Enquanto os balões amarelos não ficavam prontos, Liana se contorcia no tapete do seu quarto de tanto rir da voz de seu pai, que vez ou outra engolia o que chegaria perto de meio copo de gás hélio, se este pudesse ser medido como líquidos, para alegrar a menina.
Gordinha ativa, cabelos loirinhos sempre amarrados em chiquinhas, Liana era o tipo de menina que encantava a todos com sua esperteza. Muito inteligente, falava coisas que ninguém imaginaria ouvir saídas da boca de uma criança de 5 anos.
Sua meta era voar. Por isso, quando passou em frente ao ponto de venda de um empreendimento imobiliário onde um grupo de promotoras amarrava balões nos postes e notou um deles escapando rumo ao céu, voando inatingível, teve certeza que aquelas seriam suas asas.
"Amarelas", pediu ao pai, falando com dificuldade a letra R.
Ansiosa, esticou os bracinhos brancos abrindo as mãos, cheias de covinhas onde a pele era fofa, em direção ao pai, que entendeu o pedido e imediatamente amarrou dois balões amarelos em cada pulso da menina.
Os minutos seguintes foram pontuados por um descontentamento silencioso. Com os olhos úmidos, ela fitava suas asas amarelas e não compreendia a razão de estar em terra firme, ainda. Olhou para o pai e disse:
- Foi porque eu comi aquele chocolate antes do almoço e você disse que era porcaria que engorda? Fiquei pesada?
Com pena, o pai sorriu. Disse que esperasse um momento e resolveria seu problema.
Voltou com óculos de brinquedo, de lentes cobertas por um papel colorido. Colocou-os no rosto de Liana, que achou a brincadeira engraçada, mesmo sem dar muito crédito ao que viria pela frente por não ter idéia de como continuar. Enquanto ela esperava imóvel (porque crianças, quando são privadas de sua visão ficam estáticas, ainda que em posição de ataque, mantendo um sorriso maroto nos lábios entreabertos), o pai buscou sua velha bicicleta, aquela que já sofria com reumatismo e artrite, e colocou a cadeirinha da pequena onde encaixava. Ensaiou uma pedalada, funcionava.
Voltou triunfante, como só os pais que realizam os sonhos dos filhos entenderiam. Colocou a menina na cadeirinha, atou os cintos de segurança e saiu pedalando pelas ruas, o mais rápido que podia, enquanto gritava "abra as asas, bata as asinhas, para cima e para baixo!".
Liana mal cabia em si, sufocada com o ar no rosto e aquela sensação de liberdade e de meta alcançada que ela só viria a compreender mais velha, quando conseguisse vencer um jogo no colégio, conquistar o menino mais bonito da turma, passar no vestibular ou ser contratada pela empresa que desejasse.
De qualquer forma, aquele foi o momento mais feliz na vida dos dois.
Gordinha ativa, cabelos loirinhos sempre amarrados em chiquinhas, Liana era o tipo de menina que encantava a todos com sua esperteza. Muito inteligente, falava coisas que ninguém imaginaria ouvir saídas da boca de uma criança de 5 anos.
Sua meta era voar. Por isso, quando passou em frente ao ponto de venda de um empreendimento imobiliário onde um grupo de promotoras amarrava balões nos postes e notou um deles escapando rumo ao céu, voando inatingível, teve certeza que aquelas seriam suas asas.
"Amarelas", pediu ao pai, falando com dificuldade a letra R.
Ansiosa, esticou os bracinhos brancos abrindo as mãos, cheias de covinhas onde a pele era fofa, em direção ao pai, que entendeu o pedido e imediatamente amarrou dois balões amarelos em cada pulso da menina.
Os minutos seguintes foram pontuados por um descontentamento silencioso. Com os olhos úmidos, ela fitava suas asas amarelas e não compreendia a razão de estar em terra firme, ainda. Olhou para o pai e disse:
- Foi porque eu comi aquele chocolate antes do almoço e você disse que era porcaria que engorda? Fiquei pesada?
Com pena, o pai sorriu. Disse que esperasse um momento e resolveria seu problema.
Voltou com óculos de brinquedo, de lentes cobertas por um papel colorido. Colocou-os no rosto de Liana, que achou a brincadeira engraçada, mesmo sem dar muito crédito ao que viria pela frente por não ter idéia de como continuar. Enquanto ela esperava imóvel (porque crianças, quando são privadas de sua visão ficam estáticas, ainda que em posição de ataque, mantendo um sorriso maroto nos lábios entreabertos), o pai buscou sua velha bicicleta, aquela que já sofria com reumatismo e artrite, e colocou a cadeirinha da pequena onde encaixava. Ensaiou uma pedalada, funcionava.
Voltou triunfante, como só os pais que realizam os sonhos dos filhos entenderiam. Colocou a menina na cadeirinha, atou os cintos de segurança e saiu pedalando pelas ruas, o mais rápido que podia, enquanto gritava "abra as asas, bata as asinhas, para cima e para baixo!".
Liana mal cabia em si, sufocada com o ar no rosto e aquela sensação de liberdade e de meta alcançada que ela só viria a compreender mais velha, quando conseguisse vencer um jogo no colégio, conquistar o menino mais bonito da turma, passar no vestibular ou ser contratada pela empresa que desejasse.
De qualquer forma, aquele foi o momento mais feliz na vida dos dois.
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