Estava exausta naquela manhã. O dia anterior havia sido perfeito, mas aquele começara mal. Sentia como se o azar lhe jogasse tchauzinhos do outro lado da rua.
Atirou-se debaixo d'água: chuveiro. Uma tia lhe dissera, certa vez, que a cura para o mau humor era um bom banho de água fria. Esperou que as crendices de uma senhora vivida funcionassem naquele momento e idealizou a abundância límpida escorrendo pelos seus cabelos, os pensamentos ruins sendo carregados até que, nas pontas de suas madeixas, caíssem ao chão e por lá ficassem.
Imaginou-se numa cachoeira... Era tão bom sentir aquela água batendo em seu rosto, arrancando a máscara da tristeza, que pouquíssimas vezes usava. Tentava estar sempre sorridente - mesmo que interiormente. Acreditava que a felicidade não fosse sinônima de alienação, mas sim de contato pleno com o mundo, de satisfação com seu eu mais íntimo.
Mas aquela onda de azar a deixava incapaz de sorrir consigo mesma.
E subitamente percebeu que seu rosto era agora banhado por suas lágrimas. Indagando os motivos daquele pranto inesperado, descobriu que não estava plena consigo mesma, que muitas coisas não estavam em seus devidos lugares. E que a "onda de azar" fora uma desculpa fajuta para os erros que vinha cometendo - inúmeros.
Analisou as circunstâncias em que a vida se encontrava. Pelas veredas dos amigos caminhou por uns instantes... Encontrou o motivo de sua lamentação repentina. Descobriu que estava agindo errado com tudo e com todos: deixava que quarteirões representassem uma distância inacreditável entre ela e seus amigos. Deixava que as aulas, às quais não mais freqüentava, carregassem consigo as preciosidades da sua vida. Viu-se valorizando as pessoas que nunca se importaram realmente com ela, que se aproximaram na alegria e quando estava triste, a repeliram da roda como um inseto indesejável.
Lembrou-se das vezes que discutiu com alguém. Permanecia amando todos os que a haviam magoado; porém, mantinha dentro de si um quê de rancor. E assim viu que perdeu muitas boas amizades por um orgulho insensato, por uma infantilidade de não perguntar o que estava acontecendo, de não pedir perdão e tentar a reconciliação.
Quantas vezes alguém tentara dissuadi-la de uma amizade querida! Talvez não a tivessem diretamente desviado de alguém; entretanto, na doçura de inúmeros momentos com alguns companheiros, estes tomaram sua completa atenção e alguns do grupinho ficaram esquecidos... Sentiu vergonha por constatar o tamanho desdém com que tratara esses 'alguns do grupinho'. Tivera-os sempre tão próximos e fora incapaz de cultivar os relacionamentos bons!
Envolvera-se em sentimentos mais profundos, como a paixão adolescente, mas sua contradição clássica de pensamentos, seu pessimismo indesejável e seus infortúnios determinaram o afastamento de ambas as partes. O remorso a tomava, ao mesmo tempo em que tentava justificar sua falta de atitude...
(...)
Saiu do banho com os olhos inchados. Nada que uma maquiagem bem feita não pudesse disfarçar. (Disfarçar, mais uma vez, sua dor, sua insegurança e tudo o que realmente era por dentro.).
Atirou-se debaixo d'água: chuveiro. Uma tia lhe dissera, certa vez, que a cura para o mau humor era um bom banho de água fria. Esperou que as crendices de uma senhora vivida funcionassem naquele momento e idealizou a abundância límpida escorrendo pelos seus cabelos, os pensamentos ruins sendo carregados até que, nas pontas de suas madeixas, caíssem ao chão e por lá ficassem.
Imaginou-se numa cachoeira... Era tão bom sentir aquela água batendo em seu rosto, arrancando a máscara da tristeza, que pouquíssimas vezes usava. Tentava estar sempre sorridente - mesmo que interiormente. Acreditava que a felicidade não fosse sinônima de alienação, mas sim de contato pleno com o mundo, de satisfação com seu eu mais íntimo.
Mas aquela onda de azar a deixava incapaz de sorrir consigo mesma.
E subitamente percebeu que seu rosto era agora banhado por suas lágrimas. Indagando os motivos daquele pranto inesperado, descobriu que não estava plena consigo mesma, que muitas coisas não estavam em seus devidos lugares. E que a "onda de azar" fora uma desculpa fajuta para os erros que vinha cometendo - inúmeros.
Analisou as circunstâncias em que a vida se encontrava. Pelas veredas dos amigos caminhou por uns instantes... Encontrou o motivo de sua lamentação repentina. Descobriu que estava agindo errado com tudo e com todos: deixava que quarteirões representassem uma distância inacreditável entre ela e seus amigos. Deixava que as aulas, às quais não mais freqüentava, carregassem consigo as preciosidades da sua vida. Viu-se valorizando as pessoas que nunca se importaram realmente com ela, que se aproximaram na alegria e quando estava triste, a repeliram da roda como um inseto indesejável.
Lembrou-se das vezes que discutiu com alguém. Permanecia amando todos os que a haviam magoado; porém, mantinha dentro de si um quê de rancor. E assim viu que perdeu muitas boas amizades por um orgulho insensato, por uma infantilidade de não perguntar o que estava acontecendo, de não pedir perdão e tentar a reconciliação.
Quantas vezes alguém tentara dissuadi-la de uma amizade querida! Talvez não a tivessem diretamente desviado de alguém; entretanto, na doçura de inúmeros momentos com alguns companheiros, estes tomaram sua completa atenção e alguns do grupinho ficaram esquecidos... Sentiu vergonha por constatar o tamanho desdém com que tratara esses 'alguns do grupinho'. Tivera-os sempre tão próximos e fora incapaz de cultivar os relacionamentos bons!
Envolvera-se em sentimentos mais profundos, como a paixão adolescente, mas sua contradição clássica de pensamentos, seu pessimismo indesejável e seus infortúnios determinaram o afastamento de ambas as partes. O remorso a tomava, ao mesmo tempo em que tentava justificar sua falta de atitude...
(...)
Saiu do banho com os olhos inchados. Nada que uma maquiagem bem feita não pudesse disfarçar. (Disfarçar, mais uma vez, sua dor, sua insegurança e tudo o que realmente era por dentro.).
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