terça-feira, outubro 18, 2005

Pessoas com quem trabalhamos - Por Sílvia Curiati


A Tia Nil. Inesquecível. Tia da limpeza e do café, lá na Rapp Collins. Ah, e do bolo de cenoura com cobertura de chocolate, aquele que amaciava os clientes na hora de papos difíceis.Uma senhora baixinha, bem baixinha, de cabelinho curto, rosto redondo e bochechas cor-de-rosa. Um olhar sofrido que só ela. Mas por trás daquele semblante calmo e humilde, escodia-se a rainha da sacanagem.Tia Nil dava duas batidinhas leves na porta do banheiro masculino, gritava "esconde o pau que eu tô entrando" e mandava ver. Nem esperava ouvir "um segundo, por favor", já ia entrando.Em seguida, corria pro banheiro das mulheres e perguntava com cara safada "quem quer saber o tamanho do bilau do fulaninho?" A mulherada "Ai, tia, deixa pra lá". Bastava falar isso pra ela alegar "Ihhh, esta não é boa de cama, não quer saber de bilau. Deixa eu ver o tamanho da sua canela". Ela apertava o ossinho e podia afirmar se a menina mandava bem ou não. Dizia que não era a grossura da canela que importava, era a sensação e o movimento.... coisas da Nil.Era muito apegada a mim porque eu era a dona da melhor mesa de toda a agência. Uma que ficava no fundão, de frente pra todo mundo e de costas pra janela. Todo horário de almoço ela ia tirar uma soneca debaixo da minha mesa. A soneca se prolongava até eu chegar da academia distraída e esfomeada e sentar, metendo o pezão na tia. Um dia veio conversar comigo que seu casamento já não era a mesma coisa... O bom era aquele tempo em que ela chegava em casa e o marido estava peladão. Daí ela ficava peladona também e eles brincavam de pega-pega. "Tem coisa mió não, fía...". Ok, pra mim pode parecer muito mais engraçado que pra você, que não conheceu a tia. O fato é, a cena me faz chorar de rir.Quando estávamos em reunião, ela entrava com o café gritando "chegou a alegria da festa" ou coisas parecidas. Fora quando o cliente estava falando e ela vinha cutucá-lo perguntando se queria um bolinho, só 1 real...No meio de uma agência cheia de figuras, tia Nil tinha que ser a primeira. Vem mais por aí.

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