Não sei, na verdade não tenho a menor idéia se as demais pessoas vêm observando, em nosso perverso cenário citadino, um fato que para mim é inegável, pois se desenrola diante de meus olhos no aparentemente banal cotidiano. A cada dia que passa, torna-se cada vez mais numerosa e variegada a ruma de gente de todas as idades suplicando uma esmolinha pelo amor de Deus nas ruas da cidade. Sem falar naqueles que batem à porta de nossas casas, hora do almoço ou do jantar, dia útil ou feriado, a pedir um adjutório para os mais diversos fins.
Uns pedem um prato de comida. Outros uma ajudinha em dinheiro para enterrar um parente, comprar remédio, inteirar uma passagem de ônibus. Claro está que dentre essa desesperada legião de deserdados da vida, muitos há que estendem humilhantemente a mão sôfrega à caridade pública pela mais premente necessidade de sobrevivência. E não se deve esquecer que todo homem tem o sagrado direito à vida. Outrossim, também coexistem, de mistura com o bagaço humano da implacável moenda social, os indefectíveis espertalhões da mendicância.
São malandros profissionais que se fingem de esmoler para ganhar a vida na maciota, faturar uns bons trocados na moleza. Tais mendigos de araque tornaram-se exímios especialistas em usar e abusar da chantagem sentimental, espicaçando nosso complexo de culpa, tentando amolecer o coração dos transeuntes. Eu não consigo resistir ao impulso de meter a mão no bolso caçando níqueis ao me deparar com um olhar tristonho de uma criança de colo toda esmulambuda, rastejando pelo chão imundo ou crucificada por entre os braços esqueléticos da mãe.
E por saberem o quanto nos comove a miséria infantil exposta degradantemente na vitrine suja das calçadas, é que muitos sabidões ou sabidonas costumam usar os próprios filhos ou rebentos de aluguel como se fossem iscas vivas pra fisgar a suposta caridade dos passantes. Faça chuva ou sol, lá estão os pescadores com seus anzóis humanos nos cruzamentos mais movimentados. E todos nós, feito um cardume de peixes afogados num mar de remorsos, findamos por ser pescados. Que triste país o nosso, em que as crianças de rua só nos despertam dois únicos sentimentos: o medo e a piedade.
link: http://www.opovo.com.br/opovo/colunas/airtonmonte/
Uns pedem um prato de comida. Outros uma ajudinha em dinheiro para enterrar um parente, comprar remédio, inteirar uma passagem de ônibus. Claro está que dentre essa desesperada legião de deserdados da vida, muitos há que estendem humilhantemente a mão sôfrega à caridade pública pela mais premente necessidade de sobrevivência. E não se deve esquecer que todo homem tem o sagrado direito à vida. Outrossim, também coexistem, de mistura com o bagaço humano da implacável moenda social, os indefectíveis espertalhões da mendicância.
São malandros profissionais que se fingem de esmoler para ganhar a vida na maciota, faturar uns bons trocados na moleza. Tais mendigos de araque tornaram-se exímios especialistas em usar e abusar da chantagem sentimental, espicaçando nosso complexo de culpa, tentando amolecer o coração dos transeuntes. Eu não consigo resistir ao impulso de meter a mão no bolso caçando níqueis ao me deparar com um olhar tristonho de uma criança de colo toda esmulambuda, rastejando pelo chão imundo ou crucificada por entre os braços esqueléticos da mãe.
E por saberem o quanto nos comove a miséria infantil exposta degradantemente na vitrine suja das calçadas, é que muitos sabidões ou sabidonas costumam usar os próprios filhos ou rebentos de aluguel como se fossem iscas vivas pra fisgar a suposta caridade dos passantes. Faça chuva ou sol, lá estão os pescadores com seus anzóis humanos nos cruzamentos mais movimentados. E todos nós, feito um cardume de peixes afogados num mar de remorsos, findamos por ser pescados. Que triste país o nosso, em que as crianças de rua só nos despertam dois únicos sentimentos: o medo e a piedade.
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