segunda-feira, março 20, 2006

Lei da Ação e Reação - Por: Silvia Curiati

É a lei da ação e reação. Tarda, mas não falha.

Quem machuca é porque está machucado. Quem fere, será ferido. É cíclico e humano.

E onde mora o amor, descansa o ódio. Não há luz sem sombra, isto é fato. Somos ambigüidades ambulantes, conservamos dentro de nós sentimentos avessos que brigam por espaço e às vezes transparecem quase simultaneamente, confundindo os que nos rodeiam.

Uma virtude é a indiferença ao inimigo, saber levantar e seguir em frente quando derrubado, sem gana de revanche. É vibrar tão mais alto, a ponto de qualquer atitude maligna tomada para ferir não representar mais que uma bobagem, um ruído que não merece consideração. Triste é a indiferença a quem nos quer bem.

Alguns pequenos atos deveriam ser riscados do manual do amigo. Desligar o telefone na cara, não atender a um chamado, deletar emails sem resposta, desaparecer ou fazer o outro sumir da sua vida sem levar em consideração a quantidade de sentimentos envolvidos em cada palavra que já foi dita. É machucar deliberadamente, e realmente não se importar.

Fico pensando que tipo de julgamento nós temos dentro de nossas mentes que nos deixa próximos ao perigo sem nenhuma proteção, completamente vulneráveis. Deveria ser lei: respeitar a vulnerabilidade.

E por que alguns de nós insistimos que vale a pena, conseguimos ver algo especial no outro, mesmo depois de termos compreendido que na verdade não representamos absolutamente nada para esta pessoa, que não temos nenhuma importância a não ser para fazer uma coisinha aqui e outra ali?
É bonito o fato de alguém parecer ter surgido para que aprendamos a amar, que nos desperte ternura, uma vontade de proteger, de querer bem, de desejar sucesso. Ver esta pessoa ir sumindo de nossas vidas aos poucos, com gestos, palavras e atitudes contrárias a tudo o que se acreditava, é dolorido. Mas quando o sentimento é verdadeiro, superamos estes obstáculos e continuamos acreditando no que vale a pena, na essência. Mesmo que o amigo não pergunte mais se você está bem, não se preocupe se você está feliz, não venha bater papo só porque sentiu saudades, não queira saber se você tem conseguido o que quer na vida, como está sua saúde. E na nossa posição, acabamos nos transformando em médicos de corpo e de alma, querendo entender como ele se sente e ajudar em qualquer situação, sem que sejamos tratados como alguém que também tem uma vida, normalmente porque falta tempo ao amigo.

Até o dia em que acaba. Não porque nós acordamos, mas porque fomos sacudidos com uma despedida. A sensação que fica é a de que fomos desprezados. Nossos sentimentos, todas as palavras já escritas, faladas, todos os gestos de carinho e as atitudes de estímulo. Tudo para o lixo, não valem nada porque não temos nenhuma importância na vida do amigo mais, já não servimos. Aliás, possivelmente a importância de um dia fosse só ilusão, ainda assumindo que a essência do amigo permanece, e que não nos aproximaríamos de alguém que não fosse verdadeiro.

Este texto não tem um final. É um exercício bobo sobre coisas que acontecem em nossas vidas. É um texto para os que perderam amigos, parentes, namorados, qualquer pessoa querida que tenha resolvido desaparecer deixando uma marca feia. Também é para aqueles que desapareceram. Não que vá causar algum efeito, porque não vai. Quem toma atitudes assim, já tem a cabeça feita e sabe o que quer com aquilo. É triste quem gosta de dizer adeus diante de um pedido de "fique, por favor". Mas quem ouviu isso é porque mereceu. Talvez apenas por excesso de teimosia, talvez por excesso de confiança gratuita.

Este monte de palavras está confuso ainda, mas pediu pra sair, e quem sou eu para dizer não?

Para completar, ouça Jim Croce, é lindo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Looks nice! Awesome content. Good job guys.
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