- Smee, assuma a proa – ordenou o desairoso James Hook, tão imperativo quanto aqueles bigodes apontando para o céu, e foi à outra ponta do convés resmungando que “aquelas lulas não caíram bem”. Precisava se aliviar.
O adiposo Smee não deu ouvidos ao pedido. Continuou fazendo o que sempre fazia – nada. Irritado com a omissão do companheiro corsário, Starkey, homem de confiança do capitão, assumiu o posto.
- Isso, seu saliente – disse Smee, irritado – Puxa mesmo o saco do capitão.
- Tenho que manter os negócios da família, oras! Ainda mais agora que o capitão pensa em largar essa vida de pilhagem...
- Ah, você só está nesse barco por puro nepotismo...
Starkey rezingou um “humpf”.
Silêncio.
- O que seu tio, nosso glorioso capitão, vai fazer quando deixar essa vida? Vai ser goleiro do Íbis? – disse Smee, rindo todo o sarcasmo dos sete mares. Sabia que falar da deficiência física do capitão era inundar de ira o coração de Starkey.
- Seu puto! – berrou em resposta – Ainda te mato!
- Ah, convenhamos... O que um homem com um gancho no lugar da mão direita pode fazer? Se ainda fosse canhoto...
Starkey se recompôs. Era um pirata de bons modos, afinal. Efeminado, inclusive.
- Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo. Sabia disso? Sabia que nas horas vagas, entre uma fuga de crocodilo e uma briga com crianças, ele pratica ventriloquia?
Silêncio novamente. E então, uma crise de riso do tamanho do oceano irrompeu a mudez.
- Seu tio? Ventríloquo? Com aquele gancho? – dizia Smee, entre golfadas de ar.
- Pois é um excelente ventríloquo. Amador ainda, mas excepcional – disse Starkey, a polidez em pessoa, e profetizou um “vai ter um futuro brilhante”.
Não teve.
Enquanto se aliviava na ponta do convés, assoviava, como de costume, La vie em rose. Por isso, o Capitão Gancho não ouviu o tique-taque do crocodilo e foi devorado impiedosamente.
Smee ainda viu quando o crocodilo regurgitou o gancho, mas achou que não fosse nada. E no mais, os “negócios de família” ficariam para Starkey, que parecia nutrir um certo desejo proibido pelo adiposo Smee.
Quando Starkey apercebeu-se da morte do tio, chorou o choro de novela mexicana. Mas Smee estava ali para consolá-lo. E desde então, Smee e Starkey vivem juntos. Pensam em adotar uma criança da Terra do Nunca. Ou isso, ou comprar um poodle toy.
link: http://www.revistapiaui.com.br/2007/abr/concurso_vencedor.htm
O adiposo Smee não deu ouvidos ao pedido. Continuou fazendo o que sempre fazia – nada. Irritado com a omissão do companheiro corsário, Starkey, homem de confiança do capitão, assumiu o posto.
- Isso, seu saliente – disse Smee, irritado – Puxa mesmo o saco do capitão.
- Tenho que manter os negócios da família, oras! Ainda mais agora que o capitão pensa em largar essa vida de pilhagem...
- Ah, você só está nesse barco por puro nepotismo...
Starkey rezingou um “humpf”.
Silêncio.
- O que seu tio, nosso glorioso capitão, vai fazer quando deixar essa vida? Vai ser goleiro do Íbis? – disse Smee, rindo todo o sarcasmo dos sete mares. Sabia que falar da deficiência física do capitão era inundar de ira o coração de Starkey.
- Seu puto! – berrou em resposta – Ainda te mato!
- Ah, convenhamos... O que um homem com um gancho no lugar da mão direita pode fazer? Se ainda fosse canhoto...
Starkey se recompôs. Era um pirata de bons modos, afinal. Efeminado, inclusive.
- Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo. Sabia disso? Sabia que nas horas vagas, entre uma fuga de crocodilo e uma briga com crianças, ele pratica ventriloquia?
Silêncio novamente. E então, uma crise de riso do tamanho do oceano irrompeu a mudez.
- Seu tio? Ventríloquo? Com aquele gancho? – dizia Smee, entre golfadas de ar.
- Pois é um excelente ventríloquo. Amador ainda, mas excepcional – disse Starkey, a polidez em pessoa, e profetizou um “vai ter um futuro brilhante”.
Não teve.
Enquanto se aliviava na ponta do convés, assoviava, como de costume, La vie em rose. Por isso, o Capitão Gancho não ouviu o tique-taque do crocodilo e foi devorado impiedosamente.
Smee ainda viu quando o crocodilo regurgitou o gancho, mas achou que não fosse nada. E no mais, os “negócios de família” ficariam para Starkey, que parecia nutrir um certo desejo proibido pelo adiposo Smee.
Quando Starkey apercebeu-se da morte do tio, chorou o choro de novela mexicana. Mas Smee estava ali para consolá-lo. E desde então, Smee e Starkey vivem juntos. Pensam em adotar uma criança da Terra do Nunca. Ou isso, ou comprar um poodle toy.
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