Colocou o dedo mindinho dentro da taça, tentando alcançar o pequeno pedaço de rolha que boiava. O vinho tingiu sua unha francesa, que longa o suficiente, carregou o corpo estranho para fora, em direção ao cinzeiro. Lambeu a gota de vinho seco que molhava seu dedinho e com a outra mão ergueu a taça, olhando displicente o garçom, que levava uma sobremesa fina à mesa ao lado. Deu um gole.
Ele a fitava, apaixonado. As mãos. A que segurava a taça e a que sujou-se de vinho. A elegante e a trabalhadora. A que desfruta e a que paga. Analogias estúpidas, estas de amantes. Eram apenas duas mãos cuidadas, manicure francesa feita naquela manhã.
Ela sempre aparecia de unhas polidas e cabelos soltos às quintas. Fios lisinhos, brilhantes. Parecia um bom dia, porque estaria pronta para as noites do fim-de-semana e ao mesmo tempo sentiria-se melhor trabalhando bem arrumada pelo menos dois dias.
Bobagem, era linda às quartas-feiras. De moletom, que odiava vestir (sentia-se doente num dia chuvoso de inverno), era ainda mais adorável, porque aproveitava que se via feia e amarrava os cabelos em um nó inexplicável, colocando óculos e chinelo.
Usava um vestido preto e vermelho, naquele momento. Um colar comprido com um pingente em forma de coração. Ele namorava o seu coração. O rosa de pedra e o vermelho de fogo, debaixo daquele pano fino, daquela pele macia. Os olhos maquiados em tons escuros pareciam ainda mais claros, e evitavam os seus. Ela o amava, sabia disso. Mas era linda demais. Bom seus olhos não se encontrarem, ou ele morreria afogado em tanta luz.
Excesso de beleza pode ser prejudicial à visão. Ao seu coração de argila úmida.
Disse que iria comprar cigarros no bar da frente. Não fumava, ela sabia. Teve vontade, supôs. E foi assim sempre, deixava-o livre, à mercê de suas ganas.
Ela deu mais um gole no vinho, deixando umas gotas mancharem a toalha branca. Ele levantou-se e partiu, deixando um cheiro eterno de tabaco queimado no olfato da mulher de unhas francesas e cabelos lisos.
Ele a fitava, apaixonado. As mãos. A que segurava a taça e a que sujou-se de vinho. A elegante e a trabalhadora. A que desfruta e a que paga. Analogias estúpidas, estas de amantes. Eram apenas duas mãos cuidadas, manicure francesa feita naquela manhã.
Ela sempre aparecia de unhas polidas e cabelos soltos às quintas. Fios lisinhos, brilhantes. Parecia um bom dia, porque estaria pronta para as noites do fim-de-semana e ao mesmo tempo sentiria-se melhor trabalhando bem arrumada pelo menos dois dias.
Bobagem, era linda às quartas-feiras. De moletom, que odiava vestir (sentia-se doente num dia chuvoso de inverno), era ainda mais adorável, porque aproveitava que se via feia e amarrava os cabelos em um nó inexplicável, colocando óculos e chinelo.
Usava um vestido preto e vermelho, naquele momento. Um colar comprido com um pingente em forma de coração. Ele namorava o seu coração. O rosa de pedra e o vermelho de fogo, debaixo daquele pano fino, daquela pele macia. Os olhos maquiados em tons escuros pareciam ainda mais claros, e evitavam os seus. Ela o amava, sabia disso. Mas era linda demais. Bom seus olhos não se encontrarem, ou ele morreria afogado em tanta luz.
Excesso de beleza pode ser prejudicial à visão. Ao seu coração de argila úmida.
Disse que iria comprar cigarros no bar da frente. Não fumava, ela sabia. Teve vontade, supôs. E foi assim sempre, deixava-o livre, à mercê de suas ganas.
Ela deu mais um gole no vinho, deixando umas gotas mancharem a toalha branca. Ele levantou-se e partiu, deixando um cheiro eterno de tabaco queimado no olfato da mulher de unhas francesas e cabelos lisos.
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