segunda-feira, novembro 06, 2006

A Náusea - Jean-Paul Sartre,

"Por exemplo, essa espécie de ruminação dolorosa: existo - sou eu que a alimento. Eu. O corpo vive sozinho, uma vez que começou a viver. Mas o pensamento, sou eu que o continuo, que o desenvolvo. Existo. Penso que existo. Oh! Que serpentina comprida esse sentimento de existir - e eu a desenrolo muito lentamente... Se pudesse me impedir de pensar! Tenho, consigo: parece-me que minha cabeça se enche de fumaça, e eis que tudo recomeça: ‘Fumaça... não pensar... Não quero pensar... Penso que não quero pensar... Não devo pensar que não quero pensar. Porque isso também é um pensamento’. Será que não termina nunca?
Meu pensamento sou eu: eis por que posso parar. Existo porque penso... e não posso me impedir de pensar. Nesse exato momento - é terrível - se existo é porque tenho horror a existir. Sou eu, sou eu que me extraio do nada a que aspiro: o ódio, a repugnância de existir são outras tantas maneiras de me fazer existir, de me embrenhar na existência. Os pensamentos nascem por trás de mim como uma vertigem, sinto-os nascer atrás de minha cabeça... Se cedo, virão para frente, aqui entre meus olhos - e sempre cedo, o pensamento cresce, cresce e fica imenso, me enchendo por inteiro e renovando minha existência."


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