Eu tenho muitos traumas de infância, mas com certeza, a pior coisa era quando eu me machucava e tinha que mostrar o estrago para a minha mãe passar Mertiolate ou Mercúrio Cromo.Eu sei que o machucado podia infeccionar, mas eu não queria passar por aquilo. Era horrível demais. Minha mãe vinha com aqueles frascos, com toda a sua delicadeza, mas como ardia! Parecia que era água com limão e álcool!Lembro-me como se fosse hoje: eu sentado no chão e minha mãe chegando com a redinha, que mais se parecia com aqueles matadores de pernilongo, e eu já me perguntava: “por que eu fui me machucar?!?” Por mais que assoprasse, era inútil... Aquilo latejava no meu machucado de uma maneira que dava pra sentir os meus batimentos cardíacos. E pra completar, o pior eram as manchas de tinta vermelha no corpo, que demorava dias pra sair. Conforme eu tomava alguns banhos, a coisa toda ia descolorindo até chegar a uma cor quase rosa. Mas se ainda não tivesse cicatrizado direito, era só dar mais uma mão de tinta e beleza! Tava lá, na cor original!Depois de quase cinqüenta anos, o remédio foi vetado no mercado em 2001 pelo Ministério da Saúde, alegando que suas substâncias eram prejudiciais à saúde, e que a melhor saída sempre é lavar a ferida com água e sabão. Juro que eu sempre falava isso pra minha mãe, mas ela nunca acreditou.
sexta-feira, setembro 30, 2005
quinta-feira, setembro 29, 2005
Amigos - por Fernando Pessoa
Um dia a maioria de nós irá se separar....Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos.Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas definais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.Hoje não tenho mais tanta certeza disso.Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe... nos e-mails trocados.Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens....Aí os dias vão passar, meses... anos... até este contato tornar-secada vez mais raro.Vamos nos perder no tempo...Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão? Quem sãoaquelas pessoas?
Diremos... Que eram nossos amigos.E... isso vai doer tanto!Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minhavida!A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...Quando o nosso grupo estiver incompleto.... nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo.E entre lágrimas nos abraçaremos.Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.E nos perderemos no tempo...Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades...Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Diremos... Que eram nossos amigos.E... isso vai doer tanto!Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minhavida!A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...Quando o nosso grupo estiver incompleto.... nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo.E entre lágrimas nos abraçaremos.Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.E nos perderemos no tempo...Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades...Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Clube do Bolinha: Os homens não são tão insensíveis - por Rodrigo Rangel e Thadeu Braga
É comum ouvir das mulheres que homem não presta, vocês são todos iguais, todo homem é cachorro. Frases que dão a idéia de que os homens são seres brutos e sem qualquer indício de sensibilidade. Segundo elas, nós, homens, não abrimos a porta do carro, não entregamos flores, não discutimos a relação e não fazemos uma infinidade de coisas sensíveis. Mas será que todos os homens são assim mesmo? Claro que existem aqueles que "queimam" nosso filme e por causa destes somos mal vistos pelas Luluzinhas. Os homens estão dispostos a mudar isso. Para isso é preciso demonstrar seus profundos sentimentos pela mulher amada, sem se importar com que os outros vão pensar. Essa nossa fama de mau não pode ser generalizada. Na política as coisas não andam lá muito bem, mas não é por isso que os deputados ou senadores são todos corruptos. Acreditem! Existe sensibilidade em muitos de nós. Já cansei de conversar com muitos colegas arrasados por conta de amor não correspondido, traições, brigas, etc. Sim, os homens também choram – mais do que qualquer pessoa possa imaginar. Essa história de homem ser bruto e grosso é pura generalização. Mulher é mais durona. Qualquer coisa eu choro. Esse negócio que homem não pode chorar é puro machismo, confessa Henio Dias. Se pensarmos bem, as mulheres também poderiam ser taxadas de insensíveis. Afinal, elas também traem, não dão satisfação e, muitas vezes, não ligam para isso. Mas o problema está bem mais fundo, lá onde a luz do sol é fraca. Muitos Bolinhas são sensíveis, mas, por alguma razão, se decepcionaram e decidiram chutar o balde. Aquele cara grosseirão provavelmente já chorou por alguma menina que o fez sofrer e ficou muito magoado, passando a ser insensível. Portanto, elas deviam valorizar os muitos homens sensíveis que estão à solta no mercado, no lugar de ficar babando os mais estúpidos. Nós, homens, sabemos que enquanto elas estão indo atrás do cafajeste, existem vários caras sensíveis loucos para agradá-las e fazer todo tipo de declaração de amor. Quando realmente gostamos, nos entregamos de corpo e alma, e muitos quando não o fazem, é com medo de se machucar ou querendo manter a fama de durão. Contudo, essas máscaras caem, e o homem que antes se intitulava o "pegador", que saia para o show da Ivete no Beach Park e agarrava todas sem compromisso, agora manda flores e cartões no aniversário de mês de namoro. Todos nós somos sensíveis no fundo de nossos corações, basta aparecer alguém que saiba valorizar isso.
(clique no título e leia do original a reportagem e sua continuação feita por Thadeu Braga e Rodrigo Rangel. Me mata de orgulho, Rochedão!)
(clique no título e leia do original a reportagem e sua continuação feita por Thadeu Braga e Rodrigo Rangel. Me mata de orgulho, Rochedão!)
quarta-feira, setembro 28, 2005
Mario Quitana
"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira... Quando se vê, já é Natal... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida... Quando se vê, passaram-se 50 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas... Seguraria o amor, que está muito à minha frente, e diria que eu amo... Dessa forma, eu digo: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá, será a desse tempo que infelizmente... Nunca mais voltará."
Clic - Luis Fernando Verissimo
Cidadão se descuidou e roubaram seu celular. Como era um executivo e não sabia mais viver sem celular, ficou furioso. Deu parte do roubo, depois teve uma idéia. Ligou para o número do telefone. Atendeu uma mulher.
— Aloa.
— Quem fala?
— Com quem quer falar?
— O dono desse telefone.
— Ele não pode atender.
— Quer chamá-lo, por favor?
— Ele esta no banheiro. Eu posso anotar o recado?
— Bate na porta e chama esse vagabundo agora.
Clic. A mulher desligou. O cidadão controlou-se. Ligou de novo.
— Aloa.
— Escute. Desculpe o jeito que eu falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.
— Ele já vai sair do banheiro.
— Você é a...
— Uma amiga.
— Como é seu nome?
— Quem quer saber?
O cidadão inventou um nome.
— Taborda. (Por que Taborda, meu Deus?) Sou primo dele.
— Primo do Amleto?
Amleto. O safado já tinha um nome.
— É. De Quaraí.
— Eu não sabia que o Amleto tinha um primo de Quaraí.
— Pois é.
— Carol.
— Hein?
— Meu nome. É Carol.
— Ah. Vocês são...
— Não, não. Nos conhecemos há pouco.
— Escute Carol. Eu trouxe uma encomenda para o Amleto. De Quaraí. Uma pessegada, mas não me lembro do endereço.
— Eu também não sei o endereço dele.
— Mas vocês...
— Nós estamos num motel. Este telefone é celular.
— Ah.
— Vem cá. Como você sabia o número do telefone dele? Ele recém-comprou.
— Ele disse que comprou?
— Por que?
O cidadão não se conteve.
— Porque ele não comprou, não. Ele roubou. Está entendendo? Roubou. De mim!
— Não acredito.
— Ah, não acredita? Então pergunta pra ele. Bate na porta do banheiro e pergunta.
— O Amleto não roubaria um telefone do próprio primo.
E Carol desligou de novo.
O cidadão deixou passar um tempo, enquanto se recuperava. Depois ligou.
— Aloa.
— Carol, é o Tobias.
— Quem?
— O Taborda. Por favor, chame o Amleto.
— Ele continua no banheiro.
— Em que motel vocês estão?
— Por que?
— Carol, você parece ser uma boa moça. Eu sei que você gosta do Amleto...
— Recém nos conhecemos.
— Mas você simpatizou. Estou certo? Você não quer acreditar que ele seja um ladrão. Mas ele é, Carol. Enfrente a realidade. O Amleto pode Ter muitas qualidades, sei lá. Há quanto tempo vocês saem juntos?
— Esta é a primeira vez.
— Vocês nunca tinham se visto antes?
— Já, já. Mas, assim, só conversa.
— E você nem sabe o endereço dele, Carol. Na verdade você não sabe nada sobre ele. Não sabia que ele é de Quaraí.
— Pensei que fosse goiano.
— Ai esta, Carol. Isso diz tudo. Um cara que se faz passar por goiano...
— Não, não. Eu é que pensei.
— Carol, ele ainda está no banheiro?
— Está.
— Então sai daí, Carol. Pegue as suas coisas e saia. Esse negocio pode acabar mal. Você pode ser envolvida. — Saia daí enquanto é tempo, Carol!
— Mas...
— Eu sei. Você não precisa dizer. Eu sei. Você não quer acabar a amizade. Vocês se dão bem, ele é muito legal. Mas ele é um ladrão, Carol. Um bandido. Quem rouba celular é capaz de tudo. Sua vida corre perigo.
— Ele esta saindo do banheiro.
— Corra, Carol! Leve o telefone e corra! Daqui a pouco eu ligo para saber onde você está.
Clic.
Dez minutos depois, o cidadão liga de novo.
— Aloa.
— Carol, onde você está?
— O Amleto está aqui do meu lado e pediu para lhe dizer uma coisa.
— Carol, eu...
— Nós conversamos e ele quer pedir desculpas a você. Diz que vai devolver o telefone, que foi só brincadeira. Jurou que não vai fazer mais isso.
O cidadão engoliu a raiva. Depois de alguns segundos falou:
— Como ele vai devolver o telefone?
— Domingo, no almoço da tia Eloá. Diz que encontra você lá.
— Carol, não...
Mas Carol já tinha desligado.
O cidadão precisou de mais cinco minutos para se recompor. Depois ligou outra vez.
—Aloa.
Pelo ruído o cidadão deduziu que ela estava dentro de um carro em movimento.
— Carol, é o Torquatro.
— Quem?
— Não interessa! Escute aqui. Você está sendo cúmplice de um crime. Esse telefone que você tem na mão, esta me entendendo? Esse telefone que agora tem suas impressões digitais. É meu! Esse salafrário roubou meu celular!
— Mas ele disse que vai devolver na...
— Não existe Tia Eloá nenhuma! Eu não sou primo dele. Nem conheço esse cafajeste. Ele esta mentindo para você, Carol.
— Então você também mentiu!
— Carol...
Clic.
Cinco minutos depois, quando o cidadão se ergueu do chão, onde estivera mordendo o carpete, e ligou de novo, ouviu um "Alô" de homem.
— Amleto?
— Primo! Muito bem. Você conseguiu, viu? A Carol acaba de descer do carro.
— Olha aqui, seu...
— Você já tinha liquidado com o nosso programa no motel, o maior clima e você estragou, e agora acabou com tudo. Ela está desiludida com todos os homens, para sempre. Mandou parar o carro e desceu. Em plena Cavalhada. Parabéns primo. Você venceu. Quer saber como ela era?
— Só quero meu telefone.
— Morena clara. Olhos verdes. Não resistiu ao meu celular. Se não fosse o celular, ela não teria topado o programa. E se não fosse o celular, nós ainda estaríamos no motel. Como é que chama isso mesmo? Ironia do destino?
— Quero meu celular de volta!
— Certo, certo. Seu celular. Você tem que fechar negócios, impressionar clientes, enganar trouxas. Só o que eu queria era a Carol...
— Ladrão
— Executivo
— Devolve meu...
Clic.
Cinco minutos mais tarde. Cidadão liga de novo. Telefone toca várias vezes. Atende uma voz diferente.
— Ahn?
— Quem fala?
— É o Trola.
— Como você conseguiu esse telefone?
— Sei lá. Alguém jogou pela janela de um carro. Quase me acertou.
— Onde você está?
— Como eu estou? Bem, bem. Catando meus papéis, sabe como é. Mas eu já fui de circo. É. Capitão Trovar. Andei até pelo Paraguai.
— Não quero saber de sua vida. Estou pagando uma recompensa por este telefone. Me diga onde você está que eu vou buscar.
— Bem. Fora a Dalvinha, tudo bem. Sabe como é mulher. Quando nos vê por baixo, aproveita. Ontem mesmo...
— Onde você está? Eu quero saber onde!
— Aqui mesmo, embaixo do viaduto. De noitinha. Ela chegou com o índio e o Marvão, os três com a cara cheia, e...
Extraído do livro "As Mentiras que os Homens Contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 41.
— Aloa.
— Quem fala?
— Com quem quer falar?
— O dono desse telefone.
— Ele não pode atender.
— Quer chamá-lo, por favor?
— Ele esta no banheiro. Eu posso anotar o recado?
— Bate na porta e chama esse vagabundo agora.
Clic. A mulher desligou. O cidadão controlou-se. Ligou de novo.
— Aloa.
— Escute. Desculpe o jeito que eu falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.
— Ele já vai sair do banheiro.
— Você é a...
— Uma amiga.
— Como é seu nome?
— Quem quer saber?
O cidadão inventou um nome.
— Taborda. (Por que Taborda, meu Deus?) Sou primo dele.
— Primo do Amleto?
Amleto. O safado já tinha um nome.
— É. De Quaraí.
— Eu não sabia que o Amleto tinha um primo de Quaraí.
— Pois é.
— Carol.
— Hein?
— Meu nome. É Carol.
— Ah. Vocês são...
— Não, não. Nos conhecemos há pouco.
— Escute Carol. Eu trouxe uma encomenda para o Amleto. De Quaraí. Uma pessegada, mas não me lembro do endereço.
— Eu também não sei o endereço dele.
— Mas vocês...
— Nós estamos num motel. Este telefone é celular.
— Ah.
— Vem cá. Como você sabia o número do telefone dele? Ele recém-comprou.
— Ele disse que comprou?
— Por que?
O cidadão não se conteve.
— Porque ele não comprou, não. Ele roubou. Está entendendo? Roubou. De mim!
— Não acredito.
— Ah, não acredita? Então pergunta pra ele. Bate na porta do banheiro e pergunta.
— O Amleto não roubaria um telefone do próprio primo.
E Carol desligou de novo.
O cidadão deixou passar um tempo, enquanto se recuperava. Depois ligou.
— Aloa.
— Carol, é o Tobias.
— Quem?
— O Taborda. Por favor, chame o Amleto.
— Ele continua no banheiro.
— Em que motel vocês estão?
— Por que?
— Carol, você parece ser uma boa moça. Eu sei que você gosta do Amleto...
— Recém nos conhecemos.
— Mas você simpatizou. Estou certo? Você não quer acreditar que ele seja um ladrão. Mas ele é, Carol. Enfrente a realidade. O Amleto pode Ter muitas qualidades, sei lá. Há quanto tempo vocês saem juntos?
— Esta é a primeira vez.
— Vocês nunca tinham se visto antes?
— Já, já. Mas, assim, só conversa.
— E você nem sabe o endereço dele, Carol. Na verdade você não sabe nada sobre ele. Não sabia que ele é de Quaraí.
— Pensei que fosse goiano.
— Ai esta, Carol. Isso diz tudo. Um cara que se faz passar por goiano...
— Não, não. Eu é que pensei.
— Carol, ele ainda está no banheiro?
— Está.
— Então sai daí, Carol. Pegue as suas coisas e saia. Esse negocio pode acabar mal. Você pode ser envolvida. — Saia daí enquanto é tempo, Carol!
— Mas...
— Eu sei. Você não precisa dizer. Eu sei. Você não quer acabar a amizade. Vocês se dão bem, ele é muito legal. Mas ele é um ladrão, Carol. Um bandido. Quem rouba celular é capaz de tudo. Sua vida corre perigo.
— Ele esta saindo do banheiro.
— Corra, Carol! Leve o telefone e corra! Daqui a pouco eu ligo para saber onde você está.
Clic.
Dez minutos depois, o cidadão liga de novo.
— Aloa.
— Carol, onde você está?
— O Amleto está aqui do meu lado e pediu para lhe dizer uma coisa.
— Carol, eu...
— Nós conversamos e ele quer pedir desculpas a você. Diz que vai devolver o telefone, que foi só brincadeira. Jurou que não vai fazer mais isso.
O cidadão engoliu a raiva. Depois de alguns segundos falou:
— Como ele vai devolver o telefone?
— Domingo, no almoço da tia Eloá. Diz que encontra você lá.
— Carol, não...
Mas Carol já tinha desligado.
O cidadão precisou de mais cinco minutos para se recompor. Depois ligou outra vez.
—Aloa.
Pelo ruído o cidadão deduziu que ela estava dentro de um carro em movimento.
— Carol, é o Torquatro.
— Quem?
— Não interessa! Escute aqui. Você está sendo cúmplice de um crime. Esse telefone que você tem na mão, esta me entendendo? Esse telefone que agora tem suas impressões digitais. É meu! Esse salafrário roubou meu celular!
— Mas ele disse que vai devolver na...
— Não existe Tia Eloá nenhuma! Eu não sou primo dele. Nem conheço esse cafajeste. Ele esta mentindo para você, Carol.
— Então você também mentiu!
— Carol...
Clic.
Cinco minutos depois, quando o cidadão se ergueu do chão, onde estivera mordendo o carpete, e ligou de novo, ouviu um "Alô" de homem.
— Amleto?
— Primo! Muito bem. Você conseguiu, viu? A Carol acaba de descer do carro.
— Olha aqui, seu...
— Você já tinha liquidado com o nosso programa no motel, o maior clima e você estragou, e agora acabou com tudo. Ela está desiludida com todos os homens, para sempre. Mandou parar o carro e desceu. Em plena Cavalhada. Parabéns primo. Você venceu. Quer saber como ela era?
— Só quero meu telefone.
— Morena clara. Olhos verdes. Não resistiu ao meu celular. Se não fosse o celular, ela não teria topado o programa. E se não fosse o celular, nós ainda estaríamos no motel. Como é que chama isso mesmo? Ironia do destino?
— Quero meu celular de volta!
— Certo, certo. Seu celular. Você tem que fechar negócios, impressionar clientes, enganar trouxas. Só o que eu queria era a Carol...
— Ladrão
— Executivo
— Devolve meu...
Clic.
Cinco minutos mais tarde. Cidadão liga de novo. Telefone toca várias vezes. Atende uma voz diferente.
— Ahn?
— Quem fala?
— É o Trola.
— Como você conseguiu esse telefone?
— Sei lá. Alguém jogou pela janela de um carro. Quase me acertou.
— Onde você está?
— Como eu estou? Bem, bem. Catando meus papéis, sabe como é. Mas eu já fui de circo. É. Capitão Trovar. Andei até pelo Paraguai.
— Não quero saber de sua vida. Estou pagando uma recompensa por este telefone. Me diga onde você está que eu vou buscar.
— Bem. Fora a Dalvinha, tudo bem. Sabe como é mulher. Quando nos vê por baixo, aproveita. Ontem mesmo...
— Onde você está? Eu quero saber onde!
— Aqui mesmo, embaixo do viaduto. De noitinha. Ela chegou com o índio e o Marvão, os três com a cara cheia, e...
Extraído do livro "As Mentiras que os Homens Contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 41.
terça-feira, setembro 27, 2005
Jogo: Call of Duty 2
(clique no título e faça o download da demo de Call of Duty 2, um dos mais bem sucedidos games sobre a Segunda Guerra de todos os tempos)
segunda-feira, setembro 26, 2005
Alma humana - Fernando Pessoa
"A alma humana é um manicômio de caricaturas. Se uma alma pudesse revelar-se com verdade. E nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas, definidas. Seria, como dizem, da verdade o poço, mas um poço sinistro, cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser. Ranho da subjetividade. Eis a alma".
(clique no título e ouça a interpretação livre de Antônio Abujamra)
sexta-feira, setembro 23, 2005
O que é a arte? - Margaret P. Battin
1. Deram-se algumas tintas e papel à Betsy, uma chimpanzé do Jardim Zoológico de Baltimore, com os quais ela criou vários produtos alguns dos quais podem chamar-se pinturas. Ainda que os trabalhos de Betsy não sejam obras-primas, são inegavelmente interessantes e, à sua maneira, apelativos. Foram expostos no Field Museum of Natural History em Chicago algumas peças seleccionadas do trabalho de Betsy. Suponha que, no mês seguinte, aquelas mesmas peças são exibidas no Chicago Art Institute, e que nas duas exposições os trabalhos de Betsy foram muito admirados pelos visitantes.
É arte o trabalho de Betsy? Será só arte em certas condições de exposição (por exemplo, no museu de arte, mas não no museu de história natural)? Se é arte (pelo menos algumas vezes) de quem é?
Quando se procura decidir se uma peça é uma obra de arte, que tipo de considerações devemos ter presentes? Será importante que o criador seja humano? Será importante se o seu criador pretenda que seja recebida ou compreendida como arte? Será importante que o objecto em questão seja, segundo o nosso juízo ou o de outros, um objecto excelente do seu tipo? Será importante onde, quando e por quem seja visto, se o for por alguém? Se, por acaso, a Betsy criar uma composição que não se distinga de uma obra universalmente aceite como uma obra de arte, transformará isso o seu trabalho numa obra de arte? Que diferença fará se determinarmos que a composição de Betsy ou quaisquer outras coisas sejam obras de arte? Que alterações, se as houver, são necessárias no modo como tratamos e pensamos tais objectos quando fazemos esta determinação?
2. Em 1967, a Galeria de arte de Ontário pagou 10.000 dólares por um trabalho de Claes Oldenburg chamado O Hamburguer Gigante (1967): um hamburguer completo com pickles em cima, feito em tela de vela e preenchido com espuma de borracha, com cerca de 1,32 m de altura e 2,13 m de comprimento. Um grupo de estudantes de arte fabricou em cartão uma garrafa de Ketchup à mesma escala, e conseguiram pô-la ao lado do hamburger, o que fez as delícias da imprensa e aborreceu a direcção do museu. O hamburger continua na colecção do museu mas a garrafa nunca mais foi vista.
Este incidente aconteceu realmente. Como podemos avaliá-lo? Deve ser visto como um gesto de desrespeito a um artista eminente e a uma instituição digna, uma demonstração de falta de maneiras? Ou devemos olhá-lo unicamente como um comentário satírico da facilidade e superficialidade da arte "pop", a arte da altura (como a arte "pop" era um comentário à arte "séria" da altura)? Era uma graça sem importância, deixando as coisas como estavam, sem qualquer dano estético? Ou houve um dano estético ou outro, pelo facto ser embaraçoso? Não passou de um grande erro? Será que os estudantes não compreenderam o objectivo do trabalho de Oldenburg e por isso estabeleceram a relação entre a garrafa de cartão e o trabalho cómico de Oldenburg tornando-o esteticamente sem interesse? Mais precisamente, poderíamos dizer que os estudantes criaram uma nova obra de arte própria, incorporando nela o trabalho de Oldenburg como parte?
quinta-feira, setembro 22, 2005
quarta-feira, setembro 21, 2005
Sobre a Amizade
Pítias, condenado à morte pelo tirano Dionísio, passava na prisão os seus últimos dias. Dizia não temer a morte, mas, como explicar que seus olhos se enchessem de lágrimas ao ver o caminho que se abria diante das grades da prisão? Sim, era a dura lembrança dos velhos pais! Era ele o arrimo e o consolo deles. Não mais suportando, um dia Pítias disse ao tirano: - Permita-me ir à casa abraçar meus pais e resolver meus negócios. Estarei de volta em quatro dias, sem acrescentar nem uma hora a mais. - Como posso acreditar na sua promessa? Os caminhos são desertos. O que você quer mesmo é fugir - respondeu Dionísio, irônica e zombeteiramente. - Senhor, é preciso que eu vá. Meus pais estão velhinhos e só contam comigo para se defenderem - insistiu Pítias com o olhar nublado de lágrimas. Vendo que o tirano se mantinha irredutível, Damon, jovem e amigo de Pítias, interveio propondo: - Conceda a licença que meu amigo pede; conheço seus pais e sei que carecem da ajuda do filho. Deixe-o partir e garanto sua volta dentro dos dias previstos, sem faltar uma hora, para lhe entregar a cabeça. A resposta foi um não categórico. Compreendendo o sofrimento do amigo, Damon propôs ficar na prisão em lugar de Pítias e morreria no lugar dele se necessário fosse. O tirano, surpreendido, aceitou a proposta e depois de um prolongado abraço no amigo, Pítias partiu. O dia marcado para sua execução amanheceu ensolarado. As horas passavam céleres e a guarda já se mostrava inquieta. Entretanto, Damon procurava restabelecer a calma, garantindo que o amigo chegaria em tempo. Finalmente chegara a hora da execução. Os guardas tiraram os grilhões dos pés de Damon e o conduziram à praça, onde a multidão acompanhava em silêncio a cada um dos seus passos. Subiu, então, ao cadafalso. Uma estranha agitação levou a multidão a prorromper em gritos. Era Pítias que chegava exausto e quase sem fôlego. Porém, rompendo a multidão, galgou os degraus do cadafalso, onde, abraçando o amigo, entregou-se ao carrasco sem o menor pavor. Os soluços da multidão comovida chegaram aos ouvidos do tirano. Este, pondo-se de pé em sua tribuna, para melhor se convencer da cena que acabava de acontecer na praça, levantou as mãos e bradou com firmeza: - Parem imediatamente com a execução! Esses dois jovens são dignos do amor dos homens de bem, porque sabem o quanto significa uma amizade.
Autor desconhecido
BAUMOM: Inteligência em Apresentações Corporativas
terça-feira, setembro 20, 2005
segunda-feira, setembro 19, 2005
Picasso nunca é demais...
sexta-feira, setembro 16, 2005
Sobre o Silêncio
quinta-feira, setembro 15, 2005
quarta-feira, setembro 14, 2005
Desenhista russo: INCRÍVEL
(clique no título e assista ao desenho feito no paint por um desenhista russo)
Fabulando
ANATOMIA REBELDE
Quando o corpo foi criado, todas as partes queriam ser o Chefe. O cérebro foi logo raciocinando: — Eu deveria ser o Chefe porque controlo todas as respostas e funções do corpo.
Os pés entraram de sola: — Nós deveríamos ser o Chefe porque carregamos o cérebro para onde ele quiser!
As mãos ficaram cheias de dedos: — Nós é que devemos ser o Chefe: fazemos um monte de trabalho sujo e ainda contamos o dinheiro ganho!
E assim foi. Cada órgão ou membro ou parte falando de suas qualidades para ser Chefe! Até que chegou a vez do ânus falar. Todos os outros começaram a rir tanto que ele não conseguiu emitir nenhum som ou gás. Mas, para se vingar, entrou em greve, fechou-se e recusou-se a trabalhar. Em pouco tempo os olhos ficaram vesgos, as mãos de crisparam, os pés se retorceram, o coração acelerou, o cérebro começou a falhar. Quando tudo estava prestes a explodir, o cérebro enviou uma mensagem ao ânus dizendo que todos concordavam que ele fosse o Chefe soberano. A partir daí, foi merda pra tudo quanto é lado!
Moral da história: Você não precisa ser o melhor pra ser o Chefe. Qualquer cuzão pode.
O PERU E O TOURO
O peru estava batendo um glugluglu com o touro e babando os testículos dele:
— Eu adoraria ser grande e forte como você, mas como não posso me contentaria em chegar ao topo daquela árvore, pra me sentir grande!
— Ora, isso é fácil! Minha bosta contém muitos nutrientes e você, comendo um pouco dela, vai ter força suficiente pra subir na árvore.
O peru bicou um pouco de bosta, sentiu-se forte e logo pulou pro primeiro galho da árvore. Queria mais. Desceu, comeu mais bosta, tomou impulso e foi parar no segundo galho. Entusiasmou-se, desceu, comeu mais bosta e pulou até o topo da árvore. Todo orgulhoso. O fazendeiro que passava, vendo aquela bela ave no topo da árvore, imaginando um bom petisco, pegou a espingarda e pou! matou o peru.
Moral da história: Qualquer bosta pode fazer você subir na vida, mas não garante você lá em cima por muito tempo.
O URUBU E O COELHO
Um urubu estava pousado bem no alto de uma árvore, sem fazer nada o dia inteiro. Um coelhinho viu e perguntou:
— Posso sentar aqui embaixo pra ficar fazendo nada o dia inteiro como você?
— Claro, por que não?
O coelhinho ficou sentadinho, todo folgado, descuidou-se... Veio uma cobra e, num bote só, abocanhou-o.
Moral da história: Para ficar sem fazer nada, você precisa estar sentado muito, muito alto.
Quando o corpo foi criado, todas as partes queriam ser o Chefe. O cérebro foi logo raciocinando: — Eu deveria ser o Chefe porque controlo todas as respostas e funções do corpo.
Os pés entraram de sola: — Nós deveríamos ser o Chefe porque carregamos o cérebro para onde ele quiser!
As mãos ficaram cheias de dedos: — Nós é que devemos ser o Chefe: fazemos um monte de trabalho sujo e ainda contamos o dinheiro ganho!
E assim foi. Cada órgão ou membro ou parte falando de suas qualidades para ser Chefe! Até que chegou a vez do ânus falar. Todos os outros começaram a rir tanto que ele não conseguiu emitir nenhum som ou gás. Mas, para se vingar, entrou em greve, fechou-se e recusou-se a trabalhar. Em pouco tempo os olhos ficaram vesgos, as mãos de crisparam, os pés se retorceram, o coração acelerou, o cérebro começou a falhar. Quando tudo estava prestes a explodir, o cérebro enviou uma mensagem ao ânus dizendo que todos concordavam que ele fosse o Chefe soberano. A partir daí, foi merda pra tudo quanto é lado!
Moral da história: Você não precisa ser o melhor pra ser o Chefe. Qualquer cuzão pode.
O PERU E O TOURO
O peru estava batendo um glugluglu com o touro e babando os testículos dele:
— Eu adoraria ser grande e forte como você, mas como não posso me contentaria em chegar ao topo daquela árvore, pra me sentir grande!
— Ora, isso é fácil! Minha bosta contém muitos nutrientes e você, comendo um pouco dela, vai ter força suficiente pra subir na árvore.
O peru bicou um pouco de bosta, sentiu-se forte e logo pulou pro primeiro galho da árvore. Queria mais. Desceu, comeu mais bosta, tomou impulso e foi parar no segundo galho. Entusiasmou-se, desceu, comeu mais bosta e pulou até o topo da árvore. Todo orgulhoso. O fazendeiro que passava, vendo aquela bela ave no topo da árvore, imaginando um bom petisco, pegou a espingarda e pou! matou o peru.
Moral da história: Qualquer bosta pode fazer você subir na vida, mas não garante você lá em cima por muito tempo.
O URUBU E O COELHO
Um urubu estava pousado bem no alto de uma árvore, sem fazer nada o dia inteiro. Um coelhinho viu e perguntou:
— Posso sentar aqui embaixo pra ficar fazendo nada o dia inteiro como você?
— Claro, por que não?
O coelhinho ficou sentadinho, todo folgado, descuidou-se... Veio uma cobra e, num bote só, abocanhou-o.
Moral da história: Para ficar sem fazer nada, você precisa estar sentado muito, muito alto.
terça-feira, setembro 13, 2005
The Trial - Pink Floyd
good morning the Worm, your Honour
the Crown will plainli show
the prisioner who now stands before you
was caught red-handed showing feelings
showing feelings of an almost human nature
this will not do
Call the schoolmaster!
i always said he´d come to no good
in the end, your Honour
if they´d let me have my way
i could have fleyed him to shape
but my hands were tied
the bleeding hearts and artists
let him get away with murder
let me hammer him today
crazy
toys in the attic, i am crazy
truly gone fishing
they must have taken my marbles away
crazy
toys in the attic, he is crazy
you little shit
you´re in it now
i hope they throw away the key
you should´ve talked to me more often then you did
but no!
you had to go your own way
have you broken any homes up lately?
just five minutes, Worm, your Honour
him and me alone
come to mother, baby
let me hold you in my arms
M´Lord i never meant for him to get any troubles
why´d he ever have to leave me?
Worm, your Honour, let me take him home
crazy
over the rainbow, i am crazy
bars in the window
there must have been a door there in the wall
for when i came in
crazy
over the rainbow, he is crazy
the evidence before the court is incontravertible
there´s no need for the jury to retired
in all my years of judging i have never heard before
of someone more deserving of the full penalty of the law
the way you made them suffer
your exquisite wife and mother
fills me with the urge to deficate!
no, judge, the jury!
since my friend, you have revealed your deepest fear
i sentence you to be expose before your peers
tears down thw wall!!
teears down the wall!!
Fogo que arde e dói - Silvia Curati
- Mostre-me seu ferimento - começou o doutor. Ela arregaçou a manga de sua camisa de seda, até a metade do braço esquerdo. Mostrou sua pele morena de sol, lisa como se nunca tivesse sido tocada.- Não vejo nada aqui.- Mas dói. Bem no meio, e reflete em todo o antebraço, até a ponta do dedo anular. Esquenta e adormece. Daí começo a chorar.Ele apalpava seu braço, tirava a pulsação. Seu coração parecia a bateria de uma escola de samba.- Desde quando está doendo?- Há meses.- Algum acontecimento anormal neste período?- Não. Só conheci um homem. Aquele que talvez, seja o homem da minha vida, sabe? Se é que isso existe.- E vocês têm saído juntos? Ele te ofereceu alguma bebida diferente?- Não, não saímos. Ele me embriagou e desapareceu. Disse que estaria sempre lá, mas nunca mais esteve. Não deve ser mentira, porque o homem da minha vida não mente, e eu sei que é ele. Então não sei o que aconteceu. Mas agora o braço dói quando penso que ele já não está...O médico baixou a cabeça, tirou o óculos e coçou a testa com um ar preocupado.Incurável, foi seu diagnóstico. Não é doença, mas é letal. Não há profilaxia. Incurável enquanto a cura estiver foragida. Enquanto não retornar, a saudade e a angústia do amor não-correspondido vão doer, e o braço esquerdo vai queimar como fogo. A solução para amenizar é única: dormir. Hibernar. Tomar o veneno de Julieta e esquecer que o amor existe. Mas lembrando-se de continuar respirando, para não perder a cura de vista.
segunda-feira, setembro 12, 2005
Sabedoria popular
Um pequeno barco de peixes aporta numa vilazinha da costa mexicana. Um turista americano cumprimenta o pescador mexicano pela qualidade do pescado e pergunta quanto tempo ele levou para pegar aquela quantidade de peixes. - "Não muito tempo", respondeu o mexicano.- "Bom, então por que você não ficou mais tempo no mar e pegou mais peixes?", perguntou o americano.O mexicano explicou que aquela quantidade bastava para atender às suas necessidades e as da família. Aí o americano pergunta,- "Mas o que você faz com o resto do seu tempo?"- "Eu durmo até tarde, brinco com meus filhos, descanso com minha esposa...À noite eu vou até a vila ver meus amigos, tomar umas bebidas, tocar violão,cantar umas músicas... eu tenho uma vida completa."O americano interrompe:- "Eu tenho um MBA em Tecnologia da Informação, da UCLA e posso te ajudar.Comece a passar mais tempo pescando todos os dias. Aí você pode vender todo o peixe extra que conseguir pescar. Com o dinheiro extra, você compra um barco maior. Com a receita extra que o barco maior vai trazer, você pode comprar um segundo e um terceiro barco, e assim por diante até possuir uma frota depesqueiros. Ao invés de vender seu peixe para um atravessador, negocie diretamente com as fábricas de beneficiamento ou quem sabe pode até abrir sua própria indústria de beneficiamento. Aí você pode deixar esta vila e ir morar na Cidade do México, Los Angeles ou até mesmo em Nova Iorque! De lá você toca seu imenso empreendimento!"- "Quanto tempo isso iria levar?", perguntou o mexicano.- "Uns vinte, quem sabe vinte e cinco anos", responde o americano.- "E depois?"- "E depois? Aí é que começa a ficar bom", responde o americano - "quando seu negócio começar a crescer de verdade, você abre o capital e faz milhões!!!"- "Milhões? Sério? E depois disso?"- "Depois disso você se aposenta e vai morar numa vilazinha da costa mexicana, dorme até tarde, pega uns peixinhos, descansa ao lado da esposa, brinca com seus filhos e passa as noites se divertindo com os amigos..."Muitas vezes a fome de crescer impede que a gente perceba que já tem o que precisa.
autor desconhecido
O bebê que nasceu com tersol - Silvia Curiati
A enfermeira entrou no quarto com o pequeno embrulho verde em seus braços e uma cara de quem comeu e não gostou.
A nova mamãe fez uma careta ainda pior ao ver que a portadora parecia não ir com a cara de seu pimpolho. Onde já se viu? Todos nascem com cara de joelho, pra que fazer boca de nojo?
Pegou o menino Danilo dos braços da mulher com delicadeza suficiente para não machucar o bebê, mas com determinação para que a enfermeira notasse seu desgosto.
Abriu o pacotinho para ver melhor o rosto do recém-nascido e viu a pelota.
- Ahhh!! O que é isso no olho do meu filhinho?
- É, minha senhora, um pequeno probleminha....
- O quê? Meu Deus! O quê?
- Tersol.
- Mas como pode um bebê nascer com tersol!!??
- Ah, poder pode tudo, né dona? Vai entender a providência divina...
- Não tem nada a ver com providência divina, eu quero é um médico aqui já!
O diagnóstico foi tersol de nascença. Do tipo que não sai com água boricada nem com aliança quente. Fica lá pra sempre. Pareceu muito grande só até o menino crescer. Depois, naturalmente, não cobria mais seu olho inteiro.
O pequeno Danilo foi um felizardo, porque pôde ver o mundo com outros olhos. Ou melhor, o enxergava em outro formato. Tudo era coberto parcialmente pelo tersol, que deixava as imagens côncavas no lado superior direito. Para enxergar aquilo que estava coberto, ele erguia o rosto. Logo, tinha curiosidade para ver o que mais estava coberto e o erguia mais ainda. Conseqüentemente caiu muito durante sua infância, por viver caminhando com a cabeça erguida, quase tombada para trás.
Com isso viu mais coisas que todos os meninos e meninas que conheceu. Cresceu observando tudo que o cercava com uma curiosidade infantil.
Ninguém nunca o entendeu muito bem. Mesmo adulto, continuava caminhando fazendo rotações com a cabeça e registrando em sua memória a cor do teto, o formato da nuvem, o ninho do pássaro.
Um dia conheceu Guida, a menina por quem se apaixonou. Antes do noivado ela fez uma simpatia, umas bruxarias, para ver se aquela coisa sumiria do olho de seu amado (tinha uma profunda aflição daquilo). Deu certo, e ele acordou sem o tersol. Viu o seu quarto com os dois olhos bem abertos, e de repente, tudo havia perdido a graça – inclusive Guida, que agora lhe parecia feia, mais por dentro que por fora.
Danilo terminou o namoro e fez um curso de bruxaria especializando-se em tersol. Colocaria um no olho de cada pessoa que não entendesse nada da vida, e Guida foi a primeira.
A nova mamãe fez uma careta ainda pior ao ver que a portadora parecia não ir com a cara de seu pimpolho. Onde já se viu? Todos nascem com cara de joelho, pra que fazer boca de nojo?
Pegou o menino Danilo dos braços da mulher com delicadeza suficiente para não machucar o bebê, mas com determinação para que a enfermeira notasse seu desgosto.
Abriu o pacotinho para ver melhor o rosto do recém-nascido e viu a pelota.
- Ahhh!! O que é isso no olho do meu filhinho?
- É, minha senhora, um pequeno probleminha....
- O quê? Meu Deus! O quê?
- Tersol.
- Mas como pode um bebê nascer com tersol!!??
- Ah, poder pode tudo, né dona? Vai entender a providência divina...
- Não tem nada a ver com providência divina, eu quero é um médico aqui já!
O diagnóstico foi tersol de nascença. Do tipo que não sai com água boricada nem com aliança quente. Fica lá pra sempre. Pareceu muito grande só até o menino crescer. Depois, naturalmente, não cobria mais seu olho inteiro.
O pequeno Danilo foi um felizardo, porque pôde ver o mundo com outros olhos. Ou melhor, o enxergava em outro formato. Tudo era coberto parcialmente pelo tersol, que deixava as imagens côncavas no lado superior direito. Para enxergar aquilo que estava coberto, ele erguia o rosto. Logo, tinha curiosidade para ver o que mais estava coberto e o erguia mais ainda. Conseqüentemente caiu muito durante sua infância, por viver caminhando com a cabeça erguida, quase tombada para trás.
Com isso viu mais coisas que todos os meninos e meninas que conheceu. Cresceu observando tudo que o cercava com uma curiosidade infantil.
Ninguém nunca o entendeu muito bem. Mesmo adulto, continuava caminhando fazendo rotações com a cabeça e registrando em sua memória a cor do teto, o formato da nuvem, o ninho do pássaro.
Um dia conheceu Guida, a menina por quem se apaixonou. Antes do noivado ela fez uma simpatia, umas bruxarias, para ver se aquela coisa sumiria do olho de seu amado (tinha uma profunda aflição daquilo). Deu certo, e ele acordou sem o tersol. Viu o seu quarto com os dois olhos bem abertos, e de repente, tudo havia perdido a graça – inclusive Guida, que agora lhe parecia feia, mais por dentro que por fora.
Danilo terminou o namoro e fez um curso de bruxaria especializando-se em tersol. Colocaria um no olho de cada pessoa que não entendesse nada da vida, e Guida foi a primeira.
sexta-feira, setembro 09, 2005
quinta-feira, setembro 08, 2005
Quase - Luis Fernando Veríssimo
Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé move montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu !!!
Allan Sieber: Cartoon brasileiro
Ilustração para a revista Super Interessante
Capa do cd 'No Flu do Mundo' do Flu
Encarte do cd 'Miami Rock 2000'
Capa para livro da Editora Record
Santa Ceia desenhada para servir de cenário para oprograma Gema Brasil, de entrevistas e culinária
Fonte: http://talktohimselfshow.zip.net/
segunda-feira, setembro 05, 2005
Xiao Xiao part II: Multilador
(clique no título e assista a animação mais famosa do Japão estilo "Matrix")
sexta-feira, setembro 02, 2005
quinta-feira, setembro 01, 2005
Nosso Vocabulário - MILLÔR FERNANDES
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia."Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por ílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poderde definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo?Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.
Millôr Fernandes, humorista, teatrólogo e jornalista carioca
Millôr Fernandes, humorista, teatrólogo e jornalista carioca
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