Sempre me pareceu intrigante a razão pela qual normalmente diz-se que a paciência é uma virtude. Sem dúvida, ter paciência é algo que pode vir a tornar-se extremamente difícil, requerendo uma grande dose de disciplina e autocontrole. Não é da questão do valor do esforço que estamos falando, mas da paciência em si. Se alguém, por exemplo, possui um objetivo de longo prazo, e vai manipulando as muitas variáveis ao longo do tempo a fim de convergir seu destino ao ponto desejado, esse indivíduo poderia ser louvado como um bom administrador e um bom estrategista. Entretanto, não é óbvio que todas as assim chamadas “virtudes” de natureza passiva, como, neste caso, a paciência, assentam-se sobre o solo da impotência? Ora, a razão disso torna-se evidente para todo indivíduo que nisso pense por alguns minutos. Precisamos administrar nossa pequena força e convergi-la ao objetivo para irmos conquistando-o aos poucos, pois ela é pequena demais para conseguirmos alcançá-lo num só golpe. Neste caso, torna-se necessária a paciência e a perseverança como condições que são imperativas e imprescindíveis. Caso pudéssemos alcançar o objetivo visado de uma só vez, prontamente dispensaríamos a retórica da paciência. Ela só é necessária para os que não podem alcançar seu objetivo imediatamente e, em sua impotência, colocam na paciência a máscara de “virtude” para justificar e dourar sua falta de poder. O sofrimento que advém de sua impotência não tem nada de virtuoso, mas, para suportá-lo e para continuar perseguindo seus objetivos, precisa acreditar que tal perseverança e tal resistência não são reflexo de uma profunda impotência no momento imediato, mas sim de uma força grandiosa. Que enorme inversão!
Fonte: http://niilismo.ateus.net
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