quarta-feira, março 23, 2005

Trecho do livro "UM CADÁVER DE POETA" de Alvarez de Azevedo

I

De tanta inspiração e tanta vida
Que os nervos convulsivos inflamava
E ardia sem conforto.. .
O que resta? uma sombra esvaecida,
Um triste que sem mãe agonizava . .
Resta um poeta morto!

Morrer! e resvalar na sepultura.
Frias na fronte as ilusões—no peito
Quebrado o coração!
Nem saudades levar da vida impura
Onde arquejou de fome . . sem um leito!
Em treva e solidão!

Tu foste como o sol; tu parecias
Ter na aurora da vida a eternidade
Na larga fronte escrita. . .
Porém não voltarás como surgias!
Apagou?se teu sol da mocidade
Numa treva maldita!

Tua estrela mentiu. E do fadário
De tua vida a página primeira
Na tumba se rasgou...
Pobre gênio de Deus, nem um sudário!
Nem túmulo nem cruz! como a caveira
Que um lobo devorou!. . .

Levem ao túmulo aquele que parece um cadáver! Tu não pesaste sobre a ferra: a terra te seja leve!

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