As onze badaladas surdas cortando o breu da noite foram o sinal para que ele saísse sorrateiro, deixando um rastro de adrenalina que fez Milu levantar a cabeça e farejar as intenções de seu dono.
Era a melhor hora do dia para boiar. Brisa fria, água fria, terra fria. O conjunto dava-lhe a sensação de que sua cabeça e seu coração esfriavam um pouco também.
Tirou a roupa e mergulhou abrindo os olhos, como se buscasse estrelas tocando o chão. Subiu de volta e apontou o umbigo para a lua, fechando os olhos para não cair à tentação de fazer um pedido a uma estrela cadente que insistisse em atravessar o seu caminho. Sabia o que pediria, e também sabia que era impossível sua realização. Profilaxia: enquanto não conseguisse pensar em outra coisa, não olharia mais para o céu.
A água não o abraçava porque ninguém mais o fazia. Ela o carregava como mãos desconhecidas, se aquele fosse o corpo de um herói.
Ele lembrou-se de quando era criança pedindo uma menininha da escola em namoro, esperando sua resposta por uma semana. Queria reviver aquela sensação de tranqüilidade e desprendimento. Esperou por sete dias sem cogitar sequer uma vez se a menina aceitaria ou não. Tudo era mais importante: o campeonato de futebol de salão, a prova de ciências, a ida ao Playcenter no sábado. Difícil resgatar a inocência do amor infantil.
Podia jurar que a água ao redor de seu corpo esquentava, quase formando bolhas. Pensou, sem querer, no rosto desta outra menina que o assombrava há meses. Abriu os olhos e empurrou seu corpo para o fundo d'água, pulmões vazios, tentando eliminar toda a oxigenação que tornasse possível a formação de uma imagem nítida em sua mente. Foram 6 minutos.
Nadou até a margem, saiu e caminhou nu, sem secar-se, plantando-se debaixo de uma árvore o resto da noite. Esgotar o pensamento lhe daria dores na cabeça e o libertaria. Doeu, tinha razão.
Voltou à casa seis horas depois, agarrando com firmeza as rédeas de um cavalo que havia desaparecido. Calçou um par de pantufas e foi tomar um copo de leite, brindando consigo sua nova vida.
Era a melhor hora do dia para boiar. Brisa fria, água fria, terra fria. O conjunto dava-lhe a sensação de que sua cabeça e seu coração esfriavam um pouco também.
Tirou a roupa e mergulhou abrindo os olhos, como se buscasse estrelas tocando o chão. Subiu de volta e apontou o umbigo para a lua, fechando os olhos para não cair à tentação de fazer um pedido a uma estrela cadente que insistisse em atravessar o seu caminho. Sabia o que pediria, e também sabia que era impossível sua realização. Profilaxia: enquanto não conseguisse pensar em outra coisa, não olharia mais para o céu.
A água não o abraçava porque ninguém mais o fazia. Ela o carregava como mãos desconhecidas, se aquele fosse o corpo de um herói.
Ele lembrou-se de quando era criança pedindo uma menininha da escola em namoro, esperando sua resposta por uma semana. Queria reviver aquela sensação de tranqüilidade e desprendimento. Esperou por sete dias sem cogitar sequer uma vez se a menina aceitaria ou não. Tudo era mais importante: o campeonato de futebol de salão, a prova de ciências, a ida ao Playcenter no sábado. Difícil resgatar a inocência do amor infantil.
Podia jurar que a água ao redor de seu corpo esquentava, quase formando bolhas. Pensou, sem querer, no rosto desta outra menina que o assombrava há meses. Abriu os olhos e empurrou seu corpo para o fundo d'água, pulmões vazios, tentando eliminar toda a oxigenação que tornasse possível a formação de uma imagem nítida em sua mente. Foram 6 minutos.
Nadou até a margem, saiu e caminhou nu, sem secar-se, plantando-se debaixo de uma árvore o resto da noite. Esgotar o pensamento lhe daria dores na cabeça e o libertaria. Doeu, tinha razão.
Voltou à casa seis horas depois, agarrando com firmeza as rédeas de um cavalo que havia desaparecido. Calçou um par de pantufas e foi tomar um copo de leite, brindando consigo sua nova vida.