segunda-feira, maio 08, 2006

Uma arma, uma vida - Silvia Curiati

Ele não queria ir. Achava que ficar em casa seria a melhor opção, escolha sensata de católico praticante. Não tinha jeito para a coisa, era muito tímido.

Sem sair do lugar, alcançou a arma com a mão esquerda. Olhou-a profundamente e sentiu-se vivo. Nascera para aquilo, era o meio de comunicação que havia escolhido como sua extensão, desde a primeira vez que o tocou.

Lavou o rosto. Seus dedos estavam mais frios que o comum, a face pálida. Os lábios dormentes tremiam um pouco, sentia náuseas. Qual seria a razão do crime mesmo? Quem era ele para colocar fim à vida de alguém? Mesmo tendo sido profundamente magoado, não havia nada que justificasse mais uma morte. Mais uma.

Sorriu ao notar o brilho do metal apoiado na pia. Sorriso cúmplice, de quem já é íntimo do berro da fera. Seu sangue fervia só de aproximar-se do seu cano de estimação, companheiro de muitas jornadas, implacável contra os tantos inimigos que enfrentara.

Caiu em prantos. Derramou lágrimas como um bebê, num grito suplicante. Queria libertar o animal de dentro do seu peito, mas era impossível. Já dominara suas entranhas e, naquele momento, segurava a arma com vigor e o arrastava para fora de casa, passo firme, de encontro ao seu destino.

No espelho do banheiro escuro apenas gotas d'água escorriam, como se alguém já chorasse uma ausência.

6 comentários:

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