quarta-feira, julho 19, 2006

Uma grande empresa - Silvia Curiati

Era uma empresa com problemas. Cabeça-dura e Coração-mole, funcionário e chefe respectivamente. O Coração dava as coordenadas e a Cabeça tinha como ordem trancá-las e seguí-las à risca.
Vez ou outra, a Cabeça tinha os seus momentos. Todo funcionário quer crescer dentro da empresa, claro. Ela tinha rompantes de luz e fazia tudo parecer muito mais simples, as soluções estavam ali, ao seu alcance, por breves segundos. Era quando a empresa parecia mais forte.
Mas o Coração não era coercível. Sua complacência durava pouco. Logo ele recobrava as forças e dominava novamente, com seus pensamentos ilógicos e imperfeitos, cheios de intuições e significados embutidos. Não tinha imparcialidade, característica importante a um governante. Mas era apaixonado, o que fazia todos os seus êxitos terem mais brilho.
Já houve dias em que, ausentando-se a Cabeça, o Coração chegava até mesmo a culpar-se pelos problemas que o envolviam, como se sua empresa, seu governo, fosse a causa da desgraça de outras. Nestes momentos soava o alarme de emergência e a Cabeça voltava correndo para injetar todos os seus argumentos (muito bons e verdadeiros, diga-se de passagem) na veia, dose única. Afetava toda a empresa, já que normalmente estes medicamentos são fortes e doloridos, por prometerem rápido efeito.
Se a Cabeça fosse chefe, seria ditadora. O Coração é um governante democrata. Cabeça-dura não houve nada além de sua voz, seria um soldado de defesa brilhante; Coração-mole é todo ouvidos, se deixa influenciar por todas as intempéries.
E esta é uma empresa falida, por ter problemas absolutamente sem solução. Ninguém está no poder, ninguém assume. Eu peço demissão antes que seja tarde demais.

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