terça-feira, dezembro 20, 2005

CAPÍTULO II - A Criação do Homem, por Rogério Vilela

Deus criou tudo, se esforçou tanto, ficou tão orgulhoso de sua criação, que precisava que alguém que batesse em suas costas e que dissesse: “Deus, cê é bom para caramba cara, cê é muito competente no que cê faz! Mesmo!”. Deus queria criar algo que falasse... Deus queria criar alguém que fosse a cara dele, com o corpo dele e que pensasse como ele. Pra isso, Ele sentou-se em sua prancheta e começou a rabiscar, fazer esboços de como seria este “ser”. Como não era muito bom nessa coisa de arte, seus primeiros desenhos ficaram uma droga. Cabeça pequena, braços e pernas enormes, testa enrugarrada, patas, penas, escamas... Deus acabou criando milhares e milhares de desenhos ruins, mas que Ele não jogou fora. “Serão outros seres que eu colocarei na Terra”. De repente, Deus começou a gargalhar: havia criado o mais ridículo ser, algo que Ele depois colocou o nome de Ornitorrinco.
Embalado pelo humor e falta de habilidades artísticas, acabou criando vários seres esdrúxulos e estranhos: Girafa, Zebra, Ray Conniff, Pedro de Lara, Rinoceronte e tantos outros... Deus não iria conseguir desenhar nada que se parecesse com Ele, mas Deus é Deus e teve a brilhante idéia de tirar uma foto de corpo inteiro e ir até a Praça da República pedir para que um daqueles pintores barbudos com sotaque espanhol fizesse um retrato dEle. Estava criado o homem! No começo, o homem ficava flutuando pelado pelo espaço e Deus achou isso ridículo e sem propósito. Não era bom que sua principal criação não ficasse presa ao seu melhor planeta. Ele encomendou toneladas de cola branca e derramou tudo pelos vales e montanhas da Terra. Depois olhou para sua maravilhosa criação de carne e osso e disse, em tom paternal: “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”. “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”, o homem respondeu. Deus não achou graça e já meteu logo um tapão na cabeça do homem, que era pra ele ficar esperto. E achou que isto era bom. Caminharam juntos pelo universo até um ponto. Deus parou por alguns segundos, apontando para baixo. Ele mostrou o planeta azul para o homem: “É aqui que cê vai ficar, meu filho. O papai vai ter que fazer uma viagem de negócios e cê vai ter que ficar um tempo sozinho, num lugar cheio de plantinhas, animais ferozes e tantas outras coisinhas que não vai dar tempo de contar...” O homem nada respondeu, pois ainda lhe doía a porrada divina. No fim do corredor, quando chegaram à porta do elevador celestial, puderam ler um aviso pregado na porta: “antes de entrar no elevador, favor favor verificar se o mesmo se encontra estacionado no andar”.
Dentro do elevador, eles entraram e apertaram o Térreo.
Aqui vai a transcrição da primeira conversa entre Deus e Adão, durante a descida ao planeta Terra:
- E aí, cara, beleza?
- Só.
- Mas... homem, tá tudo bem com você?
- Só.
- Tá quente hoje, né, Adão? Posso te chamar de Adão?
- Só.
Deus ficou preocupado com a falta de assunto do homem. Seria bom que ele tivesse um cérebro melhor do que dos outros seres e Deus, num estalar de dedos, deu um modelo avançado de cérebro 2.0 gasolina para o homem. Quando a porta do elevador abriu, Deus se despediu do homem com um aperto de mão. a verdade é que Deus teve vontade de dar um forte abraço, mas o homem estava peladão e isto poderia deixar o Criador com fama de frutinha pelos corredores do universo e Ele, que é macho praca, não gosta de mal-entendido.
- Boa sorte, Adão.
- Só
- Saco...
Deus quis acreditar que o homem um dia saberia usar seu novo cérebro.
Adão se foi, nu, sozinho, com seu cérebro novo e ainda mal usado, cabreiro pra caramba, afinal, havia um mundo inóspito a ser conquistado.

Wagner Teso pesquisou muito antes de escrever uma carta pedindo dinheiro ao pai. Wagner é assim mesmo, um pesquisador. E calça calças pretas à noite para ficar parecido com o Batman.

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