quarta-feira, janeiro 04, 2006

Abro mão... - Por Katia Maia

Tem coisas na vida que a gente não precisa passar por elas. São frustrações e decepções desnecessárias. O nosso telefone não precisa tocar para dizer que alguém vai nos ligar e nos oferecer a vaga tão esperada, ou o emprego tão desejado, se isso não for mesmo acontecer. É sentimento desperdiçado. Ou o nosso telefone toca já com a proposta, ou não precisa tocar. É melhor que me deixem aqui, no meu canto, quieta e com a minha realidade já corrida e sem tempo. Pelo menos, na minha falta de momentos livres, penso menos no que poderia ser e nunca veio a ser realmente.
Sei que o ser humano é motivado por essa esperança de mudança. Pela ansiedade de dias melhores e pela crença em realidades mutantes. Mas, olha, não dá para ficar assistindo o mesmo filme sempre. Não é possível que tenhamos que ver o mesmo enredo seguidamente com os mesmo personagens que até trocam de papel mas fatura o mesmo sucesso. Sempre!!! Talvez, de novo, eu tenha feito minha requisição, lá em cima, errada e tenha pedido algo coadjuvante. Não! Cansei! Quero mudar. Cansei de ser da turma da senzala. Sim, porque a senzala era quem carregava o piano para a turma da casa de engenho tocar. Por favor, esqueçam meu nome, meu telefone, meu endereço para me trazer somente mais uma esperança frustrável. Eu abro mão de esperar, de sonhar e de acreditar se, lá na frente, vou encontrar-me mesmo com mais uma decepção. Talvez, como disse Cazuza, eu queira mesmo a sorte de uma vida tranqüila, sem emoções, mas tranqüila. Com a certeza do meu salário no fim do mês, sem a expectativa da mega-sena acumulada, sem a esperança de prêmio nenhum, nem reconhecimento, nem promoção. Não vou contar com nada. Casei de contar com tudo e, contudo, me decepcionar sempre.
Prefiro mesmo ficar por aqui, quietinha, com meus filhos, contando as travessuras deles e aprendendo o que eles tem para me ensinar porque do ser humano, me enchi. Prefiro aprender com que está aprendendo e assim não me surpreender mas com quem já sabe. Aliás, ingênua fui em pensar que há pessoas que prezam o sentimento alheio. São poucos, muito poucos mesmo. É um tal de 'minha agenda está cheia', 'já tinha programado de outra forma', me desculpe, mas não posso atende-la', 'olha, passa mais tarde', 'queridinha uma pena, mas não dá' etc etc etc. Estou declarando para o mundo: "queridinho, não dá. Estou indo cuidar da minha vida e não me procurem para pedir favor. Fechei para balanço'!
Fui.

Nenhum comentário: