terça-feira, setembro 12, 2006

O tatuador intérprete - Silvia Curiati

Era bom em transformar coisas intangíveis em desenhos, reduzia um sentimento vasto a alguns traços simples e firmes, eternizando-os nos corpos em forma de tatuagem.
Se alguém lhe pedisse uma estrela, um dragão, rapidamente ele recomendava um colega. Não era tatuador, era intérprete.
Pediram-lhe mais tempo. Ele deu um relógio de Dali escorrendo no ombro esquerdo.
Pediram-lhe fé. Ele pregou uma cruz de cabeça para baixo na parte interna do antebraço, emaranhada em rosas cheias de espinhos.
Pediram-lhe luz. Ele deu três pequenos vagalumes na região do cóccix.
Pediram-lhe vingança. Ele deu um ás de espadas na nuca.
Pediram-lhe liberdade. Ele deu asas em seus pés.
Pediram-lhe um caminho. Ele deu pegadas em toda a extensão da coluna.
Pediu-lhe seu amor. Ele deu apenas um beijo na boca e tatuou, em seu próprio peito, um buraco de fechadura, jogando em seguida todas as suas agulhas fora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha, eu nunca fui de entrar nesses blogs... mas eu juro que num podia deixar de comentar!!! Ainda mais pela surpresa de ninguém ter comentado ainda... será se ninguém entendeu a mensagem? Poxa vida, Thiago... vc acabou de ganhar mais uma fã! (eu sei que são muitas...).
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Claudia