Veridiana era uma astróloga. Era taróloga também. Só não lia bola de cristal porque não tinha dinheiro para comprar um cristal como tinha que ser. Usava dez anéis nas mãos, sendo que os dedos do meio não tinham nenhum. Nas orelhas, punha argolas com moedinhas penduradas, e deixava sempre o cabelão solto - mas não era cigana. Desenhava uma estrela na testa toda manhã, no lugar onde seria seu terceiro olho.
Quando sua intuição era muito forte, a estrela doía como se existisse de verdade. Ela já não sabia se aquilo era real ou sugerido por seu fanatismo pelo personagem Harry Potter.
Recebia os clientes em casa, sentada em uma mesinha com velas coloridas, de todos os tamanhos e formatos, num canto. Ao alcance da mão, um copo de vidro azul, cheio d'água.
Numa tarde chuvosa de março, Igor antrou em sua casa. Ela estava colocando a fita cassete no gravador, porque sempre grava a consultas e a entrega ao cliente. Quando o viu não conteve o grito, da pontada que sentiu na estrela.
Igor era um rapaz simpático. Naquele mês faria 30 anos. Resolveu, pela primeira vez, ver o que os astros diriam sobre sua nova vida balzaquiana. Achou Veridiana atraente mas evitou fixar-se nisso, com medo que ela pudesse ler seus pensamentos. Ela não leu nada, mas a intuição feminina (e devidamente trabalhada, como era a de Veridiana) ajudou-a a tirar suas próprias conclusões - "o cara gostou de mim".
Ele tinha terminado um namoro de 8 anos. Estava abalado. Não tinha rumo na vida. Foi procurá-la porque queria um consolo, entender se encontraria uma mulher melhor, igual, ou na realidade, se aquela voltaria e o perdoaria.
Veridiana reparou que ele tinha olhos bonitos. Mãos bonitas, também. Colocou as cartas na mesa e viu a menina lá, voltando de mala e cuia. Disse que não. Ela não voltaria.
Igor ficou perturbado. E o mapa astral, o que diria? Estava lá, Veridiana viu: o relacionamento continuaria, possibilidade de casamento ainda este ano. Nada, diz que acabou-se um ciclo, você terá que permitir que outro se reinicie, vida nova, pessoas novas, namorada nova.
Igor ficou devastado. Era o fim. Como assim gente nova? Quero a velha, o bom e conhecido colo. Por que resolvi vir escutar estas baboseiras, afinal?
Veridiana abre um sorriso de conforto e fica olhando. Ele repara que ela é sim, muito atraente. Ela cruza seus dez anéis sob o queixo e espera, sem tirar os olhos de Igor. Qual o problema em experimentar o novo?
Ele fica confuso, sente-se envergonhado com sua atitude infantil de homem que não quer deixar o passado para trás. Tira uma nota de R$50 do bolso e coloca sobre a mesa, agradecendo. Dá um gole na água do copo de vidro azul.
Veridiana o acompanha com os olhos e segura o copo antes que ele o ponha de volta na mesa.
Que tal um vinho? Tenho uma garrafa de um tinto italiano aqui. Ele negou e agradeceu, mas ela pegou duas taças assim mesmo, não porque lê mentes, mas porque sabia que ele apareceria na sua vida mais cedo ou mais tarde. Então pra que deixá-lo escapar?
Quando sua intuição era muito forte, a estrela doía como se existisse de verdade. Ela já não sabia se aquilo era real ou sugerido por seu fanatismo pelo personagem Harry Potter.
Recebia os clientes em casa, sentada em uma mesinha com velas coloridas, de todos os tamanhos e formatos, num canto. Ao alcance da mão, um copo de vidro azul, cheio d'água.
Numa tarde chuvosa de março, Igor antrou em sua casa. Ela estava colocando a fita cassete no gravador, porque sempre grava a consultas e a entrega ao cliente. Quando o viu não conteve o grito, da pontada que sentiu na estrela.
Igor era um rapaz simpático. Naquele mês faria 30 anos. Resolveu, pela primeira vez, ver o que os astros diriam sobre sua nova vida balzaquiana. Achou Veridiana atraente mas evitou fixar-se nisso, com medo que ela pudesse ler seus pensamentos. Ela não leu nada, mas a intuição feminina (e devidamente trabalhada, como era a de Veridiana) ajudou-a a tirar suas próprias conclusões - "o cara gostou de mim".
Ele tinha terminado um namoro de 8 anos. Estava abalado. Não tinha rumo na vida. Foi procurá-la porque queria um consolo, entender se encontraria uma mulher melhor, igual, ou na realidade, se aquela voltaria e o perdoaria.
Veridiana reparou que ele tinha olhos bonitos. Mãos bonitas, também. Colocou as cartas na mesa e viu a menina lá, voltando de mala e cuia. Disse que não. Ela não voltaria.
Igor ficou perturbado. E o mapa astral, o que diria? Estava lá, Veridiana viu: o relacionamento continuaria, possibilidade de casamento ainda este ano. Nada, diz que acabou-se um ciclo, você terá que permitir que outro se reinicie, vida nova, pessoas novas, namorada nova.
Igor ficou devastado. Era o fim. Como assim gente nova? Quero a velha, o bom e conhecido colo. Por que resolvi vir escutar estas baboseiras, afinal?
Veridiana abre um sorriso de conforto e fica olhando. Ele repara que ela é sim, muito atraente. Ela cruza seus dez anéis sob o queixo e espera, sem tirar os olhos de Igor. Qual o problema em experimentar o novo?
Ele fica confuso, sente-se envergonhado com sua atitude infantil de homem que não quer deixar o passado para trás. Tira uma nota de R$50 do bolso e coloca sobre a mesa, agradecendo. Dá um gole na água do copo de vidro azul.
Veridiana o acompanha com os olhos e segura o copo antes que ele o ponha de volta na mesa.
Que tal um vinho? Tenho uma garrafa de um tinto italiano aqui. Ele negou e agradeceu, mas ela pegou duas taças assim mesmo, não porque lê mentes, mas porque sabia que ele apareceria na sua vida mais cedo ou mais tarde. Então pra que deixá-lo escapar?
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