— Ordenha mais um, Chico.
Sentado no balcão, tomando vinho de máquina. Vê lá se isso é destino.
— Tinto ou branco, patrão?
— No dia em que esse mijo tiver pelo menos o cheiro de vinho, eu me arrisco. Pra já, é tinto. E olhe lá. Estou quase pedindo uma cerveja.
Chico empurra o copo — de vidro grosso, morno de ficar entre os dedos — contra o bico atarraxado ao gargalo da garrafa.
— Taí, patrão: geladinho.
O freguês torce o nariz. Geladinho, sim, mas demais, na temperatura do branco. O garçom faz o segundo risquinho na comanda. Ela entra, procura lugar nas mesas. Só encontra um banco vago do outro lado do balcão em U. Vinho gelado demais, mulher bonita de menos. Cabelo armado. Gorda. Verruga no pescoço. Boca enorme. Mãos grossas. Ela brilha, um suorzinho brota do pó-de-arroz, purpurina.
— Um branco, por favor — diz a bruxa.
Chico ordenha o mijo para outro copo de vidro.
— Taí, patroa: geladinho — repete.
O garçom vira para o freguês, limpando um copo, percebe que ele observa a mulher.
-Jeitosa, não? — começa o garçon.
O freguês espia.
— Gorda.
— Que nada: fofa.
— Tem bigode. — retruca o freguês.
— Trepa como doida.
O freguês olha. Pede outro vinho.
— Tinto ou branco?
— Tinto, Chico, tinto.
Mais um risquinho na comanda. O cliente avalia:
— Bocuda.
— Melhor: gulosa. — devolve o Chico.
— Mãos grandes.
— Tem força pra "por as mãos na massa".
Silêncio.
— Suada, Chico.
— Escorrega mais.
— Tira outro.
— Tinto ou branco?
— Vá à m$%*#, Chico! Tinto.
Risquinho na comanda.
— Cabelo duro, Chico.
— Pentelhuda, patrão.
— E a verruga no pescoço?
— É? Nem reparei.
— Já comeu?
— Eu? Imagine! É madame, patrão... Não é pro meu bico.
O freguês avalia mais um pouco, e atira:
— Não dá, Chico! Ela usa pó-de-arroz!
— Ela se cuida, patrão. — ricocheteia o Chico.
Silêncio.
— Mais um.
— Tinto ou branco?
— Branco.
Pega o copo e dá a volta no balcão.
Casaram. Têm três filhos. Gordos. Ele também engordou. Só toma cerveja. Muita. O vinho é sincero demais. Sinceridade tem limite.
Sentado no balcão, tomando vinho de máquina. Vê lá se isso é destino.
— Tinto ou branco, patrão?
— No dia em que esse mijo tiver pelo menos o cheiro de vinho, eu me arrisco. Pra já, é tinto. E olhe lá. Estou quase pedindo uma cerveja.
Chico empurra o copo — de vidro grosso, morno de ficar entre os dedos — contra o bico atarraxado ao gargalo da garrafa.
— Taí, patrão: geladinho.
O freguês torce o nariz. Geladinho, sim, mas demais, na temperatura do branco. O garçom faz o segundo risquinho na comanda. Ela entra, procura lugar nas mesas. Só encontra um banco vago do outro lado do balcão em U. Vinho gelado demais, mulher bonita de menos. Cabelo armado. Gorda. Verruga no pescoço. Boca enorme. Mãos grossas. Ela brilha, um suorzinho brota do pó-de-arroz, purpurina.
— Um branco, por favor — diz a bruxa.
Chico ordenha o mijo para outro copo de vidro.
— Taí, patroa: geladinho — repete.
O garçom vira para o freguês, limpando um copo, percebe que ele observa a mulher.
-Jeitosa, não? — começa o garçon.
O freguês espia.
— Gorda.
— Que nada: fofa.
— Tem bigode. — retruca o freguês.
— Trepa como doida.
O freguês olha. Pede outro vinho.
— Tinto ou branco?
— Tinto, Chico, tinto.
Mais um risquinho na comanda. O cliente avalia:
— Bocuda.
— Melhor: gulosa. — devolve o Chico.
— Mãos grandes.
— Tem força pra "por as mãos na massa".
Silêncio.
— Suada, Chico.
— Escorrega mais.
— Tira outro.
— Tinto ou branco?
— Vá à m$%*#, Chico! Tinto.
Risquinho na comanda.
— Cabelo duro, Chico.
— Pentelhuda, patrão.
— E a verruga no pescoço?
— É? Nem reparei.
— Já comeu?
— Eu? Imagine! É madame, patrão... Não é pro meu bico.
O freguês avalia mais um pouco, e atira:
— Não dá, Chico! Ela usa pó-de-arroz!
— Ela se cuida, patrão. — ricocheteia o Chico.
Silêncio.
— Mais um.
— Tinto ou branco?
— Branco.
Pega o copo e dá a volta no balcão.
Casaram. Têm três filhos. Gordos. Ele também engordou. Só toma cerveja. Muita. O vinho é sincero demais. Sinceridade tem limite.
Um comentário:
Olha só! Não sabia que estes textos estavam por aqui. Tá bom, nem vou reclamar das "adaptadas" no texto. Sei que há umas clientelas por aí que são meio pudicas. É bom não mexer com elas.
Abraço
Branco
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