domingo, abril 02, 2006

A arte de Ron Mueck

Australiano, nascido em Melbourne em 1958, Ron Mueck cresceu vendo os pais construírem brinquedos. Apreendeu! Fazia os seus.
Da infância à adolescência desenvolveu habilidade manual e criativa. Fazia títere e se tornou titiriteiro. Acabou na televisão participando de programas infantis. Dos títeres passou a criar bonecos em tamanhos vários para publicidade. Além dos bonecos sempre que havia necessidade de se ter uma réplica de um objeto em escala menor ou maior, Mueck era requisitado.
Os que o procuravam sabiam que as réplicas criadas por ele eram perfeitas.
Suas figuras não deviam nada aos hiper-realistas norte-americanos. Estavam à altura de Duane Hanson e de John de Andrea.
Embora soubesse que eram obras de arte, em nenhum momento as considerou como tal. Tão pouco assumiu a postura de artista. Tinha tudo para fazê-lo. Não fez.
Dos títeres, dos bonecos, das réplicas, passou aos efeitos especiais. Foi de vento em popa. Chegou aos Estados Unidos. Lá, durante seis meses colaborou com efeitos especiais no Muppet Show e em Sesame Street. antes de seguir para Londres em 84.
Em Londres, Dreamchild de 1985 e Labyrinth, 1986, com David Bowie, também contaram com a sua participação. Mas, não foi com esse trabalho que Ron Mueck se tornou famoso. Isso só iria acontecer dez anos depois.
Após Labyrinth Mueck criou em Londres uma pequena empresa especializada em objetos e efeitos especiais para atender às solicitações de agências publicitárias. Nas horas vagas, sempre que podia amassava um pouco de argila e esculpia.
Em 1996, sua sogra, a artista anglo- portuguesa Paula Rego, radicada em Londres desde os anos 50, pediu-lhe que esculpisse para ela um Pinnochio. Serviria de modelo para uma pintura das que apresentaria na Hayward Gallery, na exposição denominada Spellbound, Fascinado.
Foi Pinocchio quem abriu o caminho da fama e da fortuna para Mueck.
Charles Saatchi, o super poderoso empresário, publicitário e colecionador, ao ver Pinocchio no ateliê de Paula Rego encomendou quatro outras esculturas para a exposição Sensation: Young British Artist from the Saatchi Collection a ser apresentada na Royal Academy of Arts em Londres em dezembro de 1997.
Nessa exposição Mueck chamou a atenção da crítica e do público com a escultura Dead Dad, Papai Morto. Em escala reduzida, dois terços do tamanho natural, apresentou o corpo nu do pai.
Dead Dad foi esculpida de memória em fibra de vidro. Hiper-realista a escultura é de verossimilhança assustadora. A cor, a textura, as imperfeições da pele, as rugas, detalhes como as unhas, as sobrancelhas, os cabelos, fazem de Dead Dad um marco na história da escultura moderna e contemporânea.
A imagem reduzida do corpo de um adulto, com todas as marcas da idade, morto, provoca no mínimo sentimentos e emoções conflitantes. A redução altera todas as referências conhecidas. A ampliação também.
Mueck, ao contrário dos gregos e romanos, foge dos padrões estéticos por eles criados. Não respeita e ignora as proporções que tanto uns como outros cultivavam. As sete cabeças e meia, o padrão ideal, para ele não significam nada. Reduzir, ampliar, são os verbos que conjuga ao esculpir.
A partir de Sensation em Londres em 97 e da polêmica apresentação em New York no Brookyn Museum em outubro de 1999, ameaçada de fechamento pelo prefeito Giuliano, politizando a gritaria que grupos religiosos faziam contra uma pintura de uma madona africana, The Holy Virgin Mary, A Santa Virgem Maria. de Chris Ofili, Mueck projetou-se no mundo da arte.
Mas não foi através de gritos, protestos e ameaças. Nem de escândalos promocionais. Ou interesses políticos.
Suas esculturas hiper-realistas em fibra de vidro, silicone, rezina acrílica, poliéster, onde quer que fossem expostas chamavam e chamam a atenção pelo realismo, pela verossimilhança e pelas dimensões. Enormes!!! Ou de reduzidas proporções.
Na Bienal de Veneza de 2001 Mueck foi o grande destaque. Sua escultura, Crouching Boy, Menino Agachado, exposta no Arsenale, no Aperto, espaço reservado aos jovens artistas, capitalizou todas as atenções.
Os cinco metros de altura do menino agachado sob o telhado do Arsenale , entre as coluna, criavam uma estranha sensação de distância e ao mesmo tempo de intimidade total.
A capacidade de Mueck de transformar as mais simples ações do dia-a-dia em instigantes obras de arte nos fala de uma nova postura com relação ao ver e ao fazer arte. A utilização de materiais mais dúcteis e leves faz parte dessa visão em que a escala é fundamenta, domina.
Dez anos na vida de uma artista é pouco. Na de Mueck não. Suas esculturas estão na National Gallery e Na Tate Gallery de Londres, no Hirshhorn de Washington, no Modern Art Museum de Fort Worth, no Modern Art de San Francisco, na National Gallery of Canadá em Ottawa, na National Gallery of Austrália em Canberra.
No museu australiano Pregnant womam, Grávida, de 2002, escultura de 2 metros e meio de altura, em fibra de vidro e silicone é, sem trocadilho infame, o ponto alto do acervo em exibição.
No norte-americano, no Hirshhorn , Big Man, Homem Grande de 2000, com seus 2 metros e quarenta e um de altura, nu, sentado no chão, encostado na parede, no canto da sala, perdido em si mesmo, isolado de tudo e de todos, é um ponto permanente de atração.
Associá-lo ao Pensador de Rodin, não é difícil. Ambas esculturas diametralmente opostas possuem algo em comum: O homem ensimesmado. Abstraído.
No inglês, na Tate Gallery, Ghost, Fantasma, de 1997, retrata uma adolescente altíssima, de 2 metros e dez em um maiô preto. A expressão da jovem demonstra que é difícil conviver com tal corpo. Seus longos braços e pernas são excessivos. Incômodos. Fora de proporção. Essa escultura é do ano em que Ron Mueck decidiu ser escultor. De lá para cá jamais deixou de sê-lo.

3 comentários:

Anônimo disse...

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