até hoje o que leva pessoas a fazerem filmes com cavalos falando. Nada mais chato e imbecil. O cavalo era sempre lindo, a criança tinha voz de boba e a maior tensão era o fato de ele não ganhar uma corrida ou de ela não conseguir montá-lo. Quando a atração da Sessão da Tarde era um ser relinchante de rabo que conseguia formar frases melhores que as minhas, eu resolvia dar trabalho à minha mãe e aprontar alguma em casa. Porque é absolutamente inaceitável gostar de uma porcaria destas.

Meu negócio eram as aventuras, os leves suspenses, ou aquelas comédias tipo Jerry Lewis ou Day-Hudson. Coisas que não me tratassem como uma completa imbecil.

Aliás, meu negócio era mais simbólico que qualquer outra coisa. Sessão da Tarde é a representação mais pura do ócio. É o que te perguntam se você esta assistindo quando falta ao trabalho. Combina com Danette, brigadeiro, biscoitos recheados, pipoca. Também é um ícone da doença infecto-contagiosa, do trio canja-cobertor-termômetro. Me lembra imediatamente “pneumonia”, uma das três que tive.

E me lembra que há muito não invento uma boa desculpa para ver se existem novas gerações de cavalos falantes.

segunda-feira, março 12, 2007

Jogo: Bush Shoot Out


(clique aqui e lute contra o "terrorismo")

domingo, março 11, 2007

Charles Bukowski


"Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam até a sua morte"

sexta-feira, março 09, 2007

Capitão América é alvejado e morto

Lenda viva é assassinada nas escadarias da Corte Federal


NOVA YORK - Esta manhã, reportamos a tentativa de assassinato de um ex-super-herói. Agora vimos confirmar que a vítima foi identificada como Steve Rogers, também conhecido como Capitão América. Rogers foi dado como morto no Mercy Hospital, devido a ferimentos causados por tiros no ombro, peito e estômago.
Testemunhas afirmam que a primeira bala, que feriu Rogers no ombro, veio de um atirador localizado no topo de um dos edifícios próximos à Corte Federal. Diversos outros tiros foram disparados durante o conflito, atingindo Rogers no peito e estômago, mas testemunhas que presenciaram a cena, assim como os policiais que estavam escoltando Rogers, reportaram que somente um atirador disparou os tiros.
A identidade do(s) assassino(s), assim como a origem de outros tiros, ainda não foi revelada. Agentes da S.H.I.E.L.D., do FBI e da polícia local estão trabalhando juntos na investigação e vistoriando os edifícios dada área. Um porta-voz da S.H.I.E.L.D. não quis fazer comentários sobre o tiroteio, informando que mais detalhes serão conhecidos conforme avançarem as investigações.
Rogers, um veterano da 2.ª Guerra Mundial, e que foi dado como desaparecido com o fim do conflito, retornou à ação décadas depois e combateu nos primeiros tempos dos Vingadores. Esteve no front principal dos heróis americanos até recentemente, quando se opôs violentamente à lei do governo americano, o Superhero Registration Act. Como Capitão América, Rogers combateu as forças do ato pró-registro, até se render em Manhattan, ficando sob a custódia da S.H.I.E.L.D. Estava a caminho de sua audiência quando foi atingido essa manhã."

Para mais detalhes sobre o tiroteio, leia Captain America n.º 25. Para mais informações sobre o Capitão América e os acontecimentos, continue lendo o Clarim Diário.


(clique aqui e veja cenas fortes do corpo do herói)

segunda-feira, março 05, 2007

Sonho de voar - Silvia Curiati

Enquanto os balões amarelos não ficavam prontos, Liana se contorcia no tapete do seu quarto de tanto rir da voz de seu pai, que vez ou outra engolia o que chegaria perto de meio copo de gás hélio, se este pudesse ser medido como líquidos, para alegrar a menina.

Gordinha ativa, cabelos loirinhos sempre amarrados em chiquinhas, Liana era o tipo de menina que encantava a todos com sua esperteza. Muito inteligente, falava coisas que ninguém imaginaria ouvir saídas da boca de uma criança de 5 anos.

Sua meta era voar. Por isso, quando passou em frente ao ponto de venda de um empreendimento imobiliário onde um grupo de promotoras amarrava balões nos postes e notou um deles escapando rumo ao céu, voando inatingível, teve certeza que aquelas seriam suas asas.

"Amarelas", pediu ao pai, falando com dificuldade a letra R.

Ansiosa, esticou os bracinhos brancos abrindo as mãos, cheias de covinhas onde a pele era fofa, em direção ao pai, que entendeu o pedido e imediatamente amarrou dois balões amarelos em cada pulso da menina.

Os minutos seguintes foram pontuados por um descontentamento silencioso. Com os olhos úmidos, ela fitava suas asas amarelas e não compreendia a razão de estar em terra firme, ainda. Olhou para o pai e disse:

- Foi porque eu comi aquele chocolate antes do almoço e você disse que era porcaria que engorda? Fiquei pesada?

Com pena, o pai sorriu. Disse que esperasse um momento e resolveria seu problema.

Voltou com óculos de brinquedo, de lentes cobertas por um papel colorido. Colocou-os no rosto de Liana, que achou a brincadeira engraçada, mesmo sem dar muito crédito ao que viria pela frente por não ter idéia de como continuar. Enquanto ela esperava imóvel (porque crianças, quando são privadas de sua visão ficam estáticas, ainda que em posição de ataque, mantendo um sorriso maroto nos lábios entreabertos), o pai buscou sua velha bicicleta, aquela que já sofria com reumatismo e artrite, e colocou a cadeirinha da pequena onde encaixava. Ensaiou uma pedalada, funcionava.

Voltou triunfante, como só os pais que realizam os sonhos dos filhos entenderiam. Colocou a menina na cadeirinha, atou os cintos de segurança e saiu pedalando pelas ruas, o mais rápido que podia, enquanto gritava "abra as asas, bata as asinhas, para cima e para baixo!".

Liana mal cabia em si, sufocada com o ar no rosto e aquela sensação de liberdade e de meta alcançada que ela só viria a compreender mais velha, quando conseguisse vencer um jogo no colégio, conquistar o menino mais bonito da turma, passar no vestibular ou ser contratada pela empresa que desejasse.

De qualquer forma, aquele foi o momento mais feliz na vida dos dois.

quinta-feira, março 01, 2007