quinta-feira, abril 06, 2006

Felicidade no retrocesso

Passamos pela vida atabalhoados, ansiosos, sem saber o que buscamos, ou se o sabemos, dificilmente saberíamos responder por que sem gaguejar. Em nenhum instante paramos nosso fluxo existencial num flash presente e dizemos “isso é o que eu busco na vida” – isso é tudo que busco. No melhor dos casos essa felicidade presente é uma boa dose de hormônios bem calibrados fazendo o cérebro fazer você pensar “que beleza, huh?” Do futuro esperamos coisas imbecis como a existência conspirando para erigir nossos ideais ou o cessar da vontade na realização de algum sonho imaginado como importante, que será um marco divisor de águas do agora angustiado para um longo e próspero futuro cheio de coisas legais que nos tornarão felizes e que não sabemos explicar porque isso nunca aconteceu, apesar de insistirmos na crença de que um dia, inevitavelmente, acontecerá e será bom como um dia sabemos que saberemos. Impossibilidades óbvias que geram frustração. Nós precisamos viver com alguma sensação de dignidade em nossos cérebros cheios de voltinhas especiais. Qual é o pulo do gato para burlar esse desencontro? Falsificamos a memória. Ninguém tem mais felicidade que no passado; o passado é onde imaginamos que toda a felicidade que fomos colhendo como migalhas durante nossas vidas fica armazenada, pronta para ser evocada e justificar mais alguma idiotice insípida e despropositada que futuramente será motivo de lembranças saudosas para satisfazer a cota da mentira para consigo mesmo e fazer valer uma existência aleijada per se. Na dúvida – ou sem dúvida – sempre ficamos com uma interpretação da memória, nunca com a memória crua dos fatos – nós os reinventamos, colorimos e recheamos com muitas coisas gordurosas. Fiz um teste. Quando tirei uma foto pensei – estou infeliz, estou numa situação de merda, só que sorrindo, mas vou me concentrar para me lembrar desses pensamentos ao vê-la revelada em vez de interpretá-la como sempre. Vendo a foto, lembro que pensei que estava infeliz... mas, no fundo, um fundo, qualquer fundo, estava feliz, não é? Pois é.

6 comentários:

Tyr Quentalë disse...
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Tyr Quentalë disse...

Incrível como esta palavra Felicidade tem me perseguido desde ontem.. ou desde o madrugar do dia de hoje. estava a conversar, sobre coisas como o coração temeroso, inseguro.. ou confuso, quando a palavra felicidade me veio como o desejar de alguém a quem possuo Afeto, carinho e até mesmo amor. No momento brinquei, ou talvez pensei... Felicidade está a um passo da tristeza.. ou poderia se dizer da depressão.. pois muitas vezes estamos infelizes.. estamos tristes.. e algo.. como um oi, como um sorriso ou como elogio, pode arrancar-nos um sorriso, então este sorriso seria de felicidade, ou seria de uma alegria momentânea que logo seria assolada pela tristeza que está envolta ao nosso redor.. e pensei.. o sorriso vêm fácil, assim como a tristeza e as lágrimas costumam vir fáceis.. resta apenas que paremos e olhemos ao redor, ou para dentro de nós mesmos e falemos.. Eis aqui a felicidade.. e tentar não com falsas lembranças, mas sim com verdadeiras lembranças, nos lembrar-mos dos verdadeiros momentos de felicidade.

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