O insaciável já tinha quatro no pé. Duas ex, uma atual e uma prospect. Como se não bastasse, ainda tinha uma melhor amiga (praqueles que acreditam que existe amizade pura entre homens e mulheres e que ainda esperam pelo Papai Noel). Mas assim mesmo não baixava o facho.
Num evento, comentou com a melhor amiga que aquela ali, ó, será sua próxima vítima. A loirinha de cabelos curtos e pele branquinha. Depois de elogiar as pernas da interlocutora, é claro. Porque ele não poderia arriscar perder uma fã. Tem que manter todas dourando na manteiga, em banho-maria. De vez em quando mexe a frigideira, pula uma que logo depois volta ao seu lugar, esquecida por um tempo. Fora que ciúme é algo insuportável, palavra riscada de seu dicionário de amante. Então agrada a todas para se garantir.
- Mas ela é casada!
- Não importa. Não morreu.
- Você pode destruir um lar!
- Eu não. Ela destrói o lar se ela quiser. Eu só vou lhe proporcionar uns momentos de prazer. Você não acha que ela tem cara de quem precisa escutar coisas bonitas?
- Não! – e pensa “eu preciso!”- Isso que você tá dizendo é horrível!
- Você tá linda hoje.
- Você é um... ah, brigada. Gostou mesmo? É novo.
Era o carisma do filho da mãe. Como sabia enganar. E a melhor amiga era quem mais sofria. Amava o traste como ninguém e acabava colocando-se nas piores situações, quando tinha que ouvi-lo falar de suas conquistas e suas paixões. O pior é que eram paixões eternas: ele era do tipo que amava a mulher com quem estivesse, loucamente. E nunca a deixava escapar. Ela seria sua prisioneira para todo o sempre.
A amiga já era cativa. Nunca mais conseguira se apaixonar por ninguém, só tinha olhos para ele. Mas aquele dia, quando ouviu tamanha baboseira de sua boca bonita, decidiu que ele era um babaca.
Decidir aquilo levou a outra conclusão: o nome dele seria eliminado de seu diário. Já não seria mais o príncipe encantado. Não merecia aquilo. Está nos estatutos de algum mundo mais justo: “Toda mulher tem direito a um homem que lute por ela, que venha atrás e seja apaixonado, que a olhe com ternura como se ela fosse a única em seu campo de visão.”
Teria que crescer e apagá-lo de sua vida. Mas crescer dói, já lhe disse outra amiga. Ao que ela completa: dói e dá estrias. Estas são fatais, imortais, estrias são marcas eternas que denunciam as mudanças corpo durante o crescimento. E ficam lá para sempre, para lembrar que você abusou do chocolate na adolescência e só depois percebeu que sua silhueta não condizia com a ditada pela moda. Para lembrar que você martelou muito num assunto, num único homem que até falou algumas coisas bonitas, mas que machucou demais também. E pra este tipo de marcas, ainda não inventaram cirurgia. Então, bola pra frente.
- Fui...
- Aonde você pensa que vai sozinha, assim, tão bonita?
- Vá lá ver se eu tô na esquina, vai!
Assim, cortou as amarras e sumiu, sendo a primeira a dispensá-lo. Assim, outras viriam, porque o encanto havia sido quebrado.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
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