terça-feira, dezembro 14, 2004

Morte, o grande momento de nossas vidas

A metafísica materialista também vai permitir livrar a humanidade de um de seus maiores temores: o temor da morte. Os homens têm realmente medo da morte e fazem de tudo para evitá-la. Mas que temem nela? É precisamente o salto no absolutamente desconhecido. Não sabem o que os espera e receiam confusamente que terríveis sofrimentos lhes sejam infligidos, talvez em punição de seus atos terrestres. Os cristãos, por exemplo, imaginarão que qualquer um que tenha agido mal e não obteve o perdão de Deus irá assar nas chamas do inferno. O medo da morte está relacionado com as superstições religiosas de que a metafísica materialista nos liberta. Ademais, se tudo no universo é feito apenas de matéria, se nós, como todos os seres vivos, somos apenas nossos átomos que se separam, que se desagregam, é apenas nosso corpo que se decompõe, primeiro num ponto (o que está ferido ou doente), depois em todos. Por conseguinte, nada de nosso ser sobrevive, não há nada depois da morte, a morte não é nada para nós". Aqueles que pensam que a vida do corpo, o pensamento, a sensação, o movimento vêm da alma e que essa alma poderia sobreviver após a morte do corpo, eles estão errados. Pois a própria alma é feita de matéria, por certo mais sutil, quase invisível; mas se ela não passa de uma agregação de átomos, ela também se decompõe quando sobrevém a morte, e até, de acordo com a experiência mais comum, deve-se pensar que é a primeira a decompor-se pois que a morte se mostra imediatamente privada de vida, de sensação, de pensamento e de movimento, enquanto o resto do corpo ainda parece quase intato e levará alguns dias antes de começar a decompor-se. Falam-lhe, tocam-no, beliscam-no e ele não tem nenhuma reação, não manifesta nenhum sentimento....A morte se caracteriza bem, em primeiro lugar, pela ausência de sensação. Epicuro pode escrever:
Habitua-te com o pensamento de que a morte não é nada para nós, uma vez que só há bem e mal na sensação, e a morte é ausência de sensação.
De fato as sensações que temos de nosso corpo e, através dele, das coisas do mundo são a fonte de todo conhecimento, e também de todo o prazer e de toda dor, portanto o verdadeiro lugar de todo bem e de todo mal, já que o bem real é apenas o prazer e o mal, a dor. Podemos denominar o prazer de Epicuro como um sensualismo que fundamenta toda a vida interior na sensação. Como a morte é o desaparecimento das sensações, não pode haver nenhum sofrimento na morte, nem sobretudo depois da morte. Tampouco pode haver sobrevivência da consciência , do pensamento individual. Epicuro tem ainda esta bela frase;Assim, o mal que mais assusta, a morte, não é nada para nós, pois, quando existimos, a morte não está presente, e, quando a morte está presente, deixamos de existir.
Em conseqüência, posso viver, agir e aproveitar os prazeres da vida sem temer nenhuma punição depois, sem estragar minha vida angustiando-me com a idéia do que me espera. E, até sei doravante que é aqui e agora que tenho de ser feliz, nesta, vida, pois não tenho nenhuma outra. Minha felicidade na vida é um caso sério que não aguenta nenhuma espera. Tal é o ensinamento da sabedoria materialista.
É precisamente isso que se passaria por ocasião da morte: a alma deixa o corpo e para de proporcionar-lhe a vida. Mas ela mesma continua sua própria existência, daí em diante puramente espiritual. Essa concepção recentemente recebeu confirmações inesperadas, na forma de depoimentos referentes a experiências individuais, paradoxalmente tornadas possíveis graças aos progressos da medicina, que permitem trazer de volta à vida pessoas quase mortas. É verdade que esse retorno parece às vezes milagroso, nos casos em que a morte foi clinicamente constatada. Ora, de modo perturbador, esses sobreviventes narram todos praticamente a mesma coisa: viram o próprio corpo à distância, e os médicos se afobarem em volta dele, como se o espírito deles flutuasse na sala, como se fosse capaz de ver um modo diferente do que pelos olhos do corpo. Ouviam as conversas dos médicos, mas em compensação não sentiam dor corporal. A alma deles vivia portanto separada do corpo, exatamente igual ao que afirma a maior parte das religiões.

5 comentários:

GWB disse...

Que bem que você escreve Thiago.
E que blog interessante.
Muito interessante este texto, assim como outros que constam nestas redondezas.
Sou Gustavo, muito prazer, e cai aqui por causa de uma triste ocasião, o post da Fernanda sobre a Fernanda.

Thiago Braga disse...

Muito grato ao elogio Gustavo, prazer ter seu comentário por aqui, antes de você os comentários eram exclusivos de nossa amiga Fernanda, que tem um dos melhores e mais bonitos Blogs que eu já vi. O post da Fernanda sobre a Fernanda foi realmente triste, pela forma que ela escreve toca diretamente os nossos corações. Apareça sempre por aqui cara, seja bem vindo.

Thiago

GWB disse...

Entretanto, ficas convidado para visitar o meu blog também: http://aldeiablogal.blogspot.com

Nanda disse...

Thiago...
Realmente, seu blog tá muito interessante, adorei (será que se pode adorar?! rs) em especial, o que vc discorreu nesse post ... eu mesma, nunca temi muito a morte, ao menos antes do Dani... agora, não... filho muda muita coisa realmente...
Gustavo, que legal... acho que é mais ou menos isso: vc no meu blog, eu no seu, Thiago no meu, vc no do Thiago, o thiago no seu! rs... a rede acontece exatamente assim...
Um abraço!

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado