terça-feira, dezembro 27, 2005
Infeliz mente humana... Por Kátia Maia
Ah, a infeliz mente humana. Sou infelizmente humana e como tal me sujeito à loucuras insanas às quais nossa mente nos lança e muitas vezes não sabemos mais como sair. Sou por natureza uma curiosa, sou por definição uma furiosa. Tenho raiva por me aventurar tanto e por me resguardar mais ainda. Essa constante insensatez de nossos passos e a busca incontrolável do que nunca saberemos ao certo o que na verdade é, nos reduz à (in)feliz condição humana.
Deus, quando colocou nesse planeta esses seres pensante, deu liberdade demais para que pudéssemos realizar conexões inimagináveis e conjecturações diversas. Criamos, assim, uma série de situações que parecerem se repetir – porque não somos tão criativos – ou terminam por nos surpreender porque estamos interagindo e nunca sabemos a reação do outro.
Ah, infeliz mente humana....
Tão ávida por saber, esquece-se de conhecer a si mesma e compreender que é falha na hora de lidar com o outro. Esquecemo-nos que há muito mais entre o pescoço e o couro cabeludo do que possa imaginar nossa mente vã. Ela nos prega peça e nos surpreende quando menos queremos. Sou uma perdida com minha mente. Tenho toda a racionalidade do mundo, mas, me pego, muitas vezes, chorando como uma criança sem autonomia nem autoridade para ser e estar. Me pego frágil e desamparada , entretanto, consciente da minha estrada (já sem volta) que me pregou peças implacáveis. Queria voltar, sim. Queria fazer tudo de novo da mesma fora, com pequenos ajustes. Queria, na verdade, não ter tido que tomar tantas decisões. Ah, infelizmente humana, fui. Fui mesmo. E agora, já não sei mais como consertar. Nem sei se quero. A dúvida foi um dos acessórios que me seria dispensável. Mas, vim com ela e vivo nela, constantemente. Tento por tudo não sofrer, ou sofre menos por conta de decisões duvidosas que tomei, mas, confesso, tenho estado cansada e, na dúvida, não ultrapasso. Nessa estrada, tudo o que eu queria, agora, era um cantinho para me sentar – à beira do caminho, que seja -, respirar um pouco de ar fresco e me renovar para seguir em frente. Com um pouco menos de dúvida e mais certezas.
Deus, quando colocou nesse planeta esses seres pensante, deu liberdade demais para que pudéssemos realizar conexões inimagináveis e conjecturações diversas. Criamos, assim, uma série de situações que parecerem se repetir – porque não somos tão criativos – ou terminam por nos surpreender porque estamos interagindo e nunca sabemos a reação do outro.
Ah, infeliz mente humana....
Tão ávida por saber, esquece-se de conhecer a si mesma e compreender que é falha na hora de lidar com o outro. Esquecemo-nos que há muito mais entre o pescoço e o couro cabeludo do que possa imaginar nossa mente vã. Ela nos prega peça e nos surpreende quando menos queremos. Sou uma perdida com minha mente. Tenho toda a racionalidade do mundo, mas, me pego, muitas vezes, chorando como uma criança sem autonomia nem autoridade para ser e estar. Me pego frágil e desamparada , entretanto, consciente da minha estrada (já sem volta) que me pregou peças implacáveis. Queria voltar, sim. Queria fazer tudo de novo da mesma fora, com pequenos ajustes. Queria, na verdade, não ter tido que tomar tantas decisões. Ah, infelizmente humana, fui. Fui mesmo. E agora, já não sei mais como consertar. Nem sei se quero. A dúvida foi um dos acessórios que me seria dispensável. Mas, vim com ela e vivo nela, constantemente. Tento por tudo não sofrer, ou sofre menos por conta de decisões duvidosas que tomei, mas, confesso, tenho estado cansada e, na dúvida, não ultrapasso. Nessa estrada, tudo o que eu queria, agora, era um cantinho para me sentar – à beira do caminho, que seja -, respirar um pouco de ar fresco e me renovar para seguir em frente. Com um pouco menos de dúvida e mais certezas.
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Lições Corporativas
Lição No.1
Um homem está entrando no chuveiro enquanto sua mulher acaba de sair dele e está se enxugando. A campainha da porta toca. Depois de alguns segundos de discussão para ver quem iria atender a porta a mulher desiste se enrola na toalha e desce as escadas. Quando ela abre a porta, vê o vizinho Bob em pé na soleira. Antes que ela possa dizer qualquer coisa, Bob diz: "Eu lhe dou 800 dólares se você deixar cair esta toalha." Depois de pensar por alguns segundos, a mulher deixa a toalha cair e fica nua. Bob então entrega a ela os 800 dólares prometidos e vai embora. Confusa, mas excitada com sua sorte, a mulher se enrola de novo na toalha e volta para o quarto. Quando ela entra no quarto, o marido grita do chuveiro "Quem era?" "Era o Bob, o vizinho da casa ao lado." - diz ela. "Ótimo! Ele lhe deu os 800 dólares que ele estava me devendo?"
Moral da história:Se você compartilha informações a tempo você pode prevenir exposições desnecessárias!!!
Lição No.2
Dois funcionários e o gerente de uma empresa saem para almoçar e na rua encontram uma antiga lâmpada a óleo. Eles esfregam a lâmpada e de dentro dela sai um gênio. O gênio diz: "Eu só posso conceder três desejos, então, concederei um a cada um de vocês". "Eu primeiro, eu primeiro." grita um dos funcionários. "Eu quero estar nas Bahamas dirigindo um barco, sem ter nenhuma preocupação na vida!" Puf! e ele se foi. O outro funcionário se apressa a fazer o seu pedido:" Eu quero estar no Havaí, com o amor da minha vida e um provimento interminável de pinas coladas!" Puf e ele se foi. "Agora você" diz o gênio para o gerente. "Eu quero aqueles dois de volta ao escritório logo depois do almoço." - diz o gerente.
Moral da História: Deixe sempre o seu chefe falar primeiro.
Lição Nº 3
Um corvo está sentado numa árvore o dia inteiro sem fazer nada. Um pequeno coelho vê o corvo e pergunta: "Eu posso sentar como você e não fazer nada o dia inteiro?" O corvo responde: "Claro, porque não?" O coelho senta no chão embaixo da árvore e relaxa. De repente uma raposa aparece e come o coelho.
Moral da História: Para ficar sentado sem fazer nada, você deve estar sentado bem no alto.
Lição Nº 4
Na África todas as manhãs uma gazela acordava sabendo que ela deveria conseguir correr mais do que o leão se quisesse se manter viva. Todas as manhãs o leão acordava sabendo que deveria correr mais do que a gazela se não quisesse morrer de fome.
Moral da História: Não faz diferença se você é gazela ou leão, quando o sol nascer você deve começar a correr.
Lição Nº 5
Um fazendeiro resolve colher algumas frutas em sua propriedade, pega um balde vazio e segue rumo as árvores fruteiras. No caminho ao passar por uma lagoa, ouve vozes femininas que provavelmente invadiram suas terras.Ao se aproximar lentamente, observa várias garotas nuas se banhando na lagoa, quando elas percebem a sua presença, nadam até a parte mais profunda da lagoa e gritam: nós não vamos sair daqui enquanto você não deixar de nos espiar e for embora. O fazendeiro responde: eu não vim aqui para espiar vocês, eu só vim alimentar os jacarés !
Moral da História: A criatividade é o que faz a diferença na hora de atingirmos nossos objetivos.
Um Diálogo - Branco Leone
Sujeito na cama com a mulher, assistindo a uma reportagem na TV falando de doenças cardíacas. Entram os comerciais. Ele começa:
— Tava aqui pensando...
— No quê?
— Meu avô morreu mais novo do que eu sou hoje.
— E?
— Meu pai tem um sopro no coração.
— Ele e muita gente.
— Isso não é perigoso?
— Tomando certos cuidados, não.
— E eu fico vendo esses programas falando de doença, fico aqui pensando nas veias se entupindo, entupindo... Começo logo a sentir umas coisas.
— Que coisas?
— Coisas. Agora, por exemplo, estou com dor no peito. Será que uma veia entupiu?
— Você é muito influenciável...
— Você acha?
— Acho.
— Assim, tipo... hipocondríaco?
— Não chega a tanto. Só influenciável.
— Então por que você não está me influenciando, e a dor no peito continua?
— Essa dor deve ser outra coisa.
— Deve ser?
— Deve ser.
— Não é certeza, né?
— Não, não é certeza. Mas deve ser outra coisa.
— Por exemplo?
— A posição em que você está sentado, todo torto. Ou gases.
— Gases?
— É. Gases. Aparece gente na emergência do hospital achando que está tendo um ataque cardíaco, com dor no braço esquerdo, angina, a pressão lá em cima, pra gente descobrir depois do elétro que a culpa é da feijoada que o cara comeu no almoço.
— Que coisa...
— Pois é.
Silêncio. Agora é ela que continua.
— Ainda dói?
— Dói. É pra eu ficar com medo?
— Não. Devem ser gases.
Ele continua olhando os comerciais na TV. Concentra-se. Aperta os olhos. Sorri. Ela sai da cama depressa, xingando.
— Credo, Álvaro, que horror!
Ele, sozinho na cama, para si:
— Eram gases. — abana as cobertas — Será que é isso que os médicos chamam de sopro — ajeita-se na cama — Deve ser isso. Passou.
— Tava aqui pensando...
— No quê?
— Meu avô morreu mais novo do que eu sou hoje.
— E?
— Meu pai tem um sopro no coração.
— Ele e muita gente.
— Isso não é perigoso?
— Tomando certos cuidados, não.
— E eu fico vendo esses programas falando de doença, fico aqui pensando nas veias se entupindo, entupindo... Começo logo a sentir umas coisas.
— Que coisas?
— Coisas. Agora, por exemplo, estou com dor no peito. Será que uma veia entupiu?
— Você é muito influenciável...
— Você acha?
— Acho.
— Assim, tipo... hipocondríaco?
— Não chega a tanto. Só influenciável.
— Então por que você não está me influenciando, e a dor no peito continua?
— Essa dor deve ser outra coisa.
— Deve ser?
— Deve ser.
— Não é certeza, né?
— Não, não é certeza. Mas deve ser outra coisa.
— Por exemplo?
— A posição em que você está sentado, todo torto. Ou gases.
— Gases?
— É. Gases. Aparece gente na emergência do hospital achando que está tendo um ataque cardíaco, com dor no braço esquerdo, angina, a pressão lá em cima, pra gente descobrir depois do elétro que a culpa é da feijoada que o cara comeu no almoço.
— Que coisa...
— Pois é.
Silêncio. Agora é ela que continua.
— Ainda dói?
— Dói. É pra eu ficar com medo?
— Não. Devem ser gases.
Ele continua olhando os comerciais na TV. Concentra-se. Aperta os olhos. Sorri. Ela sai da cama depressa, xingando.
— Credo, Álvaro, que horror!
Ele, sozinho na cama, para si:
— Eram gases. — abana as cobertas — Será que é isso que os médicos chamam de sopro — ajeita-se na cama — Deve ser isso. Passou.
Devaneios Sob Um Copo de Vinho - Silvia Curiati
Colocou o dedo mindinho dentro da taça, tentando alcançar o pequeno pedaço de rolha que boiava. O vinho tingiu sua unha francesa, que longa o suficiente, carregou o corpo estranho para fora, em direção ao cinzeiro. Lambeu a gota de vinho seco que molhava seu dedinho e com a outra mão ergueu a taça, olhando displicente o garçom, que levava uma sobremesa fina à mesa ao lado. Deu um gole.
Ele a fitava, apaixonado. As mãos. A que segurava a taça e a que sujou-se de vinho. A elegante e a trabalhadora. A que desfruta e a que paga. Analogias estúpidas, estas de amantes. Eram apenas duas mãos cuidadas, manicure francesa feita naquela manhã.
Ela sempre aparecia de unhas polidas e cabelos soltos às quintas. Fios lisinhos, brilhantes. Parecia um bom dia, porque estaria pronta para as noites do fim-de-semana e ao mesmo tempo sentiria-se melhor trabalhando bem arrumada pelo menos dois dias.
Bobagem, era linda às quartas-feiras. De moletom, que odiava vestir (sentia-se doente num dia chuvoso de inverno), era ainda mais adorável, porque aproveitava que se via feia e amarrava os cabelos em um nó inexplicável, colocando óculos e chinelo.
Usava um vestido preto e vermelho, naquele momento. Um colar comprido com um pingente em forma de coração. Ele namorava o seu coração. O rosa de pedra e o vermelho de fogo, debaixo daquele pano fino, daquela pele macia. Os olhos maquiados em tons escuros pareciam ainda mais claros, e evitavam os seus. Ela o amava, sabia disso. Mas era linda demais. Bom seus olhos não se encontrarem, ou ele morreria afogado em tanta luz.
Excesso de beleza pode ser prejudicial à visão. Ao seu coração de argila úmida.
Disse que iria comprar cigarros no bar da frente. Não fumava, ela sabia. Teve vontade, supôs. E foi assim sempre, deixava-o livre, à mercê de suas ganas.
Ela deu mais um gole no vinho, deixando umas gotas mancharem a toalha branca. Ele levantou-se e partiu, deixando um cheiro eterno de tabaco queimado no olfato da mulher de unhas francesas e cabelos lisos.
Ele a fitava, apaixonado. As mãos. A que segurava a taça e a que sujou-se de vinho. A elegante e a trabalhadora. A que desfruta e a que paga. Analogias estúpidas, estas de amantes. Eram apenas duas mãos cuidadas, manicure francesa feita naquela manhã.
Ela sempre aparecia de unhas polidas e cabelos soltos às quintas. Fios lisinhos, brilhantes. Parecia um bom dia, porque estaria pronta para as noites do fim-de-semana e ao mesmo tempo sentiria-se melhor trabalhando bem arrumada pelo menos dois dias.
Bobagem, era linda às quartas-feiras. De moletom, que odiava vestir (sentia-se doente num dia chuvoso de inverno), era ainda mais adorável, porque aproveitava que se via feia e amarrava os cabelos em um nó inexplicável, colocando óculos e chinelo.
Usava um vestido preto e vermelho, naquele momento. Um colar comprido com um pingente em forma de coração. Ele namorava o seu coração. O rosa de pedra e o vermelho de fogo, debaixo daquele pano fino, daquela pele macia. Os olhos maquiados em tons escuros pareciam ainda mais claros, e evitavam os seus. Ela o amava, sabia disso. Mas era linda demais. Bom seus olhos não se encontrarem, ou ele morreria afogado em tanta luz.
Excesso de beleza pode ser prejudicial à visão. Ao seu coração de argila úmida.
Disse que iria comprar cigarros no bar da frente. Não fumava, ela sabia. Teve vontade, supôs. E foi assim sempre, deixava-o livre, à mercê de suas ganas.
Ela deu mais um gole no vinho, deixando umas gotas mancharem a toalha branca. Ele levantou-se e partiu, deixando um cheiro eterno de tabaco queimado no olfato da mulher de unhas francesas e cabelos lisos.
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Como Sobreviver ao Natal (Um Manual Cretino) - Walter Carrilho
O Natal pode ser maravilhoso. Ou um porre. No seu caso provavelmente vai ser uma droga (sim, sou um cara sincero). Então tá na hora de você tomar uma atitude. Como, por exemplo, fazer com que o natal dos outros também seja uma droga. Democracia é isso aí. Preste atenção neste manual para sobreviver com alguma sanidade mental aos dias de "djingou béus".
Nada de otimismo: Você terminou o ano passado dizendo “Ano que vem eu vou ganhar mais dinheiro, vou mudar de vida, tudo vai ser melhor!” Pois bem, mas não foi. Você continua ganhando uma merreca e sua vida é a mesma m****. Tome jeito. No fim de ano, nada de ficar alimentando esperanças. Assuma que 2006 vai ser apenas mais um ano em sua vida infeliz. É melhor ser realista.
Fora Papai Noel: Papai Noel é um sacana. Você passa o ano inteiro se comportando direitinho, evitando jogar pedra em cachorro, etc. E no natal ganha aquela bermudinha ridícula. O seu vizinho, aquela peste mimada que chuta a canela das visitas, ganha um autorama. Enfim, Papai Noel é apenas um gordo bobo e injusto em um trenó puxado por renas boiolinhas. Se você vir alguém vestido como Papai Noel, bata nele. Com força.
Compras: se você não é um milionário que faz compras na Daslu, provavelmente vai ter que enfrentar a selva de vovós e titias ensandecidas atrás dos seus presentinhos em algum shopping. Todo mundo recomenda ter paciência. Nada disso! Não espere que a correria o deixe neurótico. Fique neurótico antes. Vá para as compras como quem vai pra selva: de facão na mão. Só vai ter uma camisa na prateleira daquela loja. E ela TEM que ser sua. Não tenha dó de ninguém.
Não Gaste: Todos dizem que é melhor dar do que receber. Sejamos honestos, é mentira. Você dá os melhores presentes para deixar todo mundo feliz e recebe um par de meias e um CD de novela (8 paus na barraquinha da promoção...) em troca. Não dê presentes. Não dizem que o mais importante é a boa intenção? Ok, então dê caixas de papelão CHEIAS de “boa intenção”. Aposto que todos vão a-do-rar.
Festas: reuniões de Natal são uma forma sádica de reunir pessoas que não se gostam para trocarem presentes e abraços. Você tem que fingir que realmente deseja um feliz Natal para aquele seu primo chato ou para aquele colega de trabalho que está tentando puxar o seu tapete. Vai ter que agüentar discursos chatos e um milhão de tapinhas nas costas. Só há uma forma de escapar: tomando um porre. Daqueles de dar vexame. Assim, no ano que vem todo mundo evita de te convidar. Enfim sossego! Ah, desejo a todos boas festas. De verdade. Tá bom, vocês não acreditam...ah dane-se....
Nada de otimismo: Você terminou o ano passado dizendo “Ano que vem eu vou ganhar mais dinheiro, vou mudar de vida, tudo vai ser melhor!” Pois bem, mas não foi. Você continua ganhando uma merreca e sua vida é a mesma m****. Tome jeito. No fim de ano, nada de ficar alimentando esperanças. Assuma que 2006 vai ser apenas mais um ano em sua vida infeliz. É melhor ser realista.
Fora Papai Noel: Papai Noel é um sacana. Você passa o ano inteiro se comportando direitinho, evitando jogar pedra em cachorro, etc. E no natal ganha aquela bermudinha ridícula. O seu vizinho, aquela peste mimada que chuta a canela das visitas, ganha um autorama. Enfim, Papai Noel é apenas um gordo bobo e injusto em um trenó puxado por renas boiolinhas. Se você vir alguém vestido como Papai Noel, bata nele. Com força.
Compras: se você não é um milionário que faz compras na Daslu, provavelmente vai ter que enfrentar a selva de vovós e titias ensandecidas atrás dos seus presentinhos em algum shopping. Todo mundo recomenda ter paciência. Nada disso! Não espere que a correria o deixe neurótico. Fique neurótico antes. Vá para as compras como quem vai pra selva: de facão na mão. Só vai ter uma camisa na prateleira daquela loja. E ela TEM que ser sua. Não tenha dó de ninguém.
Não Gaste: Todos dizem que é melhor dar do que receber. Sejamos honestos, é mentira. Você dá os melhores presentes para deixar todo mundo feliz e recebe um par de meias e um CD de novela (8 paus na barraquinha da promoção...) em troca. Não dê presentes. Não dizem que o mais importante é a boa intenção? Ok, então dê caixas de papelão CHEIAS de “boa intenção”. Aposto que todos vão a-do-rar.
Festas: reuniões de Natal são uma forma sádica de reunir pessoas que não se gostam para trocarem presentes e abraços. Você tem que fingir que realmente deseja um feliz Natal para aquele seu primo chato ou para aquele colega de trabalho que está tentando puxar o seu tapete. Vai ter que agüentar discursos chatos e um milhão de tapinhas nas costas. Só há uma forma de escapar: tomando um porre. Daqueles de dar vexame. Assim, no ano que vem todo mundo evita de te convidar. Enfim sossego! Ah, desejo a todos boas festas. De verdade. Tá bom, vocês não acreditam...ah dane-se....
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Max Weber
Não desejarás! - Sérgio Kohan
Não desejarás a mulher do próximo!...
... e a mulher do próximo, pode me desejar?
E se desejo o próximo ou ele me deseja?
E se o próximo não deseja a mulher dele?
E se a mulher do próximo não deseja ele?
E se os três nos desejamos?
E se ninguém deseja ninguém?
E se minha mulher deseja a mulher do próximo?
E, por que não... o próximo?
E se o próximo deseja minha mulher?
E se eu desejo a minha mulher e a do próximo?
E se ambas me desejam?
E se... todos nos desejamos?...
Sempre aparecerá alguém para dizer: "vamos parar por aí!... não desejarás!... e ponto final!"
... e a mulher do próximo, pode me desejar?
E se desejo o próximo ou ele me deseja?
E se o próximo não deseja a mulher dele?
E se a mulher do próximo não deseja ele?
E se os três nos desejamos?
E se ninguém deseja ninguém?
E se minha mulher deseja a mulher do próximo?
E, por que não... o próximo?
E se o próximo deseja minha mulher?
E se eu desejo a minha mulher e a do próximo?
E se ambas me desejam?
E se... todos nos desejamos?...
Sempre aparecerá alguém para dizer: "vamos parar por aí!... não desejarás!... e ponto final!"
terça-feira, dezembro 20, 2005
João Ubaldo Ribeiro
Se não entendo tudo, devo ficar contente com o que entendo. E entendo que vejo estas árvores e que tenho direito a minha língua e que posso olhar nos olhos dos estranhos e dizer: não me desculpe por não gostar do que você gosta; não me olhe de cima para baixo; não me envergonhe de minha fala; não diga que minha fala é melhor do que a sua; não diga que eu sou bonito, porque sua mulher nunca ia ter casado comigo; não seja bom comigo, não me faça favor; seja homem, filho da puta, e reconheça que não deve comer o que eu não como, em vez de me falar concordâncias e me passar a mão pela cabeça; assim poderei matar você melhor, como você me mata há tantos anos.
CAPÍTULO II - A Criação do Homem, por Rogério Vilela
Deus criou tudo, se esforçou tanto, ficou tão orgulhoso de sua criação, que precisava que alguém que batesse em suas costas e que dissesse: “Deus, cê é bom para caramba cara, cê é muito competente no que cê faz! Mesmo!”. Deus queria criar algo que falasse... Deus queria criar alguém que fosse a cara dele, com o corpo dele e que pensasse como ele. Pra isso, Ele sentou-se em sua prancheta e começou a rabiscar, fazer esboços de como seria este “ser”. Como não era muito bom nessa coisa de arte, seus primeiros desenhos ficaram uma droga. Cabeça pequena, braços e pernas enormes, testa enrugarrada, patas, penas, escamas... Deus acabou criando milhares e milhares de desenhos ruins, mas que Ele não jogou fora. “Serão outros seres que eu colocarei na Terra”. De repente, Deus começou a gargalhar: havia criado o mais ridículo ser, algo que Ele depois colocou o nome de Ornitorrinco.
Embalado pelo humor e falta de habilidades artísticas, acabou criando vários seres esdrúxulos e estranhos: Girafa, Zebra, Ray Conniff, Pedro de Lara, Rinoceronte e tantos outros... Deus não iria conseguir desenhar nada que se parecesse com Ele, mas Deus é Deus e teve a brilhante idéia de tirar uma foto de corpo inteiro e ir até a Praça da República pedir para que um daqueles pintores barbudos com sotaque espanhol fizesse um retrato dEle. Estava criado o homem! No começo, o homem ficava flutuando pelado pelo espaço e Deus achou isso ridículo e sem propósito. Não era bom que sua principal criação não ficasse presa ao seu melhor planeta. Ele encomendou toneladas de cola branca e derramou tudo pelos vales e montanhas da Terra. Depois olhou para sua maravilhosa criação de carne e osso e disse, em tom paternal: “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”. “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”, o homem respondeu. Deus não achou graça e já meteu logo um tapão na cabeça do homem, que era pra ele ficar esperto. E achou que isto era bom. Caminharam juntos pelo universo até um ponto. Deus parou por alguns segundos, apontando para baixo. Ele mostrou o planeta azul para o homem: “É aqui que cê vai ficar, meu filho. O papai vai ter que fazer uma viagem de negócios e cê vai ter que ficar um tempo sozinho, num lugar cheio de plantinhas, animais ferozes e tantas outras coisinhas que não vai dar tempo de contar...” O homem nada respondeu, pois ainda lhe doía a porrada divina. No fim do corredor, quando chegaram à porta do elevador celestial, puderam ler um aviso pregado na porta: “antes de entrar no elevador, favor favor verificar se o mesmo se encontra estacionado no andar”.
Dentro do elevador, eles entraram e apertaram o Térreo.
Aqui vai a transcrição da primeira conversa entre Deus e Adão, durante a descida ao planeta Terra:
- E aí, cara, beleza?
- Só.
- Mas... homem, tá tudo bem com você?
- Só.
- Tá quente hoje, né, Adão? Posso te chamar de Adão?
- Só.
Deus ficou preocupado com a falta de assunto do homem. Seria bom que ele tivesse um cérebro melhor do que dos outros seres e Deus, num estalar de dedos, deu um modelo avançado de cérebro 2.0 gasolina para o homem. Quando a porta do elevador abriu, Deus se despediu do homem com um aperto de mão. a verdade é que Deus teve vontade de dar um forte abraço, mas o homem estava peladão e isto poderia deixar o Criador com fama de frutinha pelos corredores do universo e Ele, que é macho praca, não gosta de mal-entendido.
- Boa sorte, Adão.
- Só
- Saco...
Deus quis acreditar que o homem um dia saberia usar seu novo cérebro.
Adão se foi, nu, sozinho, com seu cérebro novo e ainda mal usado, cabreiro pra caramba, afinal, havia um mundo inóspito a ser conquistado.
Wagner Teso pesquisou muito antes de escrever uma carta pedindo dinheiro ao pai. Wagner é assim mesmo, um pesquisador. E calça calças pretas à noite para ficar parecido com o Batman.
Embalado pelo humor e falta de habilidades artísticas, acabou criando vários seres esdrúxulos e estranhos: Girafa, Zebra, Ray Conniff, Pedro de Lara, Rinoceronte e tantos outros... Deus não iria conseguir desenhar nada que se parecesse com Ele, mas Deus é Deus e teve a brilhante idéia de tirar uma foto de corpo inteiro e ir até a Praça da República pedir para que um daqueles pintores barbudos com sotaque espanhol fizesse um retrato dEle. Estava criado o homem! No começo, o homem ficava flutuando pelado pelo espaço e Deus achou isso ridículo e sem propósito. Não era bom que sua principal criação não ficasse presa ao seu melhor planeta. Ele encomendou toneladas de cola branca e derramou tudo pelos vales e montanhas da Terra. Depois olhou para sua maravilhosa criação de carne e osso e disse, em tom paternal: “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”. “Cara, cê tem que fazer tudo o que eu faço, dizer tudo o que eu digo, da maneira que eu digo, entendeu?”, o homem respondeu. Deus não achou graça e já meteu logo um tapão na cabeça do homem, que era pra ele ficar esperto. E achou que isto era bom. Caminharam juntos pelo universo até um ponto. Deus parou por alguns segundos, apontando para baixo. Ele mostrou o planeta azul para o homem: “É aqui que cê vai ficar, meu filho. O papai vai ter que fazer uma viagem de negócios e cê vai ter que ficar um tempo sozinho, num lugar cheio de plantinhas, animais ferozes e tantas outras coisinhas que não vai dar tempo de contar...” O homem nada respondeu, pois ainda lhe doía a porrada divina. No fim do corredor, quando chegaram à porta do elevador celestial, puderam ler um aviso pregado na porta: “antes de entrar no elevador, favor favor verificar se o mesmo se encontra estacionado no andar”.
Dentro do elevador, eles entraram e apertaram o Térreo.
Aqui vai a transcrição da primeira conversa entre Deus e Adão, durante a descida ao planeta Terra:
- E aí, cara, beleza?
- Só.
- Mas... homem, tá tudo bem com você?
- Só.
- Tá quente hoje, né, Adão? Posso te chamar de Adão?
- Só.
Deus ficou preocupado com a falta de assunto do homem. Seria bom que ele tivesse um cérebro melhor do que dos outros seres e Deus, num estalar de dedos, deu um modelo avançado de cérebro 2.0 gasolina para o homem. Quando a porta do elevador abriu, Deus se despediu do homem com um aperto de mão. a verdade é que Deus teve vontade de dar um forte abraço, mas o homem estava peladão e isto poderia deixar o Criador com fama de frutinha pelos corredores do universo e Ele, que é macho praca, não gosta de mal-entendido.
- Boa sorte, Adão.
- Só
- Saco...
Deus quis acreditar que o homem um dia saberia usar seu novo cérebro.
Adão se foi, nu, sozinho, com seu cérebro novo e ainda mal usado, cabreiro pra caramba, afinal, havia um mundo inóspito a ser conquistado.
Wagner Teso pesquisou muito antes de escrever uma carta pedindo dinheiro ao pai. Wagner é assim mesmo, um pesquisador. E calça calças pretas à noite para ficar parecido com o Batman.
CAPÍTULO I - A Criação do Universo, por Wagner Teso
“E Deus começou do começo...”
No princípio, Deus tava sozinho, sem nada pra fazer, numa pequena sala escura e vazia. Na verdade, não era só uma sala. Era um quarto e sala bacana, em alguma parte do universo, que ainda não existia. Eis o problema pra Deus: se o universo não existia, como é que Ele podia estar nele. Aí Ele pensou: “por que as coisas são assim?”. Foi por isso que disse pra luz: “Luz, vai fazer alguma coisa!”. E a luz fez. Depois Ele disse para um casal de gansos que passava por ali (que também ainda não existia): “casal de gansos, faça alguma coisa”, e o casal de ganso fez. No tapete persa de Deus. E Deus ficou furioso. E rodou a baiana. Isso ficou conhecido como Big Bang. O universo inteiro soube do grande acontecimento: igual à queima de fogos em Copacabana, na virada do ano, essa explosão primordial foi um sucesso, expandindo o universo, fazendo com que Deus começasse a achar que tinha jeito pra coisa, ainda mais depois que ter sido capa da Times e da revista Caras.
As estrelas surgiram primeiro. Com vários tamanhos e formas: estrelas redondas, quadradas, pontiagudas, de todas as cores... Deus achou que isso seria suficiente e descansou por alguns meses. As estrelas, na verdade, não eram conhecidas por esse nome. Deus não era muito bom nesse negócio de dar nome às coisas. Sabe como é, dar nome é um saco, ter que pensar nas possibilidades... Ele até comprou um livro chamado “mil nomes para o seu bebê”, mas não achou nenhum que o agradasse. Dizem que as estrelas quase foram batizadas com o nome de Joseclir, mas não há provas concretas sobre isso. Deus perdeu um bom tempo, pensando e pensando muito consigo mesmo: “como eu vou chamar essas coisinhas que brilham?”. Até que um dia, chegou à conclusão de que “estrela” era um nome jóia, bacana. Não me perguntem o porquê da escolha, pois eu não sei. De qualquer maneira, é melhor chamarmos as estrelas de estrelas, ao invés de apontarmos para o céu e dizermos “olhar aquele Joseclir! Que bonito!”. Com o decorrer dos anos-luz, as estrelas começaram a reunir-se nos finais de semana para fazer as unhas e colocar a fofoca em dia. Esses encontros ficaram conhecidos como constelações. Algumas delas eram muito nervosas e explodiam fácil, fácil, entrando em colapso, depois sumindo... as estrelas desapareciam e não mais davam notícias. Nunca mais...
O tempo passava e Deus estava impaciente. Como não havia ainda programas de auditório, O Todo-poderoso era obrigado a ficar olhando para as estrelas e até achou legal fazer isso no começo, mas a verdade é que ele tava começando a ficar de saco cheio de ficar lá, sentadão com seu saiote branco, vendo aquele monte de pontinhos brancos piscando...
Agora que a luz iluminava todo o universo, ficou fácil perceber que havia várias coisas que precisavam ser feitas, coisas pra preencher o seu grande vazio. Quando digo “seu grande vazio”, que fique bem claro que eu me refiro ao “grande vazio do universo”, fui claro? “Algo deve ser feito”, Ele pensou. E olhou para o casal de gansos, para a luz e decidiu que era melhor fazer tudo sozinho. Então Ele fez, já que Ele era e é Deus. E Deus pode tudo. Criou planetas, meteoros, cometas, Pokémons e mais uma porção de coisas grandiosas e bonitas.
Mas um planetinha chamou a Sua atenção: uma pequena rocha que flutuava no espaço, ao lado de outras, perto de uma estrela que Ele chamava de Sol. Deus se animou tanto, mas tanto, que colocou um pouco de água neste lugar. E Deus viu que isto era bom. Colocou mais água e viu que ficou melhor ainda. Seguindo uma receita de bolo de um livro de receitas velho, colocou mais e mais água. Aí veio a dúvida: Ele queria porque queria colocar o nome deste planeta de Terra, mas ele já havia derramado tanta água, que ficaria meio sem-sentido não chamar a Terra de Água. Mas Deus gastou uma boa grana registrando o domínio de Terra na Internet, por isso também desencanou de mudar o nome. Teve um outro motivo também, mas não vem ao caso, já que tem a ver com grana e Deus não gosta de falar de dinheiro sem a presença de seu advogado, um cara que ele não se dá muito bem e que fica infernizando a Sua vida. Dizem que Deus demorou seis dias para criar tudo e descansou no sétimo dia. Não sei não! Como Deus controla o tempo, cada dia tinha mais de vinte e quatro horas, o que não pode ser contado como dia, porque, na verdade o “dia de Deus” era composto por trinta mil horas e quarenta e seis minutos, com duas pausas para refeições.
O Sindicato dos criadores de universos, fundado e presidido pelo próprio Deus onipotente até que tentou tumultuar, promovendo passeatas em frente da casa do Todo-poderoso, dono da maior multinacional que já existiu: o universo. Deus, como se sabe, divide-se em três pessoas, a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Durante as manifestações, houve um momento único e emocionante, quando Deus começou a gritar: “Deus unido, jamais será vencido!” A imprensa fez uma cobertura completa, abrangente, mas infelizmente não conseguiu chamar a atenção da população pelo simples fato de não existir ainda população. Esta seria a próxima missão de Deus: criar alguém parecido com Ele...
Wagner Teso lembra de tudo o que aconteceu antes do universo começar, mas não se lembra onde colocou a chave do carro.
Não perca a emocionante continuação da história:
Capítulo II : A criação do homem
No princípio, Deus tava sozinho, sem nada pra fazer, numa pequena sala escura e vazia. Na verdade, não era só uma sala. Era um quarto e sala bacana, em alguma parte do universo, que ainda não existia. Eis o problema pra Deus: se o universo não existia, como é que Ele podia estar nele. Aí Ele pensou: “por que as coisas são assim?”. Foi por isso que disse pra luz: “Luz, vai fazer alguma coisa!”. E a luz fez. Depois Ele disse para um casal de gansos que passava por ali (que também ainda não existia): “casal de gansos, faça alguma coisa”, e o casal de ganso fez. No tapete persa de Deus. E Deus ficou furioso. E rodou a baiana. Isso ficou conhecido como Big Bang. O universo inteiro soube do grande acontecimento: igual à queima de fogos em Copacabana, na virada do ano, essa explosão primordial foi um sucesso, expandindo o universo, fazendo com que Deus começasse a achar que tinha jeito pra coisa, ainda mais depois que ter sido capa da Times e da revista Caras.
As estrelas surgiram primeiro. Com vários tamanhos e formas: estrelas redondas, quadradas, pontiagudas, de todas as cores... Deus achou que isso seria suficiente e descansou por alguns meses. As estrelas, na verdade, não eram conhecidas por esse nome. Deus não era muito bom nesse negócio de dar nome às coisas. Sabe como é, dar nome é um saco, ter que pensar nas possibilidades... Ele até comprou um livro chamado “mil nomes para o seu bebê”, mas não achou nenhum que o agradasse. Dizem que as estrelas quase foram batizadas com o nome de Joseclir, mas não há provas concretas sobre isso. Deus perdeu um bom tempo, pensando e pensando muito consigo mesmo: “como eu vou chamar essas coisinhas que brilham?”. Até que um dia, chegou à conclusão de que “estrela” era um nome jóia, bacana. Não me perguntem o porquê da escolha, pois eu não sei. De qualquer maneira, é melhor chamarmos as estrelas de estrelas, ao invés de apontarmos para o céu e dizermos “olhar aquele Joseclir! Que bonito!”. Com o decorrer dos anos-luz, as estrelas começaram a reunir-se nos finais de semana para fazer as unhas e colocar a fofoca em dia. Esses encontros ficaram conhecidos como constelações. Algumas delas eram muito nervosas e explodiam fácil, fácil, entrando em colapso, depois sumindo... as estrelas desapareciam e não mais davam notícias. Nunca mais...
O tempo passava e Deus estava impaciente. Como não havia ainda programas de auditório, O Todo-poderoso era obrigado a ficar olhando para as estrelas e até achou legal fazer isso no começo, mas a verdade é que ele tava começando a ficar de saco cheio de ficar lá, sentadão com seu saiote branco, vendo aquele monte de pontinhos brancos piscando...
Agora que a luz iluminava todo o universo, ficou fácil perceber que havia várias coisas que precisavam ser feitas, coisas pra preencher o seu grande vazio. Quando digo “seu grande vazio”, que fique bem claro que eu me refiro ao “grande vazio do universo”, fui claro? “Algo deve ser feito”, Ele pensou. E olhou para o casal de gansos, para a luz e decidiu que era melhor fazer tudo sozinho. Então Ele fez, já que Ele era e é Deus. E Deus pode tudo. Criou planetas, meteoros, cometas, Pokémons e mais uma porção de coisas grandiosas e bonitas.
Mas um planetinha chamou a Sua atenção: uma pequena rocha que flutuava no espaço, ao lado de outras, perto de uma estrela que Ele chamava de Sol. Deus se animou tanto, mas tanto, que colocou um pouco de água neste lugar. E Deus viu que isto era bom. Colocou mais água e viu que ficou melhor ainda. Seguindo uma receita de bolo de um livro de receitas velho, colocou mais e mais água. Aí veio a dúvida: Ele queria porque queria colocar o nome deste planeta de Terra, mas ele já havia derramado tanta água, que ficaria meio sem-sentido não chamar a Terra de Água. Mas Deus gastou uma boa grana registrando o domínio de Terra na Internet, por isso também desencanou de mudar o nome. Teve um outro motivo também, mas não vem ao caso, já que tem a ver com grana e Deus não gosta de falar de dinheiro sem a presença de seu advogado, um cara que ele não se dá muito bem e que fica infernizando a Sua vida. Dizem que Deus demorou seis dias para criar tudo e descansou no sétimo dia. Não sei não! Como Deus controla o tempo, cada dia tinha mais de vinte e quatro horas, o que não pode ser contado como dia, porque, na verdade o “dia de Deus” era composto por trinta mil horas e quarenta e seis minutos, com duas pausas para refeições.
O Sindicato dos criadores de universos, fundado e presidido pelo próprio Deus onipotente até que tentou tumultuar, promovendo passeatas em frente da casa do Todo-poderoso, dono da maior multinacional que já existiu: o universo. Deus, como se sabe, divide-se em três pessoas, a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Durante as manifestações, houve um momento único e emocionante, quando Deus começou a gritar: “Deus unido, jamais será vencido!” A imprensa fez uma cobertura completa, abrangente, mas infelizmente não conseguiu chamar a atenção da população pelo simples fato de não existir ainda população. Esta seria a próxima missão de Deus: criar alguém parecido com Ele...
Wagner Teso lembra de tudo o que aconteceu antes do universo começar, mas não se lembra onde colocou a chave do carro.
Não perca a emocionante continuação da história:
Capítulo II : A criação do homem
I Love My Pets - Silvia Curiati
A gente queria cachorrinho, mas dentro de apartamento era complicado. Dá pena deixar o bichinho preso, etc. e tal. Fora as crises de bronquite e renite das madames.
Então tivemos pintinhos. Um pintinho e uma pintinha amarelinhos. Como qualquer pintinho que se preze, eles cresceram e como éramos muito pequenas pra ver o que acontece quando pintinhos crescem na área de serviço de um apartamento, acordamos um belo dia sem pintinhos e com strogonoff de frango para o almoço. Não estou insinuando nada, veja bem. Conservei a inocência da explicação em minha mente: eles foram morar numa fazenda. Mesmo porque seria meio esdrúxulo transformá-los em strogonoff na cozinha de um apartamento.
Tivemos peixinhos. Um laranja que fazia caca por todo o aquário, uns paulistinhas, neon-cardinal e outros sem nome, dos quais não me lembro. Foram parar no consultório do meu pai, acho. Não sei direito. Lembro de histórias de peixes cometendo suicídio, pulando do aquário, mas não sei se foi algum dos nossos.
Aí vieram os periquitos, dois casais, um verde e um azul. A periquita azul gostava do periquito verde e a verde do azul, mas o cara da loja insistiu para separarmos a gaiola com uma divisória de grade, deixando cada um com seu respectivo de mesma cor. Nada de adultério. Uma manhã, o verde está enforcado entre as grades e a azul cheia de jornal e elástico no biquinho, ambos mortos. O casal restante viveu feliz para sempre, e até hoje não sabemos se foi suicídio a la Romeu e Julieta ou assassinato, um crime passional.
Depois tivemos a Dot e o Jerry, um hamster branco e um cinza, respectivamente. Eram engraçadíssimos. A Dot adoeceu, e o Jerry ficou desesperado, gritava e clamava por ajuda. Uma coisa impressionante. Ela morreu e ele ainda viveu bastante tempo, para um hamster.
Agora temos namorados. E há infinitas histórias engraçadas sobre eles, porque namorados são como bichinhos de estimação falantes. Não dormem em gaiolas ou aquários, não viram strogonoff, não latem nem fazem sujeira no chão. Ou melhor, às vezes fazem. E soltam pêlos pela casa, também. Mordem quando contrariados e recusam-se a fazer os truques que lhes ensinamos diante de amigos. Tá certo, serei justa. Os nossos são bastante educados. Algumas vezes lavam a louça e as roupas. Isso somente quando querem ganhar algo da dona, ou quando estão perto de outros bichinhos melhor domesticados. Porque há donas que não sabem educar seus namorados, e eles acabam tornando-se péssima companhia - bichinhos-namorados são como crianças, imitam o que há de pior.
Acho que deve ser uma boa abrir um namo-shop, como aqueles pet-shops que cuidam do bichinho enquanto a dona sai com as amigas... Dão banho, cortam os pêlos que sobram, dão um trato especial e algum treinamento. E tem que ser comandado por mulheres muito feias e más, porque assim o bichinho fica feliz e abana o rabinho quando vê a dona. Pode até rolar um futebol durante a tarde, pra descarregar as energias, assim eles amansam.
Sei lá, pensei em tudo isso porque uma amiga sem namorado comprou um gato e ele tem sido sua melhor companhia, desde 3 namorados atrás - e seu comentário foi no mínimo engraçado. Daí viajei...
Então tivemos pintinhos. Um pintinho e uma pintinha amarelinhos. Como qualquer pintinho que se preze, eles cresceram e como éramos muito pequenas pra ver o que acontece quando pintinhos crescem na área de serviço de um apartamento, acordamos um belo dia sem pintinhos e com strogonoff de frango para o almoço. Não estou insinuando nada, veja bem. Conservei a inocência da explicação em minha mente: eles foram morar numa fazenda. Mesmo porque seria meio esdrúxulo transformá-los em strogonoff na cozinha de um apartamento.
Tivemos peixinhos. Um laranja que fazia caca por todo o aquário, uns paulistinhas, neon-cardinal e outros sem nome, dos quais não me lembro. Foram parar no consultório do meu pai, acho. Não sei direito. Lembro de histórias de peixes cometendo suicídio, pulando do aquário, mas não sei se foi algum dos nossos.
Aí vieram os periquitos, dois casais, um verde e um azul. A periquita azul gostava do periquito verde e a verde do azul, mas o cara da loja insistiu para separarmos a gaiola com uma divisória de grade, deixando cada um com seu respectivo de mesma cor. Nada de adultério. Uma manhã, o verde está enforcado entre as grades e a azul cheia de jornal e elástico no biquinho, ambos mortos. O casal restante viveu feliz para sempre, e até hoje não sabemos se foi suicídio a la Romeu e Julieta ou assassinato, um crime passional.
Depois tivemos a Dot e o Jerry, um hamster branco e um cinza, respectivamente. Eram engraçadíssimos. A Dot adoeceu, e o Jerry ficou desesperado, gritava e clamava por ajuda. Uma coisa impressionante. Ela morreu e ele ainda viveu bastante tempo, para um hamster.
Agora temos namorados. E há infinitas histórias engraçadas sobre eles, porque namorados são como bichinhos de estimação falantes. Não dormem em gaiolas ou aquários, não viram strogonoff, não latem nem fazem sujeira no chão. Ou melhor, às vezes fazem. E soltam pêlos pela casa, também. Mordem quando contrariados e recusam-se a fazer os truques que lhes ensinamos diante de amigos. Tá certo, serei justa. Os nossos são bastante educados. Algumas vezes lavam a louça e as roupas. Isso somente quando querem ganhar algo da dona, ou quando estão perto de outros bichinhos melhor domesticados. Porque há donas que não sabem educar seus namorados, e eles acabam tornando-se péssima companhia - bichinhos-namorados são como crianças, imitam o que há de pior.
Acho que deve ser uma boa abrir um namo-shop, como aqueles pet-shops que cuidam do bichinho enquanto a dona sai com as amigas... Dão banho, cortam os pêlos que sobram, dão um trato especial e algum treinamento. E tem que ser comandado por mulheres muito feias e más, porque assim o bichinho fica feliz e abana o rabinho quando vê a dona. Pode até rolar um futebol durante a tarde, pra descarregar as energias, assim eles amansam.
Sei lá, pensei em tudo isso porque uma amiga sem namorado comprou um gato e ele tem sido sua melhor companhia, desde 3 namorados atrás - e seu comentário foi no mínimo engraçado. Daí viajei...
segunda-feira, dezembro 19, 2005
O poderoso Padrinho
Bonasera:
I believe in America. America has made my fortune. And I raised my daughter in the American fashion. I gave her freedom, but I taught her never to dishonor her family. She found a boyfriend; not an Italian. She went to the movies with him; she stayed out late. I didn't protest. Two months ago, he took her for a drive, with another boyfriend. They made her drink whiskey. And then they tried to take advantage of her. She resisted. She kept her honor. So they beat her, like an animal. When I went to the hospital, her nose was a'broken. Her jaw was a'shattered, held together by wire. She couldn't even weep because of the pain. But I wept. Why did I weep? She was the light of my life beautiful girl. Now she will never be beautiful again. I went to the police, like a good American. These two boys were brought to trial. The judge sentenced them to three years in prison - suspended sentence. Suspended sentence! They went free that very day! I stood in the courtroom like a fool. And those two bastards, they smiled at me. THEN I SAID TO MY WIFE: FOR JUSTICE, WE MUS GO TO DON CORLEONE.
Don Corleone:
* What have I ever done to make you treat me so disrespectfully? If you'd come to me in friendship, then this scum that ruined your daughter would be suffering this very day. And if by chance an honest man like yourself should make enemies, then they would become my enemies. And then they would fear you.
* Someday - and that day may never come - I'll call upon you to do a service for me. But until that day, accept this justice as gift on my daughter's wedding day.
* I'm a superstitious man, and if some unlucky accident should befall Michael - if he is to be shot in the head by a police officer, or be found hung dead in a jail cell... or if he should be struck by a bolt of lightning - then I'm going to blame some of the people in this room; and then I do not forgive. But with said, I pledge - on the souls of my grandchildren - that I will not be the one to break the peace that we have made today.
* Never let anyone outside the family know what you're thinking.
* I spent my whole life trying not to be careless. Women and children can be careless. But not men.
* Do you spend time with your family? Good. Because a man that doesn't spend time with his family can never be a real man.
Clemenza: So, whaddya do after you shoot 'im?
Michael: Sit down, finish my dinner
dica: nerd's friend
I believe in America. America has made my fortune. And I raised my daughter in the American fashion. I gave her freedom, but I taught her never to dishonor her family. She found a boyfriend; not an Italian. She went to the movies with him; she stayed out late. I didn't protest. Two months ago, he took her for a drive, with another boyfriend. They made her drink whiskey. And then they tried to take advantage of her. She resisted. She kept her honor. So they beat her, like an animal. When I went to the hospital, her nose was a'broken. Her jaw was a'shattered, held together by wire. She couldn't even weep because of the pain. But I wept. Why did I weep? She was the light of my life beautiful girl. Now she will never be beautiful again. I went to the police, like a good American. These two boys were brought to trial. The judge sentenced them to three years in prison - suspended sentence. Suspended sentence! They went free that very day! I stood in the courtroom like a fool. And those two bastards, they smiled at me. THEN I SAID TO MY WIFE: FOR JUSTICE, WE MUS GO TO DON CORLEONE.
Don Corleone:
* What have I ever done to make you treat me so disrespectfully? If you'd come to me in friendship, then this scum that ruined your daughter would be suffering this very day. And if by chance an honest man like yourself should make enemies, then they would become my enemies. And then they would fear you.
* Someday - and that day may never come - I'll call upon you to do a service for me. But until that day, accept this justice as gift on my daughter's wedding day.
* I'm a superstitious man, and if some unlucky accident should befall Michael - if he is to be shot in the head by a police officer, or be found hung dead in a jail cell... or if he should be struck by a bolt of lightning - then I'm going to blame some of the people in this room; and then I do not forgive. But with said, I pledge - on the souls of my grandchildren - that I will not be the one to break the peace that we have made today.
* Never let anyone outside the family know what you're thinking.
* I spent my whole life trying not to be careless. Women and children can be careless. But not men.
* Do you spend time with your family? Good. Because a man that doesn't spend time with his family can never be a real man.
Clemenza: So, whaddya do after you shoot 'im?
Michael: Sit down, finish my dinner
dica: nerd's friend
quinta-feira, dezembro 15, 2005
terça-feira, dezembro 13, 2005
A vida é como um filme
Daqueles bem dramáticos, derrramadores de rios de lágrimas e românticos. Daqueles filmes com enredo complexo, não muito culto, algo bem simples, mas de tão simples, complexo. Algo cheio de questionamentos, de porquês e com poucas respostas (mas muitos sentimentos).
A vida é como um filme de Chaplin. Em preto e branco, com espertalhões, ditadores, meninas surdas e amorosas, pessoas surdas e não-amorosas. A vida é como um filme de Tarantino: sangrenta, malvada, pevertida, sexual e carnal. E a vida é como um filme de Wood Allen: colorida, fatídica, intensa, generosa, apaixonate, espiritual e justiceira.
Para mim, viver é isso: grande e ambíguas emoções, com muitos questionamentos, poucas soluções mas muita emoção. E viver, para mim, faz parte de compartilhar minhas idéias e ideias com todos. O Parerga é o espaço que todos nós temos para soltar o verbo e dizer: eu vivo, portanto penso.
A vida é como um filme de Chaplin. Em preto e branco, com espertalhões, ditadores, meninas surdas e amorosas, pessoas surdas e não-amorosas. A vida é como um filme de Tarantino: sangrenta, malvada, pevertida, sexual e carnal. E a vida é como um filme de Wood Allen: colorida, fatídica, intensa, generosa, apaixonate, espiritual e justiceira.
Para mim, viver é isso: grande e ambíguas emoções, com muitos questionamentos, poucas soluções mas muita emoção. E viver, para mim, faz parte de compartilhar minhas idéias e ideias com todos. O Parerga é o espaço que todos nós temos para soltar o verbo e dizer: eu vivo, portanto penso.
A sinceridade do vinho - Branco Leone
— Ordenha mais um, Chico.
Sentado no balcão, tomando vinho de máquina. Vê lá se isso é destino.
— Tinto ou branco, patrão?
— No dia em que esse mijo tiver pelo menos o cheiro de vinho, eu me arrisco. Pra já, é tinto. E olhe lá. Estou quase pedindo uma cerveja.
Chico empurra o copo — de vidro grosso, morno de ficar entre os dedos — contra o bico atarraxado ao gargalo da garrafa.
— Taí, patrão: geladinho.
O freguês torce o nariz. Geladinho, sim, mas demais, na temperatura do branco. O garçom faz o segundo risquinho na comanda. Ela entra, procura lugar nas mesas. Só encontra um banco vago do outro lado do balcão em U. Vinho gelado demais, mulher bonita de menos. Cabelo armado. Gorda. Verruga no pescoço. Boca enorme. Mãos grossas. Ela brilha, um suorzinho brota do pó-de-arroz, purpurina.
— Um branco, por favor — diz a bruxa.
Chico ordenha o mijo para outro copo de vidro.
— Taí, patroa: geladinho — repete.
O garçom vira para o freguês, limpando um copo, percebe que ele observa a mulher.
-Jeitosa, não? — começa o garçon.
O freguês espia.
— Gorda.
— Que nada: fofa.
— Tem bigode. — retruca o freguês.
— Trepa como doida.
O freguês olha. Pede outro vinho.
— Tinto ou branco?
— Tinto, Chico, tinto.
Mais um risquinho na comanda. O cliente avalia:
— Bocuda.
— Melhor: gulosa. — devolve o Chico.
— Mãos grandes.
— Tem força pra "por as mãos na massa".
Silêncio.
— Suada, Chico.
— Escorrega mais.
— Tira outro.
— Tinto ou branco?
— Vá à m$%*#, Chico! Tinto.
Risquinho na comanda.
— Cabelo duro, Chico.
— Pentelhuda, patrão.
— E a verruga no pescoço?
— É? Nem reparei.
— Já comeu?
— Eu? Imagine! É madame, patrão... Não é pro meu bico.
O freguês avalia mais um pouco, e atira:
— Não dá, Chico! Ela usa pó-de-arroz!
— Ela se cuida, patrão. — ricocheteia o Chico.
Silêncio.
— Mais um.
— Tinto ou branco?
— Branco.
Pega o copo e dá a volta no balcão.
Casaram. Têm três filhos. Gordos. Ele também engordou. Só toma cerveja. Muita. O vinho é sincero demais. Sinceridade tem limite.
Sentado no balcão, tomando vinho de máquina. Vê lá se isso é destino.
— Tinto ou branco, patrão?
— No dia em que esse mijo tiver pelo menos o cheiro de vinho, eu me arrisco. Pra já, é tinto. E olhe lá. Estou quase pedindo uma cerveja.
Chico empurra o copo — de vidro grosso, morno de ficar entre os dedos — contra o bico atarraxado ao gargalo da garrafa.
— Taí, patrão: geladinho.
O freguês torce o nariz. Geladinho, sim, mas demais, na temperatura do branco. O garçom faz o segundo risquinho na comanda. Ela entra, procura lugar nas mesas. Só encontra um banco vago do outro lado do balcão em U. Vinho gelado demais, mulher bonita de menos. Cabelo armado. Gorda. Verruga no pescoço. Boca enorme. Mãos grossas. Ela brilha, um suorzinho brota do pó-de-arroz, purpurina.
— Um branco, por favor — diz a bruxa.
Chico ordenha o mijo para outro copo de vidro.
— Taí, patroa: geladinho — repete.
O garçom vira para o freguês, limpando um copo, percebe que ele observa a mulher.
-Jeitosa, não? — começa o garçon.
O freguês espia.
— Gorda.
— Que nada: fofa.
— Tem bigode. — retruca o freguês.
— Trepa como doida.
O freguês olha. Pede outro vinho.
— Tinto ou branco?
— Tinto, Chico, tinto.
Mais um risquinho na comanda. O cliente avalia:
— Bocuda.
— Melhor: gulosa. — devolve o Chico.
— Mãos grandes.
— Tem força pra "por as mãos na massa".
Silêncio.
— Suada, Chico.
— Escorrega mais.
— Tira outro.
— Tinto ou branco?
— Vá à m$%*#, Chico! Tinto.
Risquinho na comanda.
— Cabelo duro, Chico.
— Pentelhuda, patrão.
— E a verruga no pescoço?
— É? Nem reparei.
— Já comeu?
— Eu? Imagine! É madame, patrão... Não é pro meu bico.
O freguês avalia mais um pouco, e atira:
— Não dá, Chico! Ela usa pó-de-arroz!
— Ela se cuida, patrão. — ricocheteia o Chico.
Silêncio.
— Mais um.
— Tinto ou branco?
— Branco.
Pega o copo e dá a volta no balcão.
Casaram. Têm três filhos. Gordos. Ele também engordou. Só toma cerveja. Muita. O vinho é sincero demais. Sinceridade tem limite.
Lovunication - Silvia Curiati
Todo casal que se preze tem alguns rituais, ou alguma palavra, um olhar diferente, algo que remeta a uma situação sem relação aparente com o momento - vou chamar isso de lovunication. Pode ser uma música, por exemplo. Aquela que toca e o casal se busca mutuamente com o olhar, no meio da festa bagunçada, porque significa algo importante, ou melhor, representa a importância do que eles cultivaram até aquele momento.
Me explico com um exemplo de conexão verbal: vários amigos numa mesa de um bar, alguns casais, outros solteiros, todos conversando e rindo bastante. Até que no meio de um assunto qualquer, ela vira para ele e diz "verde". Ninguém entende, nem dá muita bola. Ele sim, compreendeu perfeitamente o que ela quis dizer com aquela palavra solitária lançada repentinamente, e sorri cúmplice, fazendo um carinho em seu rosto. O papo continua.
Este é um exemplo simples de lovunication, já que existem as versões não-verbais também e até alguns hábitos imutáveis. Era o caso de Maria Rita e Gabriel.
Eles se conheceram numa festa à fantasia, com o tema 50's e 60's. Ela usava saia rodada, blusinha de gola alta com echarpe, meia-soquete e sapatinho branco. Os cabelos amarrados num laço de fita, formando um rabo-de-cavalo dourado, todo cacheado. Ele, como odiava fantasiar-se mas era fã de cinema, vestiu-se a la James Dean, de jeans, camiseta e jaqueta de couro. Passou um gel no cabelo e levou o pente no bolso da calça, junto a dois ou três Marlboro só pra fazer pressão (Gabriel tem horror a cigarros).
Cada um no seu canto, e a música rodando solta. T-Rex no salão, na primeira frase de Hot Love "She's my woman in gold and she's not very old...". Gabriel se aproxima de Maria Rita, tira o pente do bolso, derruba um cigarro, abaixa, deixa-o escapar, levanta, põe o cigarro no canto da boca, passa o pente no topete duro de gumex e arrisca uma frase roubada da música, derrubando novamente o cigarro no chão...
- Você é dourada, e parece bastante jovem e animada pra dançar esta comigo.
Péssima. Terrível. Tão ruim, que Maria Rita sorriu e aceitou. Ele atribuiu o sucesso do convite ao cigarro, só mais tarde soube que Maria Rita não beijava homens com gosto de fumaça na boca.
Fim da primeira dança, ela tímida, sorri agradecendo e vai deixando a pista, quando Lennon e McCartney gritam "I wanna hold your haaaaaand". Gabriel a segura pela mão e pede mais uma dança. Só mais esta, ele adorava Beatles. Não deixou a mão direita de Maria Rita escapar pelos seus dedos como fizera com o cigarro. Nem reparou quando começou a música seguinte, e a beijou enquanto The Foundations pediam a Maria Rita que não estragasse tudo "So build me up Buttercup, don't break my heart...".
E foi lá que começou a história de Maria Rita e Gabriel, que dentre seus lovunications favoritos estava o de vestir-se como seus pais o faziam durante a juventude e ir ao Little Darling numa noite vazia, dançar ao som das músicas que escolhiam na jukebox. Era a maneira de celebrar os aniversários de namoro.
Dois anos depois do primeiro encontro, na comemoração, Gabriel tirou mais fichas do bolso e escolheu uma nova canção, que junto às anteriores, fez parte do CD que distribuíram em seu casamento. Porque dias antes deste pedido, quando ele ouviu, no caminho para seu escritório, violinos introduzindo a voz de Etta James, que cheia de emoção cantava "At last my love's come along.... my lonely days are over and life is like a song", percebeu que Maria Rita havia feito de sua vida tudo o que ele sempre sonhara: um filme completo, ora de aventura, comédia, romance, ora mudo, com trilha sonora e beijos apaixonados da mocinha linda, no final de cada cena.
Me explico com um exemplo de conexão verbal: vários amigos numa mesa de um bar, alguns casais, outros solteiros, todos conversando e rindo bastante. Até que no meio de um assunto qualquer, ela vira para ele e diz "verde". Ninguém entende, nem dá muita bola. Ele sim, compreendeu perfeitamente o que ela quis dizer com aquela palavra solitária lançada repentinamente, e sorri cúmplice, fazendo um carinho em seu rosto. O papo continua.
Este é um exemplo simples de lovunication, já que existem as versões não-verbais também e até alguns hábitos imutáveis. Era o caso de Maria Rita e Gabriel.
Eles se conheceram numa festa à fantasia, com o tema 50's e 60's. Ela usava saia rodada, blusinha de gola alta com echarpe, meia-soquete e sapatinho branco. Os cabelos amarrados num laço de fita, formando um rabo-de-cavalo dourado, todo cacheado. Ele, como odiava fantasiar-se mas era fã de cinema, vestiu-se a la James Dean, de jeans, camiseta e jaqueta de couro. Passou um gel no cabelo e levou o pente no bolso da calça, junto a dois ou três Marlboro só pra fazer pressão (Gabriel tem horror a cigarros).
Cada um no seu canto, e a música rodando solta. T-Rex no salão, na primeira frase de Hot Love "She's my woman in gold and she's not very old...". Gabriel se aproxima de Maria Rita, tira o pente do bolso, derruba um cigarro, abaixa, deixa-o escapar, levanta, põe o cigarro no canto da boca, passa o pente no topete duro de gumex e arrisca uma frase roubada da música, derrubando novamente o cigarro no chão...
- Você é dourada, e parece bastante jovem e animada pra dançar esta comigo.
Péssima. Terrível. Tão ruim, que Maria Rita sorriu e aceitou. Ele atribuiu o sucesso do convite ao cigarro, só mais tarde soube que Maria Rita não beijava homens com gosto de fumaça na boca.
Fim da primeira dança, ela tímida, sorri agradecendo e vai deixando a pista, quando Lennon e McCartney gritam "I wanna hold your haaaaaand". Gabriel a segura pela mão e pede mais uma dança. Só mais esta, ele adorava Beatles. Não deixou a mão direita de Maria Rita escapar pelos seus dedos como fizera com o cigarro. Nem reparou quando começou a música seguinte, e a beijou enquanto The Foundations pediam a Maria Rita que não estragasse tudo "So build me up Buttercup, don't break my heart...".
E foi lá que começou a história de Maria Rita e Gabriel, que dentre seus lovunications favoritos estava o de vestir-se como seus pais o faziam durante a juventude e ir ao Little Darling numa noite vazia, dançar ao som das músicas que escolhiam na jukebox. Era a maneira de celebrar os aniversários de namoro.
Dois anos depois do primeiro encontro, na comemoração, Gabriel tirou mais fichas do bolso e escolheu uma nova canção, que junto às anteriores, fez parte do CD que distribuíram em seu casamento. Porque dias antes deste pedido, quando ele ouviu, no caminho para seu escritório, violinos introduzindo a voz de Etta James, que cheia de emoção cantava "At last my love's come along.... my lonely days are over and life is like a song", percebeu que Maria Rita havia feito de sua vida tudo o que ele sempre sonhara: um filme completo, ora de aventura, comédia, romance, ora mudo, com trilha sonora e beijos apaixonados da mocinha linda, no final de cada cena.
sábado, dezembro 10, 2005
Fix you - Coldplay
When you try your best but you don't succeed
Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
When you get what you want but not what you need
Quando você tem o que quer, mas não o que precisa
When you feel so tired but you can't sleep
Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
Stuck in reverse
Preso ao contrário
And the tears come streaming down your face
E quando as lágrimas escorrem pelo seu rosto
When you lose something you can't replace
Quando você perde algo que não pode substituir
When you love someone but it goes to waste
Quando você ama alguém, mas não dá certo
could it be worse?
Poderia ser pior?
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
And high up above or down below
Bem lá em cima ou embaixo
When you're too in love to let it go
Quando você está tão apaixonado para se libertar
But if you never try you'll never know
Mas, se você nunca tentar, nunca saberá
Just what you're worth
exatamente qual é o seu valor
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
When you lose something you cannot replace
Quando você perde algo que não pode substituir
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
And I
e eu
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
I promise you I will learn from all of my mistakes
Eu te prometo que aprenderei com meus erros
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
And I
e eu
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
When you get what you want but not what you need
Quando você tem o que quer, mas não o que precisa
When you feel so tired but you can't sleep
Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
Stuck in reverse
Preso ao contrário
And the tears come streaming down your face
E quando as lágrimas escorrem pelo seu rosto
When you lose something you can't replace
Quando você perde algo que não pode substituir
When you love someone but it goes to waste
Quando você ama alguém, mas não dá certo
could it be worse?
Poderia ser pior?
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
And high up above or down below
Bem lá em cima ou embaixo
When you're too in love to let it go
Quando você está tão apaixonado para se libertar
But if you never try you'll never know
Mas, se você nunca tentar, nunca saberá
Just what you're worth
exatamente qual é o seu valor
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
When you lose something you cannot replace
Quando você perde algo que não pode substituir
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
And I
e eu
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
I promise you I will learn from all of my mistakes
Eu te prometo que aprenderei com meus erros
Tears stream down your face
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
And I
e eu
Lights will guide you home
Luzes vão te guiar para casa
And ignite your bones
E incendiar seus ossos
And I will try and fix you
E eu vou tentar te consertar
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Jogo: Asteroids
Aforisma
“Os homens pensam que a epilepsia é divina meramente porque não a compreendem. Se eles denominassem divina qualquer coisa que não compreendem, não haveria fim para as coisas divinas.” - Hipócrates, 460 a.C.
Ligação Interrompida - Louise Gracielle
Agraciadas pelo misterioso acaso, suas vidas se cruzaram de forma tenaz; pelo mesmo acaso, fizeram do encontro a paixão arrebatadora que, nas mãos do irresistível desejo, deu vida ao indissolúvel compromisso mantido à distância.
Ela, uma jovem perdida em seus dezoito anos, encontrara-se naquele amor capaz de lhe ferver o sangue e de lhe enrubescer a face ao pronunciar seu nome em suspiros furtivos.
Ele já havia se deliciado com o fruto da juventude e da ingenuidade, estando agora a levemente se manifestar em seus cabelos o alvor da maturidade. Escreveu-lhe aquelas linhas curvando-se a uma hesitação constante por bem saber o peso insustentável das palavras. Temia que estas dilacerassem a alma daquela que o amava excedendo os patamares da razão, mas precisava lhe contar a cruel verdade. E contou.
Ela recebera sua carta naquela tarde de calor sufocante e iminência de dilúvio. Rasgara o papel que encobria a verdade que esperava ver revelada aos seus olhos e devorou numa leitura demorada as palavras de peculiar caligrafia.
Dizia a carta: "a clausura da física distância estabelecida entre nós embebedou-me de enorme introspecção e acarretou algumas tristes descobertas. Sinto dizer, querida, mas fui enganado por um sentimento terno que cultivo por ti, o qual me cegou os olhos da alma e, agora que as luzes já não me ofuscam a visão, é que percebo a gravidade de meu equívoco: enganei a mim e a ti... Estimei a ti mais que a todas as outras enquanto estivemos por perto. Mas hoje, tão longe de tua presença, vejo-me descobrindo um novo amor...
"(...) Se os céus me dessem a chance de desfazer meu erro, eu nunca a teria magoado como faço agora. Porém, é inevitável que o faça! E peço, de joelhos, que a eternidade perdoe meu deslize de não te amar como pensei que o fazia...
"Não sabe como me dói ter de dizer adeus desta forma (...)".
Uma lágrima solitária escorreu levemente por seu rosto, desprendendo-se de sua face ao cair melancolicamente sobre o papel que beijava. Respirou o aroma suave que o singelo envelope lhe trazia e desejou não ter nunca sentido o doce perfume daquele homem que tanto amara um dia - e para todo o sempre o faria...
Ela, uma jovem perdida em seus dezoito anos, encontrara-se naquele amor capaz de lhe ferver o sangue e de lhe enrubescer a face ao pronunciar seu nome em suspiros furtivos.
Ele já havia se deliciado com o fruto da juventude e da ingenuidade, estando agora a levemente se manifestar em seus cabelos o alvor da maturidade. Escreveu-lhe aquelas linhas curvando-se a uma hesitação constante por bem saber o peso insustentável das palavras. Temia que estas dilacerassem a alma daquela que o amava excedendo os patamares da razão, mas precisava lhe contar a cruel verdade. E contou.
Ela recebera sua carta naquela tarde de calor sufocante e iminência de dilúvio. Rasgara o papel que encobria a verdade que esperava ver revelada aos seus olhos e devorou numa leitura demorada as palavras de peculiar caligrafia.
Dizia a carta: "a clausura da física distância estabelecida entre nós embebedou-me de enorme introspecção e acarretou algumas tristes descobertas. Sinto dizer, querida, mas fui enganado por um sentimento terno que cultivo por ti, o qual me cegou os olhos da alma e, agora que as luzes já não me ofuscam a visão, é que percebo a gravidade de meu equívoco: enganei a mim e a ti... Estimei a ti mais que a todas as outras enquanto estivemos por perto. Mas hoje, tão longe de tua presença, vejo-me descobrindo um novo amor...
"(...) Se os céus me dessem a chance de desfazer meu erro, eu nunca a teria magoado como faço agora. Porém, é inevitável que o faça! E peço, de joelhos, que a eternidade perdoe meu deslize de não te amar como pensei que o fazia...
"Não sabe como me dói ter de dizer adeus desta forma (...)".
Uma lágrima solitária escorreu levemente por seu rosto, desprendendo-se de sua face ao cair melancolicamente sobre o papel que beijava. Respirou o aroma suave que o singelo envelope lhe trazia e desejou não ter nunca sentido o doce perfume daquele homem que tanto amara um dia - e para todo o sempre o faria...
Mundo De Baixo - Louise Gracielle
Aquela cidade era atípica, comparada às outras do mundo (in)existente. Era tão bizarra e, de certa forma, assustadora que nenhum livro a mencionara, nenhuma boca pronunciara seu nome, nenhum ser "normal" comentara sobre ela. Era um sigilo de um Estado que se envergonhava de possuí-la.
Naquele município, não existiam leis. As regras éticas haviam sido quebradas pela inconseqüência de seus habitantes, pela indiscrição e delinqüência deles. Eram marginais de uma sociedade que sequer os conhecia; mantidos no subsolo, como um reforço da idéia de quão eram baixos.
Possuíam hábitos estranhos. Costumavam conversar com máquinas, tinham acesso de raiva e as xingavam quando algo não funcionava. Quem os visse jamais compreenderia aquele comportamento selvagem, ignorante.
Por mais que sentissem o contrário, os moradores não se conheciam, mesmo estando na mesma cidade esquecida. Mas estabeleciam uma concatenação estranha entre si naquela distância minusculamente enorme. Usavam aparelhos para sua comunicação e ficavam apenas dentro de suas casas fechadas, à espera de suas respostas. As pessoas se sentavam frente a frente com suas máquinas para lerem estórias que outros teciam, adotando-as como se fossem delas mesmas. Beijavam-se e se abraçavam, sem jamais terem se tocado. Mandavam seus beijos, abraços, bons dias, boas noites em mensagens escritas que dali, da concretude de uma tela, passavam para o ambiente, eram captadas por poderosos satélites, retransmitidas à máquina do destinatário a qual materializava novamente os beijos, os abraços, os bons dias e as boas noites em meros escritos. Nenhum deles eram sentidos na pele do outro; entretanto, era como se o ar ficasse carregado daquelas coisas boas.
Trocavam estranhas imagens estáticas de si mesmos. Viviam em poder de objetos de luz própria que era atirada, ao comando de um clique, para registrar um instante. Chamavam aquilo de "flash" e as imagens de "fotos". Às vezes usavam câmeras que transmitiam num átimo o que se passava do outro lado: cenas picadas, a perfeição da transmissão nem sempre ocorria. Ficavam felizes por ver o outro na tela e, de repente, a solidão se esvaía.
Nesse sistema de vai e vem, material e virtual, faziam suas confidências, odiavam-se, apaixonavam-se. Passavam horas e horas trocando mensagens, juras de amor, insultos. Por mais que nada fosse "cara a cara", tudo possuía uma intensidade real, capaz de comover aqueles habitantes gélidos na carne e no osso.
Sem sequer perceberem o tempo fluindo entre seus dedos, envelheciam solitários... De olhos em tela e dedos em teclas, definhavam seus sentimentos e toda a matéria que os caracterizava como vivos. Extintos por sua própria invenção, por seu hábito compulsivo, por seu "instinto irracional".
(Enquanto isso, a vida lá em cima transcorria da melhor forma possível, em harmonia inimaginável e perfeição invejável... Mundo de contrastes e contradições.)
Naquele município, não existiam leis. As regras éticas haviam sido quebradas pela inconseqüência de seus habitantes, pela indiscrição e delinqüência deles. Eram marginais de uma sociedade que sequer os conhecia; mantidos no subsolo, como um reforço da idéia de quão eram baixos.
Possuíam hábitos estranhos. Costumavam conversar com máquinas, tinham acesso de raiva e as xingavam quando algo não funcionava. Quem os visse jamais compreenderia aquele comportamento selvagem, ignorante.
Por mais que sentissem o contrário, os moradores não se conheciam, mesmo estando na mesma cidade esquecida. Mas estabeleciam uma concatenação estranha entre si naquela distância minusculamente enorme. Usavam aparelhos para sua comunicação e ficavam apenas dentro de suas casas fechadas, à espera de suas respostas. As pessoas se sentavam frente a frente com suas máquinas para lerem estórias que outros teciam, adotando-as como se fossem delas mesmas. Beijavam-se e se abraçavam, sem jamais terem se tocado. Mandavam seus beijos, abraços, bons dias, boas noites em mensagens escritas que dali, da concretude de uma tela, passavam para o ambiente, eram captadas por poderosos satélites, retransmitidas à máquina do destinatário a qual materializava novamente os beijos, os abraços, os bons dias e as boas noites em meros escritos. Nenhum deles eram sentidos na pele do outro; entretanto, era como se o ar ficasse carregado daquelas coisas boas.
Trocavam estranhas imagens estáticas de si mesmos. Viviam em poder de objetos de luz própria que era atirada, ao comando de um clique, para registrar um instante. Chamavam aquilo de "flash" e as imagens de "fotos". Às vezes usavam câmeras que transmitiam num átimo o que se passava do outro lado: cenas picadas, a perfeição da transmissão nem sempre ocorria. Ficavam felizes por ver o outro na tela e, de repente, a solidão se esvaía.
Nesse sistema de vai e vem, material e virtual, faziam suas confidências, odiavam-se, apaixonavam-se. Passavam horas e horas trocando mensagens, juras de amor, insultos. Por mais que nada fosse "cara a cara", tudo possuía uma intensidade real, capaz de comover aqueles habitantes gélidos na carne e no osso.
Sem sequer perceberem o tempo fluindo entre seus dedos, envelheciam solitários... De olhos em tela e dedos em teclas, definhavam seus sentimentos e toda a matéria que os caracterizava como vivos. Extintos por sua própria invenção, por seu hábito compulsivo, por seu "instinto irracional".
(Enquanto isso, a vida lá em cima transcorria da melhor forma possível, em harmonia inimaginável e perfeição invejável... Mundo de contrastes e contradições.)
Arte longa - Geraldo Azevedo
O mundo é grande
Para nossos desencontros
A arte é longa
A vida breve e fim
Mas como pode um mar assim tão grande
Caber num mundo tão pequeno assim
Meu violão não pesa muito
Carrega tantas canções
Fico pensando se um amor dos grandes
Pode habitar pequenos corações
Meu sapato carregado de distâncias
O meu chapéu de sonhos sem fim
Fico pensando e por mais que eu ande
Eu não consigo me afastar de mim
Fico pensando um mar assim tão grande
Caber num mundo tão pequeno assim
Para nossos desencontros
A arte é longa
A vida breve e fim
Mas como pode um mar assim tão grande
Caber num mundo tão pequeno assim
Meu violão não pesa muito
Carrega tantas canções
Fico pensando se um amor dos grandes
Pode habitar pequenos corações
Meu sapato carregado de distâncias
O meu chapéu de sonhos sem fim
Fico pensando e por mais que eu ande
Eu não consigo me afastar de mim
Fico pensando um mar assim tão grande
Caber num mundo tão pequeno assim
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Bambino io, bambino tu - Zucchero
Lui estava li seduto nel giardino
ed era quasi nudo e piccolino
da dove era venuto non lo so
era normale che lui fosse li
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Sembrava primavera ed era inverno
e c'erano dei fiori tutto intorno
doveva essere bui e c'era luce
e tutto quello che mi piace
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Mi sono seduto in terra lí vicino
ed era lui mio padre e lui mio figlio
ho parlato di cose che non so
di cose che non ho saputo mai
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
(e ninna oh e ninna ah)
Poi mi è venuto sonno lì in giardino
cantava e la sua voce era sottile
mi sono svegliato e lui non c'era più
c'era un fiore di carta al posto suo
io avevo un occhio nero u un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Mi sono svegliato e lui non c'era più
io avevo un occhio nero e un occhio blu
bambino io, bambino tu
bambino io, bambino tu
ed era quasi nudo e piccolino
da dove era venuto non lo so
era normale che lui fosse li
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Sembrava primavera ed era inverno
e c'erano dei fiori tutto intorno
doveva essere bui e c'era luce
e tutto quello che mi piace
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Mi sono seduto in terra lí vicino
ed era lui mio padre e lui mio figlio
ho parlato di cose che non so
di cose che non ho saputo mai
aveva un occhio nero e un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
(e ninna oh e ninna ah)
Poi mi è venuto sonno lì in giardino
cantava e la sua voce era sottile
mi sono svegliato e lui non c'era più
c'era un fiore di carta al posto suo
io avevo un occhio nero u un occhio blu
bambino mio, bambino oh,
Mi sono svegliato e lui non c'era più
io avevo un occhio nero e un occhio blu
bambino io, bambino tu
bambino io, bambino tu
Republicação: RAVE, Ritual tribalístico
Rituais tribais existem desde os primórdios da humanidade. As sociedades tribais arcaicas utilizavam os rituais como forma sagrada de conexão com a natureza e seus deuses. Através de danças coletivas, música repetitiva, ervas para abertura da percepção, entre outros ritos, os povos tribais celebravam e se conectavam com os aspectos transcendentais da vida. A vida pulsando em Gaia.
Quando o ponto de conexão e sociabilidade entre os seres humanos se dá através da ressonância de afetos, da similaridade do modo de experimentar e vivenciar a vida, estamos diante de uma tribo; na medida em que a intenção da convivência é genuína e não imposta por alguma lei.
A história da civilização, a formação dos estados, a industrialização, e todas as leis e instituições hierárquicas religiosa, política, econômica - aos poucos foram eliminando os aspectos tribais das relações, através da domesticação, catequização, e imposição de valores e verdades a fim de beneficiar as instâncias de poder e comando.
De selvagens, tribais e guerreiros, os habitantes de Gaia transformaram-se em um grande e maciço rebanho de ovelhas. Vidas foram sugadas através das leis, instituições e a imposição de um tempo artificial, a fim de homogeneizar as vidas do rebanho e conseqüentemente facilitar o controle do poder.
A natureza foi perdendo sua soberania, os próprios humanos que antes a veneravam começaram a destruí-la e explorá-la. Os rituais deixaram de ser tribais e pagãos, dando origem a celebrações religiosas institucionalizadas de caráter transcendental, nas quais a desvalorização do corpo e da vida telúrica transformaram-se em realidade. O rebanho agora não celebra a vida, e sim, "a vida além da vida". Com o fim dos rituais e celebrações tribais, deu-se início a era das celebrações mórbidas conduzidas por ideais acéticos.
Final do século XX, a humanidade chegando ao seu limite de artificialidade - através do desenvolvimento tecnológico, da ausência de relação com a natureza de Gaia, do rebanho/homem sendo conduzido por valores competitivos e progressistas - dá um salto quântico em ondas espirais, com o surgimento no final da década de 80 na Inglaterra das primeiras raves.
Com grande semelhança às cerimônias indígenas religiosas dos índios norte americanos Pow wows, tem-se início o retorno do sentido tribal e transcendental através da música eletrônica e a sua estrutura repetitiva remetendo aos sons tribais produzidos durantes os rituais o DJ como um xamã, conduzindo o êxtase e a vibração. A volta do paganismo e seu aspecto hedonista, na medida em que as relações entre os freqüentadores estão além de controles e comandos institucionais.
O ciberespaço como superfície de afeto e trocas de informações entre os ravers, Gaia pulsando com os fluxos de informações e conexões de seus habitantes.
Este ritual contemporâneo evidencia a transformação sem precedentes que vivenciamos, pois se trata de um ritual tribal planetário gerado somente e através da tecnologia, possuindo características idênticas em qualquer região de Gaia. Cidades nômades são formadas - em lugares onde há predominância da natureza - por alguns dias e vidas compartilhadas durante este ritual. Estamos diante de um forma de zona autônoma temporária (TAZ), evidenciando o aspecto anárquico e caótico que as raves apresentam, por tratarem de encontros e trocas de afetos sem controles e leis.
Eis a tecnologia proporcionando um retorno ao arcaico. Habitantes de Gaia retornam às suas condições de selvagens, assim como a natureza recupera seu aspecto soberano. Embora em lugares naturais e selvagens, as raves possuem a artificialidade em sua essência, visto que é a tecnologia o elemento que viabiliza este ritual.
É através do ciberespaço que as trocas de informações, como detalhes de horas e locais são realizados. A música é eletrônica, produzida através de softwares, as imagens projetadas são criadas também através de softwares, a importância da estética do corpo, a droga (MDMA) para estímulo e abertura da percepção é sintética e produzida em laboratórios, tudo isso gerando um ritual pós-moderno de alguns dias, onde os habitantes de Gaia dançam e celebram coletivamente. O retorno do arcaico, na medida em que os principais aspectos dos rituais tribais ficam evidenciados.
Consumo excessivo de drogas, apropriação da rave como produto de consumo e alienação, coexistem com o movimento refletindo a atual sociedade que habita Gaia. Assim como os rituais tribais arcaicos refletiam cada tribo, a rave sendo o ritual tribal contemporâneo vai refletir a atual sociedade planetária. Impossível falar da atual sociedade sem falar de excesso de consumismo.
Rave como levante, zona autônoma temporária de sociabilidade humana, linha de fuga, subversão, anarquismo caótico, nomadismo, tribo, coletividade, festejo, celebração, paganismo, xamanismo, desterritorialidade, ritual. A era pós-moderna de Gaia e o surgimento do neo tribalismo.
"A TAZ envolve um crescimento do manso para o selvagem, um retorno que é, igualmente, um passo a frente. Uma lógica do caos, um projeto de elevados ordenamentos de consciência ou simplicidade de vida que se aproxima em um surfar nas ondas dianteiras do caos, de um complexo dinamismo. A TAZ é uma arte de vida em contínuo surgimento, selvagem, mas gentil..." Hakim Bey
Quando o ponto de conexão e sociabilidade entre os seres humanos se dá através da ressonância de afetos, da similaridade do modo de experimentar e vivenciar a vida, estamos diante de uma tribo; na medida em que a intenção da convivência é genuína e não imposta por alguma lei.
A história da civilização, a formação dos estados, a industrialização, e todas as leis e instituições hierárquicas religiosa, política, econômica - aos poucos foram eliminando os aspectos tribais das relações, através da domesticação, catequização, e imposição de valores e verdades a fim de beneficiar as instâncias de poder e comando.
De selvagens, tribais e guerreiros, os habitantes de Gaia transformaram-se em um grande e maciço rebanho de ovelhas. Vidas foram sugadas através das leis, instituições e a imposição de um tempo artificial, a fim de homogeneizar as vidas do rebanho e conseqüentemente facilitar o controle do poder.
A natureza foi perdendo sua soberania, os próprios humanos que antes a veneravam começaram a destruí-la e explorá-la. Os rituais deixaram de ser tribais e pagãos, dando origem a celebrações religiosas institucionalizadas de caráter transcendental, nas quais a desvalorização do corpo e da vida telúrica transformaram-se em realidade. O rebanho agora não celebra a vida, e sim, "a vida além da vida". Com o fim dos rituais e celebrações tribais, deu-se início a era das celebrações mórbidas conduzidas por ideais acéticos.
Final do século XX, a humanidade chegando ao seu limite de artificialidade - através do desenvolvimento tecnológico, da ausência de relação com a natureza de Gaia, do rebanho/homem sendo conduzido por valores competitivos e progressistas - dá um salto quântico em ondas espirais, com o surgimento no final da década de 80 na Inglaterra das primeiras raves.
Com grande semelhança às cerimônias indígenas religiosas dos índios norte americanos Pow wows, tem-se início o retorno do sentido tribal e transcendental através da música eletrônica e a sua estrutura repetitiva remetendo aos sons tribais produzidos durantes os rituais o DJ como um xamã, conduzindo o êxtase e a vibração. A volta do paganismo e seu aspecto hedonista, na medida em que as relações entre os freqüentadores estão além de controles e comandos institucionais.
O ciberespaço como superfície de afeto e trocas de informações entre os ravers, Gaia pulsando com os fluxos de informações e conexões de seus habitantes.
Este ritual contemporâneo evidencia a transformação sem precedentes que vivenciamos, pois se trata de um ritual tribal planetário gerado somente e através da tecnologia, possuindo características idênticas em qualquer região de Gaia. Cidades nômades são formadas - em lugares onde há predominância da natureza - por alguns dias e vidas compartilhadas durante este ritual. Estamos diante de um forma de zona autônoma temporária (TAZ), evidenciando o aspecto anárquico e caótico que as raves apresentam, por tratarem de encontros e trocas de afetos sem controles e leis.
Eis a tecnologia proporcionando um retorno ao arcaico. Habitantes de Gaia retornam às suas condições de selvagens, assim como a natureza recupera seu aspecto soberano. Embora em lugares naturais e selvagens, as raves possuem a artificialidade em sua essência, visto que é a tecnologia o elemento que viabiliza este ritual.
É através do ciberespaço que as trocas de informações, como detalhes de horas e locais são realizados. A música é eletrônica, produzida através de softwares, as imagens projetadas são criadas também através de softwares, a importância da estética do corpo, a droga (MDMA) para estímulo e abertura da percepção é sintética e produzida em laboratórios, tudo isso gerando um ritual pós-moderno de alguns dias, onde os habitantes de Gaia dançam e celebram coletivamente. O retorno do arcaico, na medida em que os principais aspectos dos rituais tribais ficam evidenciados.
Consumo excessivo de drogas, apropriação da rave como produto de consumo e alienação, coexistem com o movimento refletindo a atual sociedade que habita Gaia. Assim como os rituais tribais arcaicos refletiam cada tribo, a rave sendo o ritual tribal contemporâneo vai refletir a atual sociedade planetária. Impossível falar da atual sociedade sem falar de excesso de consumismo.
Rave como levante, zona autônoma temporária de sociabilidade humana, linha de fuga, subversão, anarquismo caótico, nomadismo, tribo, coletividade, festejo, celebração, paganismo, xamanismo, desterritorialidade, ritual. A era pós-moderna de Gaia e o surgimento do neo tribalismo.
"A TAZ envolve um crescimento do manso para o selvagem, um retorno que é, igualmente, um passo a frente. Uma lógica do caos, um projeto de elevados ordenamentos de consciência ou simplicidade de vida que se aproxima em um surfar nas ondas dianteiras do caos, de um complexo dinamismo. A TAZ é uma arte de vida em contínuo surgimento, selvagem, mas gentil..." Hakim Bey
A Carolisinha, amiga de todas as tecnopleuras.
Fala sério, você é Nerd?
A sídrome da falência patológica crônica (NERD), se propaga de forma assustadora. Há uma forma de se previnir essa maldição? Ninguém sabe ao certo, por isso queremos ajudá-lo a saber como anda sua saúde, te informar se você tem ou não tem o grande mal do século...
"Todo o nerd tem a batata da perna gorda", é o que se aprende nos tempos de escola. Não se sabe exatamente qual a ligação patológica nessa questão, mas a verdade é que curiosamente funciona em todos os casos. Tire você mesmo a prova e lembre daquele seu antigo amigo nerd, andando todo torto de bermuda e tênis, vindo te pedir dinheiro emprestado - não para comprar revista de sacanagem, mas figurinhas para completar o álbum do RPM.
"Quadrinhos é a minha vida", todo o nerd grita com orgulho e mão ao peito. Afinal, como está no filme "Corpo Fechado", coincidentemente feito por um nerd, todos juram de pé juntos que as histórias em quadrinhos são baseadas em fatos reais!
Outro indicativo dessa enfermidade é a necessidade constante de suquinho, toddynho, leitinho, e todas aquelas gosmas pasteurizadas vendidas em caixinha com canudinho. Pode crer, tudo isso é coisa de nerd! O dono da Parmalat deve ser o Jesus Cristo dos nerds...
A Verdade é que não existe só um tipo de nerd, porque nesse caso seria fácil produzir uma vacina. O problema é que o vírus é mutagênico, e acabou dando origem a várias subdivisões dessa doença terrível. A variedade é realmente assustadora: temos o nerd Capitão Planeta, que separa seu lixo em cinco categorias diferentes para auxiliar na reciclagem, o nerd BadBoy, que tem todos os "Vale Tudo" gravados, e treina golpes e táticas com o irmão mais novo ou com o cachorro, e até o nerd JunkBoy, que bebe cerveja sem álcool escondido no quarto e visita sites pornográficos.
Todos os nerds tem certas características inconfundíveis, e não é preciso ser ume especialista para identificá-las ao primeiro olhar. Mas a grande novidade científica é o teste padrão de cinco minutos para identificar o doente. Foi desenvolvido por Edward Norton, na esperança de achar seus irmãos perdidos no mundo afora.
(Se você se interessou por esse texto, clique no título, seu NERD, e faça esse teste. Ao amigo nerd!)
"Todo o nerd tem a batata da perna gorda", é o que se aprende nos tempos de escola. Não se sabe exatamente qual a ligação patológica nessa questão, mas a verdade é que curiosamente funciona em todos os casos. Tire você mesmo a prova e lembre daquele seu antigo amigo nerd, andando todo torto de bermuda e tênis, vindo te pedir dinheiro emprestado - não para comprar revista de sacanagem, mas figurinhas para completar o álbum do RPM.
"Quadrinhos é a minha vida", todo o nerd grita com orgulho e mão ao peito. Afinal, como está no filme "Corpo Fechado", coincidentemente feito por um nerd, todos juram de pé juntos que as histórias em quadrinhos são baseadas em fatos reais!
Outro indicativo dessa enfermidade é a necessidade constante de suquinho, toddynho, leitinho, e todas aquelas gosmas pasteurizadas vendidas em caixinha com canudinho. Pode crer, tudo isso é coisa de nerd! O dono da Parmalat deve ser o Jesus Cristo dos nerds...
A Verdade é que não existe só um tipo de nerd, porque nesse caso seria fácil produzir uma vacina. O problema é que o vírus é mutagênico, e acabou dando origem a várias subdivisões dessa doença terrível. A variedade é realmente assustadora: temos o nerd Capitão Planeta, que separa seu lixo em cinco categorias diferentes para auxiliar na reciclagem, o nerd BadBoy, que tem todos os "Vale Tudo" gravados, e treina golpes e táticas com o irmão mais novo ou com o cachorro, e até o nerd JunkBoy, que bebe cerveja sem álcool escondido no quarto e visita sites pornográficos.
Todos os nerds tem certas características inconfundíveis, e não é preciso ser ume especialista para identificá-las ao primeiro olhar. Mas a grande novidade científica é o teste padrão de cinco minutos para identificar o doente. Foi desenvolvido por Edward Norton, na esperança de achar seus irmãos perdidos no mundo afora.
(Se você se interessou por esse texto, clique no título, seu NERD, e faça esse teste. Ao amigo nerd!)
terça-feira, dezembro 06, 2005
Seja Paciente - Rainer Maria Rilke
Quero lhe implorar
Para que seja paciente
Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.
As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.
Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.
Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.
Para que seja paciente
Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.
As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.
Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.
Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Provocações - Luís Fernando Veríssimo
"A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.
A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.
Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.
Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.
Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando.
Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.
Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava.
Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- Violência, não!"
A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.
Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.
Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.
Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam lhe provocando.
Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.
Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava.
Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- Violência, não!"
(cique no título e ouça a livre interpretação de Antônio Abujamra)
domingo, dezembro 04, 2005
Os melhores anos de minha vida - Fernando Pessoa
Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos. Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe...... nos e-mails trocados. Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens... Aí os dias vão passar, meses...anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo. Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão? Quem são aquelas pessoas? Diremos...Que eram nossos amigos. E...... isso vai doer tanto! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos. Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado. E nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Um ano de Parerga!!!!
Queria agradecer a todas as pessoas que no decorrer desde ano me ajudaram a fazer do PARERGA o que ele é hoje. Um blog que serve pra passar meu o tempo onde nada se faz, e para entreter todos vocês. Seja com textos filosóficos ou com joguinhos viciantes esse blog só me trouxe felicidades em saber que é lido por grandes amigos, pessoas que gosto e até colegas do exterior. Queria que vocês continuassem mandando textos ou dicas de site pra mim porque é disso que esse blog vive, do interesse de quem lê e de quem escreve. Tento ser o mais impessoal possível às vezes não expressando meus sentimentos e somente meus pensamentos para não tornar isso chato demais, mas sempre percebo o quão impossível isso é. Separar coração e mente, onde até fisiologicamente seria impossível.
É isso... Abraço a todos.
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Pois é - Los Hermanos
Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver (2x)
Pois é, até
Onde o destino não previu
Sei mas atrás vou até onde eu consegui
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar (2x)
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver (2x)
Pois é, até
Onde o destino não previu
Sei mas atrás vou até onde eu consegui
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar (2x)
A arte de Renoir
Pertencente ao grupo central que criou a pintura impressionista francesa na segunda metade do século XIX, Renoir aos poucos se desinteressou das cintilações de cor e luz características do movimento e adotou uma estética mais clássica. Pierre-Auguste Renoir nasceu em Limoges, em 25 de fevereiro de 1841.
Seu pai, um alfaiate, decidiu mudar-se com a família para Paris, por volta de 1845, e aos 13 anos o jovem Renoir trabalhava numa fábrica de porcelana, decorando as peças com buquês de flores.
A partir de 1862 freqüentou cursos noturnos de desenho e anatomia na Escola de Belas-Artes e, paralelamente, estudou com o suíço Charles Gleyre, em cujas aulas conheceu Claude Monet, Alfred Sisley e Jean-Frédéric Bazille. Formou com esses pintores um grupo de idéias revolucionárias, que a crítica da época rotulou, com desprezo, de "impressionista".
Influenciados pela proposta de Manet, os quatro alunos de Gleyre passaram a primavera de 1864 na floresta de Fontainebleau, onde se dedicaram a pintar diretamente da natureza, ao contrário da regra que confinava o artista ao estúdio, buscando apreender a cor local e tratar de forma espontânea os efeitos de luz.
Essas idéias se assemelhavam às de outros três iniciadores da escola, Édouard Manet, Paul Cézanne e Camille Pissarro. Desde 1874, já ocorrida a fusão dos dois grupos, Renoir figurou nas polêmicas exposições dos impressionistas, e por toda uma década participou do movimento.
Pintando flagrantes do quotidiano, sugerindo com toques multicores as vibrações da atmosfera, dando à pele das jovens mulheres uma tonalidade quase dourada, criou a partir de 1875 uma série de telas bem identificadas com o espírito impressionista.
Exemplos típicos dessa fase são os grandes quadros "Le Moulin de la Galette" (Louvre), de 1876, e "O almoço dos remadores" (National Gallery of Art, Washington), de 1881.
Após várias viagens, em 1881-1882, à Itália, Argélia e Provença, de consideráveis efeitos sobre sua vida e sua arte, Renoir se convenceu de que o uso sistemático da técnica impressionista já não lhe bastava. Concluiu também que o preto não merecia a rejeição antes proposta por seus colegas, sendo até capaz, em certos casos, de ter um efeito notável para acentuar a intensidade das cores.
A descoberta da obra de Rafael e o fascínio pela pureza das linhas clássicas, a que sucumbiu na Itália, confirmaram-no em suas novas idéias.
Na maioria, as telas que pintou a partir de 1883-1884 são de tal maneira marcadas pela disciplina formal que alguns historiadores da arte agruparam-nas como as da "fase Ingres", em alusão a sua vaga semelhança com o estilo do pintor clássico francês.
A formação impressionista persistiu, no entanto, na mestria de Renoir no manejo das cores, evidente na longa série "Banhistas".
A partir de 1907, radicado definitivamente em Cagnes-sur-Mer, onde já costumava passar longas temporadas, Renoir realizou no fim da vida algumas esculturas, que se somaram aos quase quatro mil quadros que compõem sua obra.
Nem o reumatismo crônico, que o obrigava a amarrar o pincel na mão para pintar, turvou a luminosidade de suas telas, reflexo de uma atitude otimista. Renoir morreu em seu retiro, naquela cidade da Provença, à beira do Mediterrâneo, em 3 de dezembro de 1919.
Seu pai, um alfaiate, decidiu mudar-se com a família para Paris, por volta de 1845, e aos 13 anos o jovem Renoir trabalhava numa fábrica de porcelana, decorando as peças com buquês de flores.
A partir de 1862 freqüentou cursos noturnos de desenho e anatomia na Escola de Belas-Artes e, paralelamente, estudou com o suíço Charles Gleyre, em cujas aulas conheceu Claude Monet, Alfred Sisley e Jean-Frédéric Bazille. Formou com esses pintores um grupo de idéias revolucionárias, que a crítica da época rotulou, com desprezo, de "impressionista".
Influenciados pela proposta de Manet, os quatro alunos de Gleyre passaram a primavera de 1864 na floresta de Fontainebleau, onde se dedicaram a pintar diretamente da natureza, ao contrário da regra que confinava o artista ao estúdio, buscando apreender a cor local e tratar de forma espontânea os efeitos de luz.
Essas idéias se assemelhavam às de outros três iniciadores da escola, Édouard Manet, Paul Cézanne e Camille Pissarro. Desde 1874, já ocorrida a fusão dos dois grupos, Renoir figurou nas polêmicas exposições dos impressionistas, e por toda uma década participou do movimento.
Pintando flagrantes do quotidiano, sugerindo com toques multicores as vibrações da atmosfera, dando à pele das jovens mulheres uma tonalidade quase dourada, criou a partir de 1875 uma série de telas bem identificadas com o espírito impressionista.
Exemplos típicos dessa fase são os grandes quadros "Le Moulin de la Galette" (Louvre), de 1876, e "O almoço dos remadores" (National Gallery of Art, Washington), de 1881.
Após várias viagens, em 1881-1882, à Itália, Argélia e Provença, de consideráveis efeitos sobre sua vida e sua arte, Renoir se convenceu de que o uso sistemático da técnica impressionista já não lhe bastava. Concluiu também que o preto não merecia a rejeição antes proposta por seus colegas, sendo até capaz, em certos casos, de ter um efeito notável para acentuar a intensidade das cores.
A descoberta da obra de Rafael e o fascínio pela pureza das linhas clássicas, a que sucumbiu na Itália, confirmaram-no em suas novas idéias.
Na maioria, as telas que pintou a partir de 1883-1884 são de tal maneira marcadas pela disciplina formal que alguns historiadores da arte agruparam-nas como as da "fase Ingres", em alusão a sua vaga semelhança com o estilo do pintor clássico francês.
A formação impressionista persistiu, no entanto, na mestria de Renoir no manejo das cores, evidente na longa série "Banhistas".
A partir de 1907, radicado definitivamente em Cagnes-sur-Mer, onde já costumava passar longas temporadas, Renoir realizou no fim da vida algumas esculturas, que se somaram aos quase quatro mil quadros que compõem sua obra.
Nem o reumatismo crônico, que o obrigava a amarrar o pincel na mão para pintar, turvou a luminosidade de suas telas, reflexo de uma atitude otimista. Renoir morreu em seu retiro, naquela cidade da Provença, à beira do Mediterrâneo, em 3 de dezembro de 1919.
Apontamentos sobre o Amanhã - Rafael Reinehr
Rateei. Nasci homem!
Esse bem que poderia ser o começo de um conto ou romance, não é mesmo?
Somente nesta frase já temos muito espaço para reflexão.
Vamos fazer o que nossa tão prestigiada Ciência ordena: fracionar o todo em partes e analisar a sentença.
Rateei. Vacilei. Pisei na bola. Perdi o rumo. Errei. Falhei. Me enganei. Deixei passar. Não fui eficaz. Dormi no ponto.
Um simples palavra que consegue trazer dentro de si a potência de várias outras palavras e expressões.
Assim somos nós, icebergs flutuando na imensidão de nossas relações deixando perceber, ao olhar comum, somente a ponta. Entre as multidões, são raros aqueles que vão a fundo e se preocupam em captar nossa essência. Há uma infinitude de Ser embaixo da superfície, em um grito afogado, lutando para ser percebida. Ponto para os sensíveis, perspicazes e observadores.
Nasci. Vim a termo. Me deram à luz. Surgi. Apareci. Tomei vida. Brotei. Me fiz presente. Cheguei à Terra.
Sinônimos são diferentes que querem dizer a mesma coisa.
Assim somos nós, indivíduos singulares singrando mares e conhecendo povos distantes feitos da mesma carne. Aparências discrepantes falando línguas que – fazemos de conta – não podemos entender. Se jogarmos a âncora e nos fixarmos no plácido reflexo das águas calmas, podemos perceber que nosso objetivo é comum: felicidade.
Causamos sofrimento e, quer queira quer não, nos arrependemos, causando sofrimento.
Homem. Humano. Animal. Racional. Irracional. Criador. Criatura. Espécie. Gênero. Força. Fraqueza. Certeza. Dúvida. Homem. Mulher.
Assim somos nós, inteiro fragmentados, pedaços em continuum que vão do bem ao mal em frações infinitas do que convencionamos chamar de tempo. Somos a Cura mas também podemos ser a Doença. Somos o Céu mas também podemos ser o Inferno. Na dança incessante do fluir vital, somos a Ferramenta que constrói (ou destrói) o porvir e, não menos do que ao mesmo tempo, o Objeto Sensível que irá desfrutar, gerações com horizonte tão distante que imperceptível, do produto que a Ferramenta criar.
Somos a Guerra, mas também podemos ser a Paz e a Esperança. É o que os que ainda não estão aqui desejam.
Amarelo, branco, vermelho, preto (não negro) - Bruno Lemes
Amarelo.
Branco.
Vermelho.
Negro.
Negro? Por que não preto? É preconceituoso? Muito pelo contrário.
Incrível, há algum tempo me veio uma grande luz na mente. Finalmente, depois de muito tempo pensando de maneira errada, entendi como é racista a palavra "negro", finalmente vejo como é sim certo dizer "preto".
A começar pelo sentido original da palavra "negro": tudo o que é de pior, mais obscuro, mais sujo em algo ou alguém - magia negra, humor negro, lado negro, lista negra etc... Nunca representa coisas boas. Ah, mesmo nos dicionários mais atuais você também encontra essa definição: "Homem que trabalha muito"! Um dicionário, definindo "NEGRO" dessa forma?! Meu Deus, racismo banalizado!
"Preto é cor, negro é raça". Sempre escutei isso e, como tudo o que é implantado na nossa cabeça desde pequeno, sempre defendi essa frase. Sempre nos foi ensinado que dizer "preto" é feio, racista, e que "negro" ou "de cor" é o jeito certo de se chamar pessoas de pele escura. Aprende-se isto desde o tempo dos colonizadores, que obviamente viam os africanos como seres inferiores, essencialmente serviçais.
Já me contestaram até dizendo que se fosse definir pela cor mesmo, afro-descendentes deveriam ser chamados de "marrons", pois pretos eles não são. Ora, seguindo essa linha de raciocínio, brancos teriam que ser chamados de "rosinhas" ou "beges-claro", porque brancos cor-de-mármore eles não são. Só que no que se refere à raça pegam-se cores básicas, então nem rosa nem marrom, mas sim as cores branca, amarela, vermelha e PRETA.
Dizendo "negro" estamos cometendo dois erros condenáveis - fazendo referência de uma cor de pele a algo ruim; fazendo parecer que eles são um tipo diferente de raça (para não dizer tipo inferior de raça), que precisa ser denominada de outra forma, não através de uma cor mas sim com uma palavra de significado originalmente ruim. Mas convencer a todos de que o correto é dizer "preto" é uma tarefa difícil, são séculos e séculos de uma educação tradicionalmente racista. Hoje em dia os próprios sociólogos são contra a utilização de "negro". Infelizmente esse tipo de discussão é pouco divulgado, pois vivemos num país/mundo hipócrita, onde se prega a tal da igualdade racial. Se ela existisse realmente, não existiriam cotas para negros [ entre outros ] nas universidades. Essas cotas não são oportunidades, mas sim trancos, esmolas. Cotas socio-economicas é até "aceitável" a curtíssimo prazo, mas cota racial? Aposto que a maioria dos pretos conscientes se sentiram humilhados com essa discriminação.
Ainda sinto muito receio em dizer preto - com certeza pensarão que sou racista, afinal, sou um típico "alemão", branquelo e loiro - e também fico constrangido quando ouço outro branco dizendo "preto", ainda também me soa muito preconceituoso (e a maioria de fato é), mas aos poucos vou me livrando desse estigma. Bem aos poucos. Bem lentamente. A começar, vou me reaproximar dos meus amigos pretos - que aliás faz tempo que não vejo - e usar o termo "preto" perto deles. Daí vou perdendo o medo de parecer racista. É preciso conscientizar o país inteiro. Os pretos precisam aprender a se respeitar, somos todos racistas. Mesmo não querendo [ e talvez até não sabendo ] temos atitudes e denominações muito preconceituosas. É um vício alimentado de geração em geração.
Chega de "moreninho", "de cor", "bem moreno", "negrinho", "neguinho" e "negro".
Agora é só "preto" e, carinhosamente, "negão"!
Amarelo.Branco.
Vermelho.
Negro.
Negro? Por que não preto? É preconceituoso? Muito pelo contrário.
Incrível, há algum tempo me veio uma grande luz na mente. Finalmente, depois de muito tempo pensando de maneira errada, entendi como é racista a palavra "negro", finalmente vejo como é sim certo dizer "preto".
A começar pelo sentido original da palavra "negro": tudo o que é de pior, mais obscuro, mais sujo em algo ou alguém - magia negra, humor negro, lado negro, lista negra etc... Nunca representa coisas boas. Ah, mesmo nos dicionários mais atuais você também encontra essa definição: "Homem que trabalha muito"! Um dicionário, definindo "NEGRO" dessa forma?! Meu Deus, racismo banalizado!
"Preto é cor, negro é raça". Sempre escutei isso e, como tudo o que é implantado na nossa cabeça desde pequeno, sempre defendi essa frase. Sempre nos foi ensinado que dizer "preto" é feio, racista, e que "negro" ou "de cor" é o jeito certo de se chamar pessoas de pele escura. Aprende-se isto desde o tempo dos colonizadores, que obviamente viam os africanos como seres inferiores, essencialmente serviçais.
Já me contestaram até dizendo que se fosse definir pela cor mesmo, afro-descendentes deveriam ser chamados de "marrons", pois pretos eles não são. Ora, seguindo essa linha de raciocínio, brancos teriam que ser chamados de "rosinhas" ou "beges-claro", porque brancos cor-de-mármore eles não são. Só que no que se refere à raça pegam-se cores básicas, então nem rosa nem marrom, mas sim as cores branca, amarela, vermelha e PRETA.
Dizendo "negro" estamos cometendo dois erros condenáveis - fazendo referência de uma cor de pele a algo ruim; fazendo parecer que eles são um tipo diferente de raça (para não dizer tipo inferior de raça), que precisa ser denominada de outra forma, não através de uma cor mas sim com uma palavra de significado originalmente ruim. Mas convencer a todos de que o correto é dizer "preto" é uma tarefa difícil, são séculos e séculos de uma educação tradicionalmente racista. Hoje em dia os próprios sociólogos são contra a utilização de "negro". Infelizmente esse tipo de discussão é pouco divulgado, pois vivemos num país/mundo hipócrita, onde se prega a tal da igualdade racial. Se ela existisse realmente, não existiriam cotas para negros [ entre outros ] nas universidades. Essas cotas não são oportunidades, mas sim trancos, esmolas. Cotas socio-economicas é até "aceitável" a curtíssimo prazo, mas cota racial? Aposto que a maioria dos pretos conscientes se sentiram humilhados com essa discriminação.
Ainda sinto muito receio em dizer preto - com certeza pensarão que sou racista, afinal, sou um típico "alemão", branquelo e loiro - e também fico constrangido quando ouço outro branco dizendo "preto", ainda também me soa muito preconceituoso (e a maioria de fato é), mas aos poucos vou me livrando desse estigma. Bem aos poucos. Bem lentamente. A começar, vou me reaproximar dos meus amigos pretos - que aliás faz tempo que não vejo - e usar o termo "preto" perto deles. Daí vou perdendo o medo de parecer racista. É preciso conscientizar o país inteiro. Os pretos precisam aprender a se respeitar, somos todos racistas. Mesmo não querendo [ e talvez até não sabendo ] temos atitudes e denominações muito preconceituosas. É um vício alimentado de geração em geração.
Chega de "moreninho", "de cor", "bem moreno", "negrinho", "neguinho" e "negro".
Agora é só "preto" e, carinhosamente, "negão"!
Branco.
Vermelho.
Preto.
(1º passo rumo à igualdade entre as etnias)
E aí? Preto ou negro?
Para a falta
quinta-feira, dezembro 01, 2005
O ontem, e o hoje
“Mas e quanto ao imperativo darwiniano de sobreviver e reproduzir-se? No que concerne ao comportamento cotidiano, não existe esse imperativo. Há quem fica assistindo a um filme pornográfico quando poderia estar procurando um parceiro, quem abre mão de comida para comprar heroína, quem posterga a gestação dos filhos para fazer carreira na empresa, quem come tanto que acaba indo mais cedo para o túmulo. O vício humano é prova de que a adaptação biológica, na acepção rigorosa do termo, é coisa do passado. Nossa mente é adaptada para os pequenos bandos coletores de alimentos nos quais nossa família passou 99% de sua existência, e não para as desordenadas contingências por nós criadas desde as revoluções agrícola e industrial. Antes da fotografia, era adaptativo receber imagens visuais de membros atraentes do sexo oposto, pois essas imagens originavam-se apenas da luz refletindo-se de corpos férteis. Antes dos narcóticos em seringas, eles eram sintetizados no cérebro como analgésicos naturais. Antes de haver filmes de cinema, era adaptativo observar as lutas emocionais das pessoas, pois as únicas lutas que você podia testemunhar eram entre pessoas que você precisava psicanalizar todo dia. Antes de haver a contracepção, os filhos eram inadiáveis, e status e riqueza podiam ser convertidos em filhos mais numerosos e mais saudáveis. Antes de haver açucareiro, saleiro e manteigueira em cada mesa, e quando as épocas de vacas magras jamais estavam longe, nunca era demais ingerir todo o açúcar, sal e alimentos gordurosos que se pudesse obter. As pessoas não adivinham o que é adaptativo para elas ou para seus genes. Estes dão a elas pensamentos e sentimentos que foram adaptativos no meio em que os genes foram selecionados.” Steven Pinker
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